Castilho
Falatório, curiosidade e ambiguidade caracterizam o modo em que o Dasein é cotidianamente o seu “aí”, o qual é a abertura do ser-no-mundo. Esses caracteres, como determinidades existenciárias, não são subsistentes no Dasein, mas constituem o seu ser. Neles e em sua conexão conforme-ao-ser, desvenda-se um modo-de-ser fundamental do ser da cotidianidade, a que damos o nome de o decair do Dasein.
O termo, que não expressa nenhuma avaliação negativa, deve significar: o Dasein, de pronto e no mais das vezes, é junto ao “mundo” da ocupação. Esse absorver-se junto a… tem usualmente o caráter do estar-perdido na publicidade de a-gente. O Dasein, como poder-ser si-mesmo próprio, já sempre desertou de si mesmo, decaindo no “mundo”. O ser do decair no “mundo” significa ser-absorvido no ser-um-com-o-outro, na medida em que este é conduzido por falatório, curiosidade e ambiguidade. O que denominamos a impropriedade 1 do Dasein experimenta agora, pela interpretação do decair, uma determinação mais rigorosa. Mas impróprio e não-próprio de modo algum significa “propriamente não”, como se com esse modus-de-ser o Dasein perdesse em geral o seu ser. Impropriedade não significa algo semelhante a já-não-ser-no-mundo, pois constitui precisamente o contrário, a saber, um assinalado ser-no-mundo completamente tomado pelo “mundo” e pelo Dasein-com com os outros em a-gente. O não-ser-si-mesmo tem a função de uma possibilidade positiva do ente que, essencialmente ocupado, é absorvido em um mundo. Esse não-ser deve ser concebido como o imediato modo-de-ser em que no mais das vezes o Dasein se mantém. (p. 493)
A falação, a curiosidade e a ambiguidade caracterizam o modo em que a presença realiza cotidianamente o seu “pre”, a abertura de ser-no-mundo. Como determinações existenciais, essas características não são algo simplesmente dado na presença, constituindo também o seu ser. Nelas e em seu nexo ontológico, desvela-se um modo fundamental de ser da cotidianidade que denominamos com o termo decadência da presença.
Este termo não exprime qualquer avaliação negativa. Pretende apenas indicar que, numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, a presença está junto e no “mundo” das ocupações. Este empenhar-se e estar junto a… possui, frequentemente, o caráter de perder-se no caráter público do impessoal. Por si mesma, em seu próprio poder-ser si mesmo mais autêntico, a presença já sempre caiu de si mesma e decaiu no “mundo”. Decair no “mundo” indica o empenho na convivência, na medida em que esta é conduzida pela falação, curiosidade e ambiguidade. O que anteriormente denominamos de impropriedade da presença recebe agora, com a interpretação da decadência, uma determinação mais precisa. Impróprio e não próprio não significam, de forma alguma, “propriamente não”, no sentido de a presença perder todo o seu ser nesse modo de ser. Impropriedade também não diz não mais ser e estar no mundo. Ao contrário, constitui justamente um modo especial de [240] ser-no-mundo em que é totalmente absorvido pelo “mundo” e pela co-presença dos outros no impessoal. Não ser ele mesmo é uma possibilidade positiva dos entes que se empenham essencialmente nas ocupações de mundo. Deve-se conceber esse não-ser como o modo mais próximo de ser da presença, o modo em que, na maioria das vezes, ela se mantém. (p. 239-240)
Habladuría, curiosidad y ambigüedad caracterizan la manera como el Dasein es cotidianamente su “Ahí”, es decir, la aperturidad del estar-en-el-mundo. En cuanto [197] determinaciones existenciales, estos caracteres no son algo que está-ahí en el Dasein, sino que contribuyen a constituir su ser. En ellos y en su conexión de ser se revela un modo fundamental del ser de la cotidianidad, que nosotros llamamos la caída [Verfallen] del Dasein.
