O agora é um fenômeno temporal que pertence ao tempo da intratemporalidade: o agora “em que” algo nasce, perece ou simplesmente se dá. “ STMS: ET68
A presença (Dasein) atravessa o espaço de tempo que lhe é concedido entre os dois limites de tal maneira que, apenas sendo “real” cada agora, ela, por assim dizer, salta por cima da sequência (464) dos agora de seu “tempo”. STMS: ET72
O que pertence à essência dessa possibilidade de datação e onde ela se funda? Pode-se fazer uma pergunta mais supérflua do que esta? “É sabido” que com o “agora em que…” nos referimos a um “ponto do tempo”. STMS: ET79
De modo indiscutível, também compreendemos o “agora em que”, o “então, quando” e o “outrora, quando” num nexo com o “tempo”. STMS: ET79
Todavia, com a compreensão “natural” do “agora”, etc, ainda não se concebe que estes também se referiram ao “tempo”, nem como isso é possível e nem o que significa “tempo”. STMS: ET79
A possibilidade de datação do “agora”, do “então” e do “outrora” reflete a constituição ekstática da temporalidade, sendo, também, por isso essencial para o próprio tempo pronunciado. STMS: ET79
A estrutura da possibilidade de datação do “agora”, do “então” e do “outrora” é a prova de que estes, brotando da temporalidade, são eles mesmos tempo. STMS: ET79
O modo pelo qual o tempo “dado” “decorre” e a espécie de indicação em que a ocupação se dá tempo, de forma mais ou menos explícita, só podem ser explicitados fenomenalmente de maneira adequada caso, por um lado, se afaste a “representação” teórica de um fluxo contínuo de agora e, por outro, se conceba que os modos possíveis em que a presença (Dasein) se dá e se deixa tempo devem ser, primordialmente, determinados de acordo com a maneira em que a presença (Dasein) “tem” seu tempo, em correspondência a cada existência singular. STMS: ET79
Por exemplo, todo “agora”, que se pronuncia cotidiana e naturalmente, possui essa estrutura e é assim compreendido pela presença (Dasein) no deixar-se tempo nas ocupações, embora de maneira atemática e preconceitual. STMS: ET80
No uso do relógio, em que se constata que horas são, dizemos, explicitamente ou não: agora são tantas ou tantas horas, agora é tempo de…, agora não é tempo de…, agora até às… E um tomar tempo que funda e dirige esse olhar o relógio. STMS: ET80
Chamamos de tempo–agora o tempo do mundo que é “visto”, no uso do relógio, dessa maneira. STMS: ET81
O tempo é compreendido como o um após outro, como o “fluxo” dos agora, como “correr do tempo”. STMS: ET81
Enquanto tempo–agora, a interpretação vulgar do tempo do mundo não dispõe de horizonte para, assim, poder tornar acessíveis para si mundo, significância e possibilidade de datação. STMS: ET81
A sequência dos agora é apreendida como algo simplesmente dado, pois ela escorrega “no tempo”. STMS: ET81
Foi por isso que, dirigindo a visão para o tempo (519) como sequência de agora, que emergem e desaparecem, já Platão teve de chamar o tempo de imagem derivada da eternidade: eiko d epenoei kineton tina aionos poiesai, kai diakosmon ama ouranon poiei menontos aionos hen eni kat arithmon iousan aionion eikona, touton òn de chronon onomakamen (Cf. STMS: ET81
É, portanto, tempo no sentido de agora-não-mais, de passado; todo primeiro agora é sempre (520) um há pouco, ainda-não e, com isso, tempo no sentido de agora-ainda-não, de futuro. “ STMS: ET81
Aqui se anuncia um ter tempo, no sentido de poder-perder: “agora ainda isso, então (521) isso, e só mais isso e então…” O que, aqui, se compreende não é a finitude do tempo. STMS: ET81
Mas mesmo nessa pura sequência de agora que passa em si, o tempo originário ainda se revela através de todo nivelamento e encobrimento. ( STMS: ET81
A caracterização vulgar do tempo como sequência de agora sem fim, passageira e irreversível, surge da temporalidade da presença (Dasein) decadente. STMS: ET81
É por isso que, com referência à derivação do tempo–agora a partir da temporalidade, justifica-se referir-se a esse tempo como tempo originário. STMS: ET81