Zarader (2001:93-100) – o horizonte do mundo

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O que é, então, o horizonte, e porque é impossível passar sem ele? Husserl propõe uma resposta dupla que, em Ideias, pode parecer uma e a mesma, mas que se tornará dupla no resto da obra. No primeiro sentido, o horizonte é pensado como o fundo de toda a experiência: o objeto da consciência implícita ou potencial, pertence de fato à vida intencional, mas de um modo inatual. Quer se trate da experiência da coisa ou da experiência do eu, “toda a atualidade implica as suas próprias potencialidades” [Husserl, Meditações Cartesianas, § 19, Hua I, p. 81-82 (tr. M. de Launay, Paris, PUF, 1994, p. 89)], isto é, o seu fundo, quer se trate de horizontes espaciais ou de horizontes temporais. Deste modo, o horizonte designa a aura de indeterminação que rodeia o objeto em questão e que é inseparável dele. Quer isto dizer que é simplesmente aquilo que está sempre co-presente ao mesmo tempo que qualquer objeto presente? Outras formulações sublinham o fato de que ele precede necessariamente o objeto, na medida em que este último só pode aparecer sendo extraído dele, isto é, destacando-se desse fundo, que é então concebido como um fundo no sentido gestáltico do termo [Cf. especialmente Idées directrices…, I, § 35, Hua III, p. 77 (tr. P. Ricoeur, Paris, Gallimard, 1950, p. 112): “Das Erfassen ist ein Herausfassen”]. Se esta diferença de ênfase é geralmente ignorada, é porque em ambos os casos, quer seja apresentado como uma aura projetada pelo objeto ou como o fundo contra o qual o objeto pode emergir, o horizonte é descrito nos mesmos termos: por um lado, é essencialmente indeterminado (“obscuramente consciente”, “nebuloso”, “geral e presuntivo” (Respectivamente ibid, § 27, p. 58-59, e Méditations cartésiennes, § 9, Hua I, p. 62), por outro lado, cada horizonte indeterminado é de direito determinável segundo círculos cada vez mais largos — embora a série permaneça aberta, e portanto inacabada. Em outras palavras, o horizonte mais estreito é traçado pelos “entorno” imediato da coisa, objetos de experiências inatuais (os livros e os lápis à volta do papel onde escrevo), mas, de entornos em entornos, diz finalmente o mundo, entendido como Umwelt [Cf. Idées…, I, § 27, Hua III, p. 58-59 (49) (trad. fr. p. 89) : Meditações Cartesianas, § 33, Hua I, p. 102 (trad. fr. p. 115)].

Original

  1. Husserl, Méditations cartésiennes, § 19, Hua I, p. 81-82 (trad. M. de Launay, Paris, PUF, 1994, p. 89).[↩]
  2. Cf. notamment Idées directrices…, I, § 35, Hua III, p. 77 (62) (trad. P. Ricoeur, Paris, Gallimard, 1950, p. 112) : « Das Erfassen ist ein Herausfassen ».[↩]
  3. Respectivement ibid., § 27, p. 58-59 (49) (trad. fr. p. 89), et Méditations cartésiennes, § 9, Hua I, p. 62 (trad. fr. p. 66).[↩]
  4. Cf. Idées…, I, § 27, Hua III, p. 58-59 (49) (trad. fr. p. 89) : Méditations cartésiennes, § 33, Hua I, p. 102 (trad. fr. p. 115).[↩]
  5. Idées…, I, § 27, Hua III, p. 59 (49) (trad. fr. p. 89).[↩]
  6. Cette simultanéité a été soulignée par P. Ricoeur, « Études sur les Méditations cartésiennes de Husserl » (1954), rééd. À l’école de la phénoménologie, Paris, Vrin, 1.993, p. 174.[↩]
  7. Husserl, Méditations cartésiennes, § 20, Hua I, p. 86 (trad. fr. p. 94).[↩]
  8. C’est l’une des principales critiques que Fink adressera à Husserl. Cf. « Monde et Histoire », in Husserl et la pensée moderne, actes du 2e Colloque international de phénoménologie, M. Nijhoff, La Haye, 1959, p. 167, ainsi que « Réflexions phénoménologiques sur la théorie du sujet », extrait d’un cours du semestre d’hiver 1951-52, trad. E Pénisson, in Le Statut du phénoménologique, revue Epokhè, n° 1, J. Millon, 1990, p. 14, où Fink oppose la « contrée » (Heidegger) à l’horizon (Husserl).[↩]
  9. E. Fink, Sixième Méditation cartésienne, Hua Dok., Kluwer Academie Publishers, 1988, p. 38 (trad. N. Depraz, Grenoble, J. Millon, 1994, p. 87).[↩]
  10. C’est la thèse soutenue par R. Bernet (La Vie du sujet, Paris, PUR 1994, notamment p. 118-138), ainsi que par K. Held (« Husserl et les Grecs », trad. R. Célis, in Husserl, Colloque international, oct. 1988, collectif publié sous la direction de E. Escoubas et M. Richir, Grenoble, J. Millon, 1989, p. 146). Elle s’esquissait déjà partiellement chez Ricœur lorsqu’il affirmait, au sujet de la structure d’horizon de la conscience : « Toute conscience actuelle se découvre débordée par un horizon de perceptibilité qui confère au monde son étrangeté et son. abondance » (/4 l’école de la phénoménologie, op. cit„ p. 14).[↩]
  11. K. Held, « Husserl et les Grecs », art cit., p. 146.[↩]
  12. C’est notamment la position de J.-L. Marion dans son dernier ouvrage (Étant donné, Paris, PUR 1998, p. 262): « La phénoménalité se trouverait prise et comprise par avance dans un horizon d’apparaître toujours-déjà vu, ou du moins visible — l’ouverture équivaudrait à une prison virtuelle, un panoptique élargi aux dimensions du monde, un panorama sans extérieur, interdisant tout surgissement authentiquement neuf. » Et c’est pourquoi il s’efforce de « libérer la donation de la limite préalable d’un horizon de phénoménalité ».[↩]
  13. On trouve un bon rappel de ce processus dans l’article de F. Volpi « Aux racines du malaise contemporain : Husserl et la responsabilité du philosophe », in Husserl (colloque oct. 1988), op. citp. 162-163.[↩]
  14. Husserl, Analysen zur passiven Synthesis, Hua XI, Beilage XXII, p. 424. Ce passage étonnant est remarqué et commenté par M. Richir, « Synthèse passive et temporalisation/spatialisation », in Husserl, colloque oct. 1988, op. cit., p. 32.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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