Vallin (EI:52-57) – a encarnação abstrata e as relações entre essência e existência

destaque

A presença no mundo que dá origem à temporalidade objectivante baseia-se numa corporização que descreveremos como abstrata. É evidente que a subjetividade objectivante que vimos não é intemporal, nem “desencarnada”. Está necessariamente unida a um corpo que medeia a sua transcendência para o mundo. Mas a sua relação com o corpo é tal que a subjetividade não é rigorosamente individualizada pela sua corporização. O corpo como centro e sinal da incorporação ou do envolvimento da subjetividade objectivante no mundo não a afecta com um carácter irredutível de singularidade, mas constitui simplesmente o instrumento do seu poder sobre o mundo. Longe de o isolar num ponto móvel do espaço que o condenaria a uma individualização radical, o corpo é aqui o meio pelo qual ele se transcende para a totalidade infinita do espaço do mundo, o meio pelo qual ele pode perceber o mundo que se estende neste espaço como uma realidade objetiva acessível em princípio a toda a subjetividade humana. Estas observações ajudar-nos-ão a esclarecer o sentido que devemos dar à vontade de poder que caracteriza a subjetividade objetivante. Não se trata de um poder rigorosamente individual, isto é, que emana de um sujeito que é verdadeiramente um ser individual; este poder é simplesmente individualizado, isto é, manifesta-se num corpo singular que pode ser objetivamente localizado no espaço; mas o fato de estar encarnado num corpo particular não faz parte da essência da sua encarnação e do seu envolvimento com o mundo. Aqui, a subjetividade é simplesmente individualizada, mas não é realmente individual, ou melhor, um ser individual.

original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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