SZ:298-299 – Dasein na verdade e na não-verdade

Schuback

A decisão não desprende a presença, enquanto ser-si-mesmo mais próprio, de seu mundo, ela não a isola num eu solto no ar. E como poderia, se a presença, no sentido de abertura própria, nada mais é propriamente do que ser-no-mundo? A decisão traz o si-mesmo justamente para o ser que sempre se ocupa do que está à mão e o empurra para o ser-com da preocupação com os outros.

A presença decidida se liberta para seu mundo a partir daquilo em virtude de que o poder-ser se escolhe a si mesmo. Somente a decisão de si mesma coloca a presença na possibilidade de, sendo com outros, se deixar “ser” em seu poder-ser mais próprio e, juntamente com este, abrir a preocupação liberadora e antecipadora. A presença decidida pode tornar-se “consciência” dos outros. Somente (379) a partir do ser si-mesma mais próprio da decisão é que brota a convivência em sentido próprio. Esta não brota nem dos compromissos ambíguos e invejosos das alianças tagarelas características do impessoal e nem de qualquer coisa que, impessoalmente, se queira empreender.

De acordo com sua essência ontológica, a decisão é sempre decisão de uma determinada presença fática. A essência desse ente é sua existência. Decisão só “existe” enquanto a decisão que se projeta num compreender. Mas em virtude de que a presença se decide na decisão? Para que ela deve se decidir? Somente o decisivo pode dar a resposta. Seria uma total incompreensão do fenômeno da decisão pretender que ele seja meramente um apoderar-se das possibilidades apresentadas e recomendadas. O decisivo é justamente o projeto e a determinação que abrem as possibilidades faticamente dadas a cada vez. A indeterminação que caracteriza cada poder-ser faticamente lançado da presença pertence necessariamente à decisão. A decisão só está segura de si enquanto o decisivo. Mas a indeterminação existenciária da decisão, que só se determina no decisivo, também possui sua determinação existencial.

É na existencialidade da presença, como um poder-ser no modo da preocupação em ocupações, que se prelineia, ontologicamente, o para quê da decisão. Todavia, enquanto cura, a presença se determina por facticidade e decadência. Aberta em seu “pre”, ela se mantém, de modo igualmente originário, na verdade e na não-verdade1. “Propriamente” isso vale justamente para a decisão enquanto verdade própria. Ela se apropria propriamente da não-verdade. A presença já está e, talvez sempre esteja, na indecisão. Esse termo designa apenas o fenômeno já interpretado como abandono à interpretação predominante do impessoal. A presença é “vivida” como o impessoal-si-mesmo pela ambiguidade do senso comum, característica do público em que ninguém se decide e que, no entanto, já sempre incide. A decisão significa deixar-se receber o apelo a partir da perdição no impessoal. A indecisão do impessoal permanece também predominante, embora não seja capaz de alcançar a existência decidida. Enquanto conceito inverso à decisão em sua (380) compreensão existencial, a indecisão não significa uma qualidade ôntica e psíquica, no sentido de sobrecarga de repressões. O decisivo também continua referido ao impessoal e a seu mundo. A possibilidade disto ser compreendido depende do que se abre na decisão, já que só a decisão propicia à presença a transparência própria. Na decisão está em jogo o poder-ser mais próprio da presença que, lançado, só pode projetar-se para possibilidades faticamente determinadas. O decisivo não se retira da “realidade” mas descobre o faticamente possível, a tal ponto que o apreende como o poder-ser mais próprio, possível no impessoal. A determinação existencial da presença decidida a cada possibilidade abrange os momentos constitutivos do fenômeno existencial, até agora desconsiderado, que chamamos de situação. (p. 379-381)

Castilho

Rivera

Macquarrie

Original

  1. Cf. § 44 b, p. 294.[↩][↩]
  2. Cf. § 44 b, p. 242.[↩]
  3. ‘Aber woraufhin erschliesst sich das Dasein in der Entschlossenheit? Wozu soll es sich entschliessen ?’ (For similar constructions with ‘woraufhin’ etc. and ’ersohliessen’, see H. 141, 143, 145 above.)[↩]
  4. ‘Das Dasein wird als Man-selbst von der verständigen Zweideutigkeit der Öffentlichkeit “gelebt”, in der sich niemand entschliesst, und die doch schon immer beschlossen hat.’ The etymological connection between ‘entschliesst’ and ‘beschlossen’ is lost in our translation.[↩]
  5. Vgl. § 44 b, S. 222.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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