Tugendhat (1970) – a verdade e o conhecimento da verdade

(Ernst Tugendhat, Der Wahrheitsbegriff bei Husserl und Heidegger, 2 ed. inalterada. Berlim: Walter de Gruyter & Co., 1970, p. 1.)

Em contraste com as reconstruções idealizadoras e teorizadoras exageradas a que se entregou a tradição metafísica, agora são a “práxis”, a “existência” e o “interesse” que aparecem como a característica fundamental da vida humana. Enquanto o ceticismo da Antiguidade e do início dos tempos modernos contentava-se em formular dúvidas sobre a questão de saber se existe a verdade, e, caso exista, se ela é cognoscível, já agora, desde Marx e Nietzsche, o sentido da verdade e da orientação sobre a verdade e o próprio comportamento teórico é que são questionados, enquanto condicionados por outras necessidades de natureza prática. O que a verdade e o conhecimento da verdade querem dizer pode ser compreensível, quando se trata de enunciados factuais elementares e de suas combinações conforme as regras da lógica das proposições. Mas os contextos mais englobantes em que os integramos afiguram-se determinados por interesses histórico-práticos, e não está claro o que quereria dizer a formulação de perguntas sobre a verdade desses próprios interesses. Por conseguinte, também não é claro o que ainda significaria situar a vida humana, tomada em sua globalidade, na perspectiva da verdade. E, mesmo que isso fosse uma coisa clara, podemos agora duvidar, com Nietzsche, de que tal subordinação de todos os outros interesses ao interesse pela verdade seja desejável. Entretanto, mesmo que também não duvidemos disso, ainda assim aprendemos, desde Marx e Freud, a ver a que ponto nosso interesse pela não-verdade foi originário, tão originário que dá a impressão de anexar, igualmente, a própria pretensa vontade de verdade. No entanto, se a filosofia não consegue dar a si mesma uma nova concepção da possibilidade de uma orientação do conjunto da vida humana em função da verdade, levando em conta essas novas pressuposições, então, patentemente, ela suprime a si mesma.

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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