SZ (STMS) – compreensão de ser

Seinsverständnis

Uma compreensão de ser já está sempre incluída em tudo que se apreende no ente”. STMS: ET1

Por vivermos sempre numa compreensão de ser e o sentido de ser estar, ao mesmo tempo, envolto em obscuridade, demonstra-se a necessidade de princípio de se retomar a questão sobre o sentido de “ser”. STMS: ET1

Já se aludiu que sempre nos movemos numa compreensão de ser. STMS: ET2

Por mais que a compreensão de ser oscile, flutue e se mova rigorosamente no limiar de um mero conhecimento da palavra esse estado indeterminado de uma compreensão de ser já sempre à disposição é, em si mesmo, um fenômeno positivo que necessita de esclarecimento. STMS: ET2

É à luz desse conceito e dos modos de compreensão explícita nela inerentes que se deverá decidir o que significa essa compreensão de ser obscura e ainda não esclarecida e quais espécies de obscurecimento ou impedimento são possíveis e necessários para um esclarecimento explícito do sentido de ser. STMS: ET2

A compreensão de ser vaga e mediana pode também estar impregnada de teorias tradicionais e opiniões sobre o ser, de modo que tais teorias constituam, secretamente, fontes da compreensão dominante. STMS: ET2

Mas a estância da compreensão de ser) o ente exemplar que deve desempenhar o papel de primeiro interrogado na questão do ser? No que se discutiu até aqui nem se provou o primado da presença (Dasein) e nem se decidiu nada sobre uma função possível ou necessária do ente a ser interrogado como o primeiro. STMS: ET2

A questão do ser visa, portanto às condições a priori de possibilidade não apenas das ciências que pesquisam os entes em suas entidades e que, ao fazê-lo, sempre já se movem numa compreensão de ser. STMS: ET3

A compreensão de ser é em si mesma uma determinação de ser da presença (Dasein) (NH: ser aqui não apenas como ser do homem (existência). STMS: ET4

Isso se esclarece pelo seguinte: o ser-no-mundo abriga em si a remissão da existência ao ser em seu todo: compreensão de ser). STMS: ET4

Isso, no entanto, não significa simplesmente sendo onticamente um ente, mas sendo no modo de uma compreensão de ser. STMS: ET4

Assim, a compreensão de ser, própria da presença (Dasein), inclui, de maneira igualmente originária, a compreensão de “mundo” e a compreensão do ser dos entes que se tornam acessíveis dentro do mundo. STMS: ET4

Mas com isso não se afirma, de (52) modo algum, que essa interpretação pré-ontológica de seu ser, que lhe é próxima, possa servir de fio condutor adequado, como se tal compreensão de ser tivesse de nascer de uma reflexão ontológica e temática sobre sua constituição ontológica mais própria. STMS: ET5

Na própria presença (Dasein) e, assim, em sua compreensão de ser, reside o que ainda demonstraremos como reflexo ontológico da compreensão de mundo sobre a interpretação da presença (Dasein). STMS: ET5

A presença (Dasein) sempre dispõe de uma rica e variada interpretação de si mesma, à medida que uma compreensão de ser não apenas lhe pertence, como já se formou ou deformou em cada um de seus modos de ser. STMS: ET5

Para que isso se evidencie, torna-se necessária uma explicação originária do tempo enquanto horizonte da compreensão de ser a partir da temporalidade, como ser da presença (Dasein), que se perfaz no movimento de compreensão de ser. STMS: ET5

Em cada um de seus modos de ser e, por conseguinte, também em sua compreensão de ser, a presença (Dasein) sempre já nasceu e cresceu dentro de uma interpretação de si mesma, herdada da tradição. STMS: ET6

Ao contrário: o próprio tempo é considerado como um ente entre outros, buscando-se apreender a estrutura de seu ser no horizonte de uma compreensão de ser orientada, implícita e ingenuamente, pelo próprio tempo. STMS: ET6

Por meio deste hermeneuein anunciam-se o sentido próprio de ser e as estruturas fundamentais de ser que pertencem à presença (Dasein) como compreensão de ser. STMS: ET7

