Wrathall (2013:190-192) – projeção [Entwurf]

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(…) Mas o que quer Heidegger dizer com “projeção”? “No seu caráter projetivo, a compreensão constitui existencialmente aquilo a que chamamos a visão do Dasein” (SZ:146; tradução modificada). Como uma espécie de “visão”, isto é, um modo de acesso a entidades, a projeção deve ser entendida na sua diferenciação de outras formas de visão, em particular tanto a introspecção como aquilo a que Heidegger por vezes chama “percepção pura” ou “apreensão pura”. A apreensão pura é a percepção despojada de todas as avaliações ou objetivos que são peculiares ao perceptor. É uma visão que termina no objeto e revela os seus objetos “como em si mesmos já ocorridos, como encontrados por si mesmos por sua própria conta” (GA24:167, tradução modificada). A compreensão como projeção “priva a intuição pura da sua prioridade” (147; tradução modificada). A “projeção”, ao contrário da percepção pura, não termina num objeto, mas “desvela sem tornar o que é desvelado como tal num objeto de contemplação” (GA24: 398). “O que é mais próprio desta atividade e desta ocorrência”, isto é, da projeção, “é o que se exprime linguisticamente no prefixo ‘pro-‘, a saber, que ao projetar, esta ocorrência de projeção leva o projetante para fora e para longe de si mesmo de uma certa maneira” (GA29-30:527). E ao ir para fora, a projeção transporta-nos para além do “objeto” da percepção e para a sua interação com outras coisas. Pensemos num projetor de cinema. Vemos um filme projetado, não olhando para o filme, mas precisamente desviando o olhar dele para o padrão que faz quando é iluminado e lançado sobre outra coisa.

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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