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Ankunft

quinta-feira 18 de novembro de 2021

Ankunft, advento, ad-vento, Überkommnis, sobrevento, sobrevento, ecsaiphnes

Deixamos de lado opiniões e esclarecimentos; em vez disso, fixemos nossa atenção no seguinte: em toda parte e sempre encontramos aquilo que é chamado diferença: no objeto do pensamento, no ente enquanto tal, e isto tão despojado de dúvidas, que primeiro nem tomamos conhecimento desta constatação, enquanto tal. Nada nos obriga [396] também a fazer isto. Nosso pensamento está livre para deixar impensada a diferença ou para considerá-la propriamente enquanto tal. Mas esta liberdade não vigora para todos os casos. Imprevistamente pode dar-se o fato de que o pensamento se veja chamado a enfrentar a questão: o que, pois, significa este tão falado “ser”? Mostra-se aqui imediatamente o ser como ser. . ., por conseguinte, no genitivo da diferença; então a questão anterior pode ser formulada mais objetivamente assim: que pensais da diferença, se tanto o ser como o ente, cada um a seu modo, tornam-se fenômenos emergindo da diferença? Para estarmos à altura desta pergunta, devemos primeiro colocar-nos num confronto objetivo com a diferença. Este confronto abre-se-nos se realizarmos o passo de volta. Pois somente através da distância por ele trazida se dá o próximo enquanto tal, a proximidade chega à sua primeira manifestação. Pelo passo de volta, liberamos o objeto do pensamento, o ser da diferença, para um confronto, que absolutamente pode permanecer inobjetivado.

Olhando ainda sempre a diferença e, contudo, liberando-a já pelo passo de volta para dentro do que deve ser pensado, podemos dizer: ser do ente quer dizer: ser que é o ente. O “é” fala aqui transitivamente, ultrapassando. O ser se manifesta como fenômeno ao modo de uma ultrapassagem para o ente. Contudo, o ser não passa para o outro lado, para junto do ente, deixando seu lugar, como se o ente pudesse, subsistindo primeiro sem o ser, ser apenas então abordado por ele. Ser ultrapassa (aquilo) para, sobrevêm desocultando (aquilo) que unicamente através de tal sobrevento advém como desvelado a partir de si. Advento quer dizer: ocultar-se no desvelamento; portanto, demorar-se oculto no presente: ser ente.

Ser mostra-se como sobrevento desocultante. Ente enquanto tal aparece ao modo do advento que se oculta no desvelamento. [1]

Ser no sentido do sobrevento desocultante e ente enquanto tal, no sentido do advento que se esconde, acontecem como fenômenos enquanto são assim diferenciados a partir do mesmo, a partir da di-ferença. Somente esta dá e mantém separado o “entre” em que sobrevento e advento são conservados na unidade, em que são sustentados distintos e identificados. A diferença entre ser e ente é, enquanto diferença entre sobrevento e advento, a de-cisão desocultante-ocultante de ambos. Na de-cisão impera a revelação do que se fecha e se vela; este imperar dá a separação e união de sobrevento e advento.

Enquanto procuramos considerar a diferença enquanto tal, não a conseguimos fazer desaparecer, mas a perseguimos na sua origem essencial. A caminho dela pensamos a de-cisão de sobre-vento e ad-vento. Isto é o objeto do pensamento pensado por um passo de volta mais objetivamente: ser pensado a partir da diferença. [GA11  ; MHeidegger:395-396]

VIDE Überkommnis

anúncio, chegada [GA12  ]


A língua alemã, e Heidegger, possui apenas uma palavra para o futuro: Zukunft  . Ela deriva do verbo kommen   "vir", através do substantivo relacionado a ele, Kunft, "vinda, chegada". Kunft já não existe e sobrevive apenas em compostos tais como Ankunft, "chegada", e no adjetivo künftig, "por chegar", portanto "futuro". [DH  ]

Observações

[1Heidegger procura captar a ambivalência que se oculta na di-ferença (entre ser e ente) com as palavras “sobrevento’ e “advento”. Sobrevento (Überkommnis), como acontecimento inesperado, é o ecsaiphnes (de repente) que manifesta o advento (Ankunft). O ser é o sobrevento que desoculta o ente e assim desvela aquilo que oculta: o advento do ente. Chega-se então a uma solução, que logo se torna dis-solução; por isso traduzo Austrag por de-cisão, que designa a insuprimível di-ferença entre ser e ente. Por causa disso a identidade heideggeriana ó dinâmica. O filósofo apela, quase desesperadamente, a novas formas de dizer para assinalar um estado de coisas (Sachverhalt) que tomou como tarefa para seu pensamento. Mais de um lembrará aqui a frase de Wittgenstein que encerra seu Tractatus: “Deve-se calar sobre aquilo de que não se é capaz de falar”. Não feriu, porém, Wittgenstein esta regra já ao enunciá-la?