E isto ocorre porque ele participa da constituição fundamental da presença (Dasein) na medida em que, com o seu ser, já se abriu à sua própria compreensão de ser. STMS: ET12

Enquanto investigação do ser, ela realiza, porém, de maneira explícita e autônoma, a compreensão de ser que, desde sempre, pertence à presença (Dasein) e se “aviva” em todo modo de lidar com o ente. STMS: ET15

Quanto mais aprofundarmos, portanto, a compreensão de ser deste ente intramundano, tanto mais ampla e segura tornar-se-á a base fenomenal para a liberação do fenômeno do mundo. STMS: ET17

Se, no entanto, uma compreensão de ser é constitutiva da presença (Dasein) primitiva e do mundo primitivo em geral, então torna-se ainda mais urgente a elaboração da ideia “formal” de mundanidade, ou seja, de um fenômeno que é de tal maneira passível de modificações que todos os enunciados ontológicos, seja no contexto fenomenal prefixado do que ainda não é isso ou do que já não é mais isso, recebam um sentido fenomenal positivo a partir do que não é. STMS: ET17

Mas o que significa dizer que a perspectiva para a qual se libera, pela primeira vez, o ente intramundano deve estar previamente aberta? Ao ser da presença (Dasein) pertence uma compreensão de ser. STMS: ET18

Se convém essencialmente à presença (Dasein) o modo de ser-no-mundo, é que compreender ser-no-mundo pertence ao teor essencial de sua compreensão de ser. STMS: ET18

O deixar e fazer previamente junto… com… funda-se num compreender de algo como deixar e fazer em conjunto, numa compreensão de ser e estar junto e de estar com de uma conjuntura. STMS: ET18

Na familiaridade com o mundo, constitutiva da presença (Dasein) e que também constitui a compreensão de ser da presença (Dasein), funda-se a possibilidade de uma interpretação ontológico-existencial explícita dessas remissões. STMS: ET18

Essa relação, pode-se dizer, já é cada vez constitutiva da própria presença (Dasein), a qual possui por si mesma uma compreensão de ser e, assim, relaciona-se com a presença (Dasein). STMS: ET26

No projetar de possibilidades já se antecipou uma compreensão de ser. STMS: ET31

O ente que possui o modo de ser do projeto essencial de ser-no-mundo tem a compreensão de ser como um constitutivo de seu ser. STMS: ET31

Dentro dos limites dessa investigação, só se poderá alcançar um esclarecimento satisfatório do sentido existencial dessa compreensão de ser com base na interpretação temporânea de ser. STMS: ET31

O ente em que está em jogo seu próprio (NH: esse “seu próprio ser”, porém, é determinado em si pela compreensão de ser, isto é, por in-sistir na claridade da vigência em que nem a claridade como tal e nem a vigência como tal são temas de representação) ser como ser-no-mundo possui uma estrutura de círculo ontológico. STMS: ET32

O “é” e sua interpretação, quer se exprima linguisticamente ou se indique nas desinências verbais, só entra no contexto dos problemas da analítica existencial se os enunciados e a compreensão de ser forem em si mesmas possibilidades existenciais da própria presença (Dasein). STMS: ET33

A compreensão que, assim, já se acha inserida no pronunciar-se refere-se tanto à descoberta já estabelecida e herdada dos entes como a cada compreensão de ser e às possibilidades e horizontes disponíveis para novas interpretações e novas articulações conceituais. STMS: ET35

Será que a interpretação da presença (Dasein) feita até aqui poderá propiciar um acesso ôntico-ontológico (247) a si mesma que, exigido de si mesma, seria o único a lhe convir? Pertence à estrutura ontológica da presença (Dasein) uma compreensão de ser. STMS: ET39

Isso, no entanto, nunca significa que “ser” seja apenas “subjetivo” e sim ser (como ser dos entes) como diferença “na” presença (Dasein) enquanto ela é um projetar-se (do projeto)) dos entes a cujo ser pertence a uma compreensão de ser. STMS: ET39

