Vezin (ET:524-525) – “ser-o-aí”

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Uma vez que o próprio Heidegger está consciente do problema com que estamos a lidar (tradução de Dasein), e está a entrar no coração do debate para proscrever o ser-aí, que mais podemos fazer senão recorrer a ele? O que é que ele tem a dizer, ou mesmo a propor, sobre um ponto tão decisivo? A sua intervenção histórica está contida em duas linhas da sua carta a Jean Beaufret, de 23 de novembro de 1945: “Da-sein significa para mim, se me é permitido dizê-lo num francês talvez impossível: être-le-là”. Não deveria então Dasein ser traduzido por ser-aí? Examinemos cuidadosamente esta valiosa sugestão.

O primeiro ponto a considerar aqui seria talvez a intenção com que Heidegger terá escrito isto ao seu (futuro) amigo. Teria ele próprio a intenção de fornecer aos franceses a boa tradução que lhes falta? Como é que devemos entender a sua atitude nesta matéria? Por um lado, ele não é alheio à disputa em torno da palavra Dasein e, como leitor de Descartes, Pascal, Leibniz, Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé (e em breve René Char), está em posição de ter as suas próprias ideias sobre o assunto. Devemos evidentemente (524) notar a prudência com que avança a locução être-le-là, pressentindo que se trata de um francês “talvez impossível”. Mas, por outro lado, nem em 1945 nem nos trinta anos que se seguiram o vimos inclinado a tomar o lugar dos tradutores das suas obras e, mesmo neste caso crucial, nunca perdeu a distância e a reserva inspiradas pelo seu profundo respeito pela língua francesa. Vejamos, no entanto, o que être-le-là pode oferecer como “possível” tradução do Dasein.

original

  1. C’est à cette valeur transitive que se réfère la mention du « génitif objectif » dans l’apostille c de la p. 42.[↩]
  2. Dialogue avec Heidegger, t.1, p. 15.[↩]
  3. Nouveaux Essais sur l’entendement humain, II, 22, §6.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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