As concepções de espaço e tempo desenvolvidas pelo início da física moderna também tornaram possível conceber o “trabalho” de uma nova maneira: como o produto da força e da direção dividido pelo tempo. Portanto, “a realidade nada mais é do que o quantum de trabalho”. [GA33: 48] O trabalho, por sua vez, passou a ser concebido na era técnica em termos de ordenação por si só, trabalho por si só. O trabalho humano e as forças da natureza foram projetados um no outro:
O nome “trabalho”, que designa a ação e o esforço humanos, foi transferido para a performance da força mecânica. O trabalho é equiparado à energia mecânica. Por outro lado, a predominância do conceito fisicalista de trabalho em seu significado essencialmente tecnológico teve efeito sobre a determinação do trabalho humano como “performance” [Leistung]. O princípio da performance é um princípio essencial da ação e do comportamento humano. [Ibid.]
Os gregos antigos concebiam a performance humana não como uma forma de “produzir” algo no sentido de fabricá-lo, mas sim como uma forma de revelar algo, deixando-o ser. O conceito grego de performance foi transformado por sua tradução para o termo latino fungere, de onde se obtém “função”, no sentido de uma performance que envolve um processo que produz um resultado. A realidade do real torna-se, assim, reduzida a seu “trabalho”, seu “desempenho”, seu “funcionamento”. Os termos que antes descreviam a atividade reveladora humana se transformaram em descrições da “atividade” dos processos naturais. Por sua vez, a atividade humana foi concebida como um caso especial desses processos.
Além disso, a antiga definição da realidade como “substância”, aquele modo independente de presença que define e “produz” um ser vivo, foi transformada pela ciência moderna na “função” de uma coisa. Um animal não é, portanto, uma entidade de autopresença, mas sim uma “função” orgânica compreensível dentro da matriz de coordenadas espaço-temporais. A concepção moderna de trabalho como função permite que as entidades sejam concebidas como quanta abstratos de energia. Essa concepção ignora a aparência externa das coisas que lhes dá uma “forma” substancial. Na era técnica, portanto, o espaço e o tempo se tornaram um sistema de coordenadas matemáticas, a estrutura de enquadramento (Rahmenbau), que organiza da maneira mais eficiente possível as funções industriais necessárias para transformar a reserva em mercadorias acabadas. [As entidades individuais desaparecem, assim, em quanta de energia que pode ser armazenada e trocada à vontade: “Agarrar e apreender são os nomes de uma vontade unificada de dominar o espaço e o tempo.” [GA53: 47] A revelação técnica das coisas, portanto, as reduz a meios funcionais com o objetivo de uma produtividade cada vez maior.
{[ZIMMERMAN, M. E. Heidegger’s Confrontation with Modernity. Technology, Politics, Art. Bloomington: Indiana University Press, 1990]}