A compreensão de ser que se encontra na própria presença (Dasein) pronuncia-se pré-ontologicamente. STMS: ET42

A questão sobre o sentido de ser só é possível quando se dá uma compreensão de ser. STMS: ET43

A compreensão de ser pertence ao modo de ser deste ente que denominamos presença (Dasein). STMS: ET43

A compreensão pré-ontológica de ser abrange, de certo, todo ente que se abriu na presença (Dasein) de modo essencial, apesar da compreensão de ser em si mesma ainda não conseguir se articular no mesmo grau com os diferentes modos de ser. STMS: ET43

De acordo com este deslocamento da compreensão de ser, a compreensão ontológica da presença (Dasein) volta-se para o horizonte desse conceito de ser. STMS: ET43

Como, porém, não se esclarece que aqui se dá uma compreensão de ser e o que diz ontologicamente essa compreensão, isto é, que ela pertence (NH: a presença (Dasein), porém, (pertence) à essência do ser como tal) à constituição de ser da presença (Dasein) e como ela é possível, o idealismo constrói no vazio a interpretação da realidade. ( STMS: ET43

De fato, apenas enquanto a presença (Dasein) é, ou seja, a possibilidade ôntica de compreensão de ser, “dá-se” ser. STMS: ET43

Agora pode-se realmente dizer que, enquanto houver compreensão de ser (281) e com isso compreensão do ser simplesmente dado, então o ente prosseguirá a ser. STMS: ET43

A dependência caracterizada, não dos entes, mas do ser em relação à compreensão de ser, isto é, a dependência da realidade e não do real em relação à cura, assegura que a analítica da presença (Dasein) possa prosseguir sem resvalar numa interpretação não crítica que, guiada pela ideia de realidade, sempre de novo tenta se impor. STMS: ET43

Ao contrário, permitem apenas que os imbricamentos problemáticos com a questão do ser e seus possíveis modos, assim como o sentido de tais modificações, possam emergir de maneira ainda mais aguda: o ente como ente só é acessível se uma compreensão de ser se dá; a compreensão de ser como ente só é possível se o ente possui o modo de ser da presença (Dasein). STMS: ET43

Desse modo, já não se deveria encontrar esse fenômeno no seio da análise fundamental preparatória, na analítica da presença (Dasein)? Que nexo ôntico-ontológico a “verdade” estabelece com a presença (Dasein) e com sua determinação ôntica, que chamamos de compreensão de ser? Será que tomando isso por base poder-se-ia mostrar a partir de si mesmo e por si mesmo por que ser correlaciona-se necessariamente com verdade e vice-versa? (283) Esse questionamento não pode ser recusado. STMS: ET44

Também a compreensão de ser compreende, de início, todo ente como algo simplesmente dado. STMS: ET44

E somente porque a presença (Dasein) é, enquanto o que se constitui pela abertura, ou seja, pelo compreender, é que se pode compreender ser, e uma compreensão de ser torna-se possível. STMS: ET44

Só se pode questionar concretamente o que significa dizer o ser “é” e de onde ele deve (NH: diferença ontológica) se distinguir de todos os entes, caso se esclareça o sentido de ser e a envergadura da compreensão de ser. STMS: ET44

Mas o que a análise fundamental da presença (Dasein), desenvolvida (301) até aqui, preparou para a elaboração dessa questão? Mediante a liberação do fenômeno da cura, esclareceu-se a constituição de ser dos entes a cujo ser pertence uma compreensão de ser. STMS: ET44

Se, com a cura, obteve-se a constituição de ser originária da presença (Dasein), então, sobre essa base, também se pode produzir o conceito da compreensão de ser subsistente na cura, ou seja, deve-se poder circunscrever o sentido do ser. STMS: ET44

Como momento de ser essencial da presença (Dasein), a compreensão de ser só se deixa esclarecer radicalmente caso o ente que a possua seja interpretado originariamente na perspectiva de seu ser. STMS: ET45

