SZ:401-403 – A alma de toda filosofia é a paideia

Castilho

A clara penetração no caráter-fundamental da história como “virtualidade”, Yorck a obteve do conhecimento do caráter-de-ser do Dasein humano ele mesmo, não, portanto, precisamente por epistemologia do objeto da consideração-da-história: “Que a totalidade do que nos é dado psicofisicamente não é (ser = subsistência da natureza — observação de Heidegger), mas, ao contrário, vive, é o ponto seminal da historicidade. E uma reflexão-sobre-si dirigida não a um eu abstrato, mas ao pleno do meu si-mesmo, me encontrará determinado por conhecimento-histórico do mesmo modo como a física me conhece cosmicamente determinado. Precisamente como sou natureza, sou também história (…)” (p. 71). E Yorck, que põe a descoberto todas as inautênticas “determinações-de-relação” e todos os relativismos “sem solo”, não hesita em tirar a última consequência de sua penetração na historicidade do Dasein: “Mas, por outro lado, uma sistemática que se isola do conhecimento-histórico é metodologicamente inadequada em relação à historicidade interna da consciência-de-si. Assim como a fisiologia não pode fazer abstração da física, a filosofia — precisamente quando é crítica — não pode fazê-lo da historicidade (…). O comportamento do si-mesmo e a (1085) historicidade estão entre si como a respiração e a pressão atmosférica, e — o que pode soar em certa medida como um paradoxo — a não-historicização da filosofia me parece em relação ao método como um resto metafísico” (p. 69). “Porque filosofar é viver, há por isso, na minha opinião — não se assuste o senhor —, uma filosofia da história — quem poderá escrevê-la!” “Não decerto da maneira como foi concebida e foi tentada até agora, contra o que o senhor se declarou de modo irrefutável. As questões até agora formuladas eram precisamente falsas, mais do que isso, eram impossíveis, mas não são as únicas. Por isso, de agora em diante, não pode haver nenhum filosofar efetivamente real que não seja conhecimento-histórico. A separação de filosofia sistemática e sua apresentação histórica é incorreta em sua essência” (p. 251). “O poder-tornar-se-prática é certamente o fundamento de direito próprio de toda ciência. Mas a prática matemática não é a única. A finalidade prática do nosso ponto de vista é a pedagógica, no sentido mais amplo e profundo da palavra. É a alma de toda verdadeira filosofia e a verdade de Platão e de Aristóteles” (pp. 42 ss.). “O senhor sabe o que sustento sobre a possibilidade de uma ética como ciência. Entretanto sempre se pode fazer algo melhor. Para quem são propriamente tais livros? Arquivos e mais arquivos! O único digno de nota é o impulso de ir da física para a ética” (p. 73). “Se se concebe a filosofia como manifestação de vida, não como expectoração de um pensar sem solo, que aparece sem solo porque o olhar se desviou do solo-da-consciência, então a tarefa, além de magra em resultados, é também complicada e árdua em sua execução. A liberdade-de-preconceito é a pressuposição e já está difícil de obter” (p. 250). (

Que Yorck ele mesmo se tenha posto a caminho para apreender categorialmente o conhecimento-histórico em oposição ao ôntico (ocular) e elevar “a vida” a um adequado entendimento científico, é o que se torna claro pela indicação da (1087) espécie de dificuldade de tais investigações: o modo-de-pensar estético-mecanicista “encontra mais facilmente a expressão vocabular, dada a ampla provenienda das palavras de origem ocular, do que uma análise que retrocede para aquém da intuição… Ao oposto, o que tende a penetrar no fundamento do vivo é refratário a uma exposição exotérica, de onde resulta, pois, que toda a sua terminologia não possa ser comumente entendida, sendo simbólica e inevitável. Da espécie particular do pensamento filosófico deriva a particularidade de sua expressão linguística” (pp. 70 ss.). “Mas o senhor conhece minha predileção pelo paradoxo, que justifico porque o paradoxal é um sinal que marca a verdade e porque a communis opinio nunca está com certeza na verdade, como o precipitado elementar de um semientendimento generalizante cuja relação com a verdade é a do vapor sulfuroso que o raio deixa para trás. A verdade nunca é elemento. Uma tarefa pedagógica do Estado seria a de dissipar a opinião pública elementar, possibilitando ao máximo a formação pela educação da individualidade do ver e do considerar. Então, ao invés da denominada consciência pública — exteriorização radical da consciência —, havería de novo consciências individuais, isto é, a consciência prevalecería” (pp. 249 ss.). (p. 1085, 1087)

Schuback

Vezin

Macquarrie

Original

  1. Yorck’s text reads as follows: ‘Das die gesammte psychophysische Gegebenheit nicht ist sondern lebt, ist der Keimpunkt der Geschichtlichkeit’. Heidegger plausibly changes ‘Das’ to ‘. . . dass’ in the earlier editions, to ‘Dass’ in the later ones.[↩]
  2. Yorck is here discussing Lotze and Fechner, and suggestiong that their ‘rare talent for expression’ was abetted by their ‘aesthetico-mechanistic way of thinking’, as Heidegger calls it. The reader who is puzzled by the way Yorck lumps together the ‘aesthetic’, the ‘mechanistic’, and the ‘intuitive’, should bear in mind that here the words ‘aesthetic’ and ‘intuition’ are used in the familiar Kantian sense of immediate sensory experience, and that Yorck thinks of ‘mechanism’ as falling entirely within the ‘horizon’ of such experience without penetrating beyond it.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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