SZ:55-56 – fatualidade e facticidade

Castilho

O “ser junto” ao mundo como existenciário nunca significa algo assim como coisas que meramente sobrevêm juntas como subsistentes. Não se dá algo assim como “o estar-um-ao-lado-do-outro” de um ente denominado “Dasein” e de outro ente denominado “mundo”. E certo que o estarem juntas duas coisas subsistentes nós costumamos exprimir dizendo, por exemplo, que “a mesa está ‘junto’ à porta, a cadeira’ ‘toca’ a parede”. Rigorosamente, nunca se pode falar aqui de “tocar”, não decerto porque afinal, após um exame mais exato, é sempre possível constatar um espaço intervalar entre a cadeira e a parede, mas porque a cadeira por princípio não pode tocar a parede, mesmo não havendo espaço intermediário. Um pressuposto para que isso viesse a se dar seria que a parede pudesse vir de encontro “para” a cadeira. Um ente só pode tocar outro ente subsistente dentro do mundo se tem por natureza o modo-de-ser do ser-em – se, com seu ser-“aí”, algo assim como um mundo já lhe é descoberto a partir do qual um ente possa se manifestar no contato, para assim se tornar acessível em sua subsistência. Dois entes que subsistem dentro do mundo e que, além disso, são em si mesmos desprovidos-de-mundo nunca podem se tocar, nenhum deles pode ser junto ao outro. O acréscimo “são além disso desprovidos de mundo” não pode ser omitido, pois também um ente que não é desprovido-de-mundo, por exemplo, o Dasein ele mesmo é subsistente “em” o mundo, e para falar de modo mais preciso: com certo direito ele pode ser apreendido, dentro de certos limites, só como subsistente. Para isso é necessário fazer total abstração, ou seja, não ver a constituição existenciária do ser-em necessário. Entretanto, essa possível apreensão do “Dasein” como um subsistente e que não faz senão subsistir não deve ser confundida com um modo de “subsistência” que é próprio exclusivamente do Dasein. Essa subsistência não é acessível se se faz abstração das específicas estruturas-do-Dasein, mas somente o é no prévio entendimento delas. O Dasein entende o seu ser mais-próprio, no sentido de uma certa “subsistência fatual” (Cf. §29 (art36)). E, no entanto, a “fatualidade” dos fatos do próprio Dasein é de fundamento ontologicamente diverso da ocorrência de uma espécie mineral. A fatualidade do Faktum Dasein, como o modo em que todo Dasein é cada vez, nós a denominamos factualidade. A complicada estrutura dessa determinidade-do-ser só pode ser apreendida ela mesma como problema, à luz das já elaboradas constituições-fundamentais existenciárias do Dasein. O conceito da factualidade contém em si: o ser-no-mundo de um ente “do-interior-do-mundo”, de tal modo que esse ente pode se entender como preso em seu “destino” ao ser do ente que-lhe-vem-de-encontro no interior de seu próprio mundo. [STFC:175, 177]

Schuback

Vezin

Macquarrie

Original

  1. Cf. § 29 (art36), p. 193s.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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