Nela funda-se a compreensão de ser constitutiva do ser da presença (Dasein). STMS: ET45

Pois só quando esse ente se tornar fenomenalmente acessível em sua propriedade e totalidade é que a questão do sentido ontológico desse ente, a cuja existência pertence toda e qualquer compreensão de ser, poderá alcançar um solo resistente. ( STMS: ET60

Mas não será apenas elaborando-se a compreensão de ser constitutiva da presença (Dasein) que se poderá obter um esclarecimento ontológico da ideia de ser? Esta ideia, no entanto, só pode ser originariamente apreendida com base numa interpretação originária da presença (Dasein) feita pela ideia de existência. STMS: ET63

Pode-se então recusar esse projetar-se essencial da presença (Dasein) à pesquisa que, sendo, como toda pesquisa, um modo de ser da abertura da presença (Dasein), quer elaborar e conceituar a compreensão de ser constitutiva da existência? A própria “objeção do círculo”, contudo, provém de um modo de ser da presença (Dasein). STMS: ET63

Se, no entanto, ser somente “se dá” na medida em que a verdade “é”, e a compreensão de ser sempre se modifica segundo o modo da verdade, então a verdade originária e própria deve garantir a compreensão de presença (Dasein) e de ser em geral. STMS: ET63

Mas estes projetos guardam em si uma perspectiva da qual se alimenta, por assim dizer, a compreensão de ser. STMS: ET65

A compreensão de ser, que orienta o modo de lidar na ocupação com o ente intramundano, transformou-se. STMS: ET69

A modificação da compreensão de ser não parece ser um constitutivo necessário da gênese da atitude teórica “frente às coisas”. STMS: ET69

Visando a uma primeira caracterização da gênese da atitude teórica a partir da circunvisão, estabelecemos como base um modo de apreensão teórica dos entes intramundanos, a saber, a natureza física, em que a modificação da compreensão de ser equivale a uma transformação. STMS: ET69

Quanto mais adequadamente se compreende o ser daquele ente a ser pesquisado a partir da compreensão de ser e quanto mais se articula, em suas determinações fundamentais, a totalidade de um ente enquanto possível região de objetos de uma ciência, tanto mais se poderá assegurar cada perspectiva da questão metodológica. STMS: ET69

Com a elaboração dos conceitos e fundamentos da compreensão de ser orientadora, determina-se a condução dos métodos, a estrutura da conceitualização, a possibilidade inerente de verdade e certeza, o modo de fundamentação e (451) comprovação, o modo de obrigatoriedade e comunicação. STMS: ET69

Chamamos de tematização o todo desse projeto ao qual pertencem a articulação da compreensão de ser, a delimitação dela derivada do setor de objetos e o prelineamento da conceitualização adequada ao ente. STMS: ET69

Se, ademais, a tematização modifica e articula a compreensão de ser, então o ente a ser tematizado, a presença (Dasein), já deve, em existindo, compreender algo como ser. STMS: ET69

Elaborar essa questão exige que se delimite a compreensão de ser, isto é, o fenômeno em que o próprio ser se torna acessível. STMS: ET72

Somente após uma interpretação suficiente e originária deste ente é que se poderá conceber a compreensão de ser inserida em sua constituição de ser e, nessa base, colocar a questão sobre o ser nela compreendido e sobre as “pressuposições” desse compreender. STMS: ET72

Só é possível responder às questões se e como se atribui ao tempo um “ser”, por que e em que sentido chamamos o tempo de “ente”, caso se mostre como, na totalidade de sua temporalização, a própria temporalidade possibilita uma compreensão de ser e um dizer os entes. STMS: ET78

Como essa ocupação do tempo se volta para o tempo aí compreendido e o “observa”, ela vê os agora que, de algum modo, estão “pre-sentes por aí”, no horizonte da compreensão de ser que, constantemente, orienta essa ocupação. STMS: ET81

Na compreensão de ser, que, enquanto compreender, pertence à existência da presença (Dasein), abriu-se algo como “ser”. STMS: ET83

 

 

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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