temporale
Se o ser deve ser concebido a partir do tempo, e os diversos modos e derivados de ser, em suas modificações e derivações, só são, com efeito, compreensíveis na perspectiva do tempo, o que então se mostra é o próprio ser, e não apenas o ente, enquanto sendo e estando “no tempo”, em seu caráter “temporal”. Desse modo, “tempo” não mais poderá dizer apenas “sendo e estando no tempo”. Também o “não temporal”, o “atemporal” e o “supratemporal” são, em seu ser, “temporais”. E isso não apenas no modo de uma privação do ente “temporal”, entendido como “sendo e estando no tempo”, mas num sentido positivo que, naturalmente, ainda se deverá esclarecer. Como a expressão “temporal” é usada tanto na linguagem pré-filosófica como na linguagem filosófica no sentido indicado, e como, por outro lado, essa expressão é tomada na presente investigação em outro sentido, denominaremos a determinação originária do sentido de ser e de seus modos e caracteres a partir do tempo de determinação TEMPORÂNEA (temporale Bestimmtheit). A tarefa ontológica fundamental de uma interpretação originária do sentido de ser inclui, portanto, a elaboração da temporaneidade de ser (Temporalität des Seins). É na exposição da problemática da temporaneidade que se há de dar uma resposta concreta à questão sobre o sentido de ser. STMSC: §5
A problemática da ontologia grega, bem como de toda ontologia, deve ser orientada pela própria presença [Dasein]. Tanto em sua definição vulgar como em sua “definição” filosófica, a presença [Dasein], isto é, o ser do homem, caracteriza-se como zoon logon echon, o ser vivo cujo modo de ser é, essencialmente, determinado pela possibilidade de falar. O legein (cf §7 B) fornece a orientação para que se obtenham as estruturas ontológicas dos entes que nos vêm ao encontro nos dizeres e discussões. É por isso que a ontologia antiga, elaborada por Platão, torna-se uma “dialética”. Com o progresso da elaboração dessa orientação ontológica, isto é, da “hermenêutica” do logos, aumenta a possibilidade de uma apreensão mais radical do problema do ser. A “dialética”, que constituía uma verdadeira perplexidade filosófica, torna-se então supérflua. É também por isso que Aristóteles já não possui “nenhuma compreensão” para ela. É que Aristóteles a elevou para um plano muito mais radical e, assim, a superou. O próprio legein ou noein, a simples percepção de algo simplesmente dado, que já Parmênides havia tomado como guia na interpretação de ser, possui a estrutura TEMPORÂNEA da pura “atualização” (Gegenwärtigens) de uma coisa. O ente que se manifesta nessa atualização e que é entendido como o ente próprio é, portanto, interpretado com referência ao atualmente presente, ou seja, concebido como vigência (ousia). STMSC: §6
No quadro da elaboração fundamental da questão do ser não se poderá transmitir uma interpretação TEMPORÂNEA detalhada dos fundamentos da antiga ontologia – sobretudo em seu grau mais puro e elevado, alcançado por Aristóteles. Ao invés disso, ela proporcionará uma interpretação do tratado de Aristóteles sobre o tempo. Essa análise pode ser escolhida como critério discriminador (Diskrimen) das bases e limites da antiga ciência do ser. STMSC: §6
A abertura do pre [das Da] da presença [Dasein] no compreender é ela mesma um modo do poder-ser da presença [Dasein]. A abertura do ser em geral {CH: como ela está aí e o que significa ser?} consiste na projeção do ser da presença [Dasein] para o em virtude de e para a significância (mundo). No projetar de possibilidades já se antecipou uma compreensão de ser. Ser é compreendido {CH: não significa, porém, que o ser “seja” por graça do projeto} no projeto e não concebido ontologicamente. O ente que possui o modo de ser do projeto essencial de ser-no-mundo tem a compreensão de ser como um constitutivo de seu ser. O que anteriormente foi suposto de forma dogmática recebe agora sua demonstração a partir da constituição de ser em que a presença [Dasein] como um compreender é o seu pre [das Da]. Dentro dos limites dessa investigação, só se poderá alcançar um esclarecimento satisfatório do sentido existencial dessa compreensão de ser com base na interpretação TEMPORÂNEA de ser. STMSC: §31