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Mozart

segunda-feira 5 de fevereiro de 2024

Faz hoje duzentos anos que nasceu Wolfgang Amadeus Mozart. Eu não sou competente para dizer uma palavra sobre a sua obra, uma palavra sobre a sua vida, uma palavra sobre a interacção de ambas. Pelo contrário, poderiam as próprias palavras de Mozart, neste momento, avisarem-nos sobre o nosso caminho.

Mozart escreveu uma vez numa carta (V. «Auszuge aus Mozartbriefen», Das Musikleben, I. Jahrgang, 1. Heft, Mainz 1948): «Porventura, viajando numa carruagem, ou depois de uma boa refeição, ao passear e à noite, quando eu não posso dormir, aí é quando melhor me chegam torrencialmente os pensamentos. Aqueles que então me agradam, esses retenho-os eu na cabeça e sussurro-os com os meus botões, como outros pelo menos me disseram que faço. Se eu os agarrar, logo me chegam uns atrás dos outros, para o que seria necessário fragmentá-los, para fazer deles uma empada, segundo o contra-ponto, segundo o som dos vários instrumentos, etc. Isso exalta-me a alma, se eu não for incomodado; isso torna-se então maior e eu expando-o cada vez mais longe e mais diáfano, e a coisa fica verdadeiramente quase pronta na cabeça, mesmo quando é longa, de modo que eu a seguir, com um olhar, a posso visionär no [101] espírito por assim dizer como uma bela imagem ou uma pessoa formosa, e também não a ouço de uma forma sequencial, como depois deverá acontecer, mas como tudo igualmente em conjunto. Isto é um banquete! Tudo, o encontrar e o fazer, sucedem em mim agora num belo e enérgico sonho. Mas o ouvir por cima (uberhören), assim tudo junto, isso é que é o melhor.»

Poderão entender a razão porque menciono estas palavras, se se lembrarem do que foi dito anteriormente. O ouvir é um olhar. Este «com um olhar» «abranger» a totalidade e o «ouvir por cima, assim tudo junto» são uma e a mesma coisa.

A unidade oculta deste ter em vista e escutar define a essência do pensamento, que a nós humanos, que somos a essência pensante, nos é de confiança.

Nós entenderiamos a passagem mencionada da carta de Mozart demasiado superficial e obliquamente, se a quiséssemos apenas, interpretando psicologicamente, aceitar como uma prova para a descrição da criatividade artística. A passagem diz-nos, que Mozart foi o mais ouvinte de um entre os ouvintes, ou seja está activo (west), e portanto ainda é.

O que é a essência e o coração de Mozart, pode-nos explicar esse já uma vez ouvido, Angelus Silesius  , ao seu modo, através de um antiquíssimo pensamento. O Aforismo 366 do «Peregrino Querubínico» (V. Livro) diz: «Um coração, que é tranquilo para fundamento de Deus, como ele quer, / É tocado por ele com agrado: ele é a sua tocata de alaúde.» / O aforismo leva o título: «A tocata de alaúde de Deus». Isto é Mozart. [GA10JTM:102]