wesen
présenter à notre disposition
continue; endure
prevalecer
Assim, no utensílio, que se dá e propõe no culto, regem e vigem quatro modos de dever e responder. [GA7 15]
[…] Dar-se e propor-se (hypokeisthai) designam a vigência de algo que está em vigor. É que os quatro modos de responder e dever levam alguma coisa a aparecer. Deixam que algo venha a viger. Estes modos soltam algo numa vigência e assim deixam viger, a saber, em seu pleno advento. No sentido deste deixar, responder e dever são um deixar-viger. A partir de uma visão da experiência grega de responder e dever, de aitia, portanto, damos aqui à expressão deixar-viger um sentido mais amplo, de maneira que ela evoque a essência grega da causalidade. O significado corrente e restrito da expressão deixar-viger diz, ao contrário, apenas oferecer oportunidade e ocasião, indicando assim uma espécie de causa secundária e sem importância no concerto total da causalidade.
Onde, porém, se joga o jogo de articulação dos quatro modos de deixar-viger? Eles deixam chegar à vigência o que ainda não vige. Com isto, são regidos e atravessados, de maneira uniforme, por uma condução que conduz o vigente a aparecer. Platão nos diz o que é essa condução numa sentença do Banquete (205b): (sentença em grego). “Todo deixar-viger o que passa e procede do não-vigente para a vigência é poiesis, é pro-dução”. [GA7 15]
[…]Pois o vigente physei tem em si mesmo (en eauto) o eclodir da pro-dução.
[…]
[…] O deixar-viger concerne à vigência daquilo que, na pro-dução e no pro-duzir, chega a aparecer e apresentar-se.
[…] A técnica vige e vigora no âmbito onde se dá descobrimento e des-encobrimento, onde acontece aletheia, verdade. [GA7 16]
A palavra “dis-ponibilidade” se faz agora o nome de uma categoria. Designa nada mais nada menos do que o modo em que vige e vigora tudo que o desencobrimento explorador atingiu. No sentido da dis-ponibilidade, o que é já não está para nós em frente e defronte, como um objeto. [GA7 20]
Por isso, des-vendando o real, vigente com seu modo de estar no desencobrimento, o homem não faz senão responder ao apelo do desencobrimento, mesmo que seja para contradizê-lo. [GA7 22]
O verbo “pôr” (stellen), inscrito no termo com-posição, “Gestell”, não indica apenas a exploração. Deve também fazer ressoar o eco de um outro “pôr” de onde ele provém, a saber, daquele pro-por e ex-por que, no sentido da poiesis, faz o real vigente emergir para o desencobrimento. [GA7 24]
E sobretudo nunca chega tarde e atrasada a questão se e de que modo nós nos empenhamos no processo em que a própria com-posição vige e vigora. [GA7 27]
É do verbo “we-sen”, viger, que provém o substantivo vigência. Wesen, essência, em sentido verbal de vigência, é o mesmo que “wahren”, durar e não apenas no sentido semântico, como também na formação fonológica. Já Sócrates e Platao pensaram a essência de uma coisa, como a vigência, no sentido de duração. Mas eles pensaram o duradouro, como o que sempre é e perdura (aei on). O que sempre per-dura, eles o encontraram no que permanece em tudo o que ocorre e se dá. Esta permanência, eles a encontraram na estrutura (eidos, idea) do perfil, por exemplo, na ideia de “casa”.
[…]
Todo vigente dura. Mas será mesmo que só é duradouro o que perdura e permanece? Será mesmo que a essência da técnica vige no sentido da duração de uma ideia que paira acima de tudo que é técnico, a ponto de se formar a aparência: o termo “a técnica” é uma abstração mítica? Ora, só se pode perceber, como vige a técnica, pela continuidade da duração em que a com-posição se dá e acontece em sua propriedade, no envio de um descobrimento. [GA7 33]
Como vigência da técnica, a com-posição é o que dura. Esta duração age no sentido de uma concessão? Já a pergunta parece uma evidente mancada. Pois a com-posição é, de fato, segundo tudo que ficou dito, um envio, que reúne e concentra no desencobrimento da exploração. E ex-ploração é qualquer coisa menos conceder. É o que parece enquanto não levarmos em conta que mesmo o desafio da exploração, que leva dis-por-se do real, como dis-ponibilidade continua sendo sempre um envio que põe o homem no caminho de um desencobrimento. Na condição de destino, a vigência da técnica im-põe ao homem entrar no que ele mesmo não pode por si mesmo nem inventar e nem fazer; é que não há algo assim, como um homem, que, exclusivamente por si mesmo, fosse tão homem. [GA7 34]
Assim, a vigência da técnica guarda em si o que menos esperamos, uma possível emergência do que salva.
Por isso, tudo depende de pensarmos esta emergência e a protegermos com a dádiva do pensamento. E como é que isto se dá? Sobretudo, percebendo o que vige na técnica, ao invés de ficar estarrecido diante do que é técnico. […]
Questionando, porém, o modo em que a instrumentalidade vigora numa espécie de causalidade, faremos a experiência do que vige na técnica, como destino de um desencobrimento.
Pensando, por fim, que o vigente de toda essência se dá no que se concede e que este carece da participação do homem no des-encobrir-se do desencobrimento, então se mostra que:
A essência da técnica é de grande ambigüidade. Uma ambigüidade que remete para o mistério de todo desencobrimento, isto é, da verdade.
[…]
A questão da técnica é a questão da constelação em que acontece, em sua propriedade, em desencobrimento e encobrimento, a vigência da verdade. [GA7 35]
A vigência da técnica ameaça o desencobrimento e o ameaça com a possibilidade de todo des-encobrir desaparecer na dis-posição e tudo apresentar apenas no des-encobrimento da dis-ponibilidade. [GA7 36]
[…] O poético atravessa, com seu vigor, toda arte, todo desencobrimento do que vige na beleza.
[…]
Questionando assim, damos testemunho da indigência de, com toda técnica, ainda não sabermos a vigência da técnica, de, com tanta estética, já não preservarmos a vigência da arte. [GA7 37]