Este término no expresa ninguna valoración negativa; su significado es el siguiente: el Dasein está inmediata y regularmente en medio del “mundo” del que se ocupa. Este absorberse en… tiene ordinariamente el carácter de un estar perdido en lo público del uno. Por lo pronto, el Dasein ha desertado siempre de sí mismo en cuanto poder-ser-sí-mismo propio, y ha caído en el “mundo”. El estado de caída en el “mundo” designa el absorberse en la convivencia regida por la habladuría, la curiosidad y la ambigüedad. Lo que antes hemos llamado impropiedad del Dasein 2 recibirá ahora una determinación más rigurosa por medio de [SZ:176] la interpretación de la caída. Sin embargo, im-propio o no-propio no debe ser entendido en modo alguno a la manera de una simple negación, como si en este modo de ser el Dasein perdiera pura y simplemente su ser. La impropiedad no mienta una especie de no-estar-ya-en-el-mundo, sino que ella constituye, por el contrario, un modo eminente de estar-en-el-mundo, en el que el Da-sein queda enteramente absorto por el “mundo” y por la coexistencia de los otros en el uno. El no-ser-sí-mismo representa una posibilidad positiva del ente que, estando esencialmente ocupado, se absorbe en un mundo. Este no-ser debe concebirse como el modo de ser inmediato del Dasein, en el que éste se mueve ordinariamente. (p. 197-198)
On-dit, curiosité et équivoque caractérisent les manières qu’a le Dasein d’être quotidiennement son « là », l’ouvertude de l’être-au-monde. Ces caractères étant des déterminations existentiales, ils ne sont pas là-devant sur le Dasein, ils concourent à en constituer l’être. En eux et en l’être d’un seul tenant qui est le leur se révèle un genre d’être fondamental pour la quotidienneté que nous nommons le dévalement du Dasein.
Le terme, qui n’exprime aucun jugement de valeur négatif, va signifier ceci : le Dasein est d’abord et le plus souvent après le « monde » dont il se préoccupe. Cet y-être-absorbé a le plus souvent le caractère de l’être-perdu dans la publicité du on. Le Dasein est de lui-même, en tant que pouvoir être soi-même qu’il a en propre, d’emblée toujours déjà retombé et dévalé à même le « monde ». Être dévalé en plein « monde », cela veut dire être plongé dans l’être-en-compagnie pour autant que celui-ci se trouve sous la conduite du on-dit, de la curiosité et de l’équivoque. Ce que nous avons nommé l’impropriété du Dasein 3 va, grâce à l’interprétation du dévalement, se trouver maintenant précisé dans sa détermination. Mais [SZ:176] impropre et non-propre, cela ne signifie pas du tout n’être « proprement pas », comme si, avec ce mode d’être, le Dasein allait perdre tout son être. L’impropriété équivaut si peu à ne-plus-être-au-monde qu’elle constitue précisément un être-au-monde insigne, celui qui est complètement accaparé par le « monde » et la coexistence des autres dans le on. Ne-pas-être-soi prend la fonction d’une possibilité positive de l’étant qui, essentiellement adonné à la préoccupation, ne fait qu’un avec un monde. Ce ne-pas-être doit se concevoir comme le genre d’être le plus proche du Dasein, celui dans lequel il se tient le plus souvent. (p. 223)
Idle talk, curiosity and ambiguity characterize the way in which, in an everyday manner, Dasein is its ‘there’ — the disclosedness of Being-in-the-world. As definite existential characteristics, these are not present-at-hand in Dasein, but help to make up its Being. In these, and in the way they are interconnected in their Being, there is revealed a basic kind of Being which belongs to everydayness; we call this the ‘‘falling”4 of Dasein.
[220] This term does not express any negative evaluation, but is used to signify that Dasein is proximally and for the most part alongside the ‘world’ of its concern. This “absorption in . . [Aufgehen bei . . .] has mostly the character of Being-lost in the publicness of the “they”. Dasein has, in the first instance, fallen away [abgefallen] from itself as an authentic potentiality for Being its Self, and has fallen into the ‘world’.5 “Fallenness” into the ‘world’ means an absorption in Being-with-one-another, in so far as the latter is guided by idle talk, curiosity, and ambiguity. Through the Interpretation of falling, what we have called the “inauthenticity” of [SZ:176] Dasein may now be defined more precisely. On no account, however, do the terms “inauthentic” and “non-authentic” signify ‘really not’,6 as if in this mode of Being, Dasein were altogether to lose its Being. “Inauthenticity” does not mean anything like Being-no-longer-in-the-world, but amounts rather to a quite distinctive kind of Being-in-the-world — the kind which is completely fascinated by the ‘world’ and by the Dasein-with of Others in the “they”. Not-Being-its-self [Das Nicht-es-selbst-sein] functions as a positive possibility of that entity which, in its essential concern, is absorbed in a world. This kind of not-Being has to be conceived as that kind of Being which is closest to Dasein and in which Dasein maintains itself for the most part. (p. 219-220)Gerede, Neugier und Zweideutigkeit charakterisieren die Weise, in der das Dasein alltäglich sein »Da«, die Erschlossenheit des In-der-Welt-seins ist. Diese Charaktere sind als existenziale Bestimmtheiten am Dasein nicht vorhanden, sie machen dessen Sein mit aus. In ihnen und in ihrem seinsmäßigen Zusammenhang enthüllt sich eine Grundart des Seins der Alltäglichkeit, die wir das Verfallen des Daseins nennen.
Der Titel, der keine negative Bewertung ausdrückt, soll bedeuten: das Dasein ist zunächst und zumeist bei der besorgten »Welt«. Dieses Aufgehen bei … hat meist den Charakter des Verlorenseins in die Öffentlichkeit des Man. Das Dasein ist von ihm selbst als eigentlichem Selbstseinkönnen zunächst immer schon abgefallen und an die »Welt« verfallen. Die Verfallenheit an die »Welt« meint das Aufgehen im Miteinandersein, sofern dieses durch Gerede, Neugier und Zweideutigkeit geführt wird. Was wir die Uneigentlichkeit des Daseins nannten 7, erfährt jetzt durch die Interpretation des Verfallens [176] eine schärfere Bestimmung. Un- und nichteigentlich bedeutet aber keineswegs »eigentlich nicht«, als ginge das Dasein mit diesem Seinsmodus überhaupt seines Seins verlustig. Uneigentlichkeit meint so wenig dergleichen wie Nicht-mehr-in-der-Welt-sein, als sie gerade ein ausgezeichnetes In-der-Welt-sein ausmacht, das von der »Welt« und dem Mitdasein Anderer im Man völlig benommen ist. Das Nicht-es-selbst-sein fungiert als positive Möglichkeit des Seienden, das wesenhaft besorgend in einer Welt aufgeht. Dieses Nicht-sein muß als die nächste Seinsart des Daseins begriffen werden, in der es sich zumeist hält. (p. 175-176)
- Cf. § 9, pp. 55 ss.[↩]
- Cf. § 9, p. 67 ss.[↩]
- § 9, p. 42 sqq.[↩]
- ‘Verfallen’. See our note 2, p. 42, H. 21 above, and note 1, p. 172, H. 134 above.[↩]
- ‘… und an die “Welt” verfallen.’ While we shall follow English idioms by translating ‘an die “Welt” ’ as ‘into the “world” ’ in contexts such as this, the preposition ‘into’ is hardly the correct one. The idea is rather that of falling at the world or collapsing against it.[↩]
- ‘Un- und nichteigentlich, bedeutet aber keineswegs “eigentlich nicht” . ..’[↩]
- Vgl. § 9, S. 42 ff.[↩]