Stambaugh (1991:50-52) – tempo existencial em Heidegger (II)

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Com os termos “ek-stase” e “espaço horizontal de jogo”, chegamos a uma análise mais técnica e, ao mesmo tempo, ao cerne da concepção de temporalidade de Heidegger. Veremos também que, enquanto Heidegger afirma maioritariamente que a autenticidade é uma modificação da inautenticidade, no caso da temporalidade, a temporalidade autêntica é, sem exceção, afirmada como mais primordial do que a temporalidade inautêntica. Se começarmos com a concepção do tempo como uma série de pontos-agora, que é a concepção vulgar e inautêntica, nunca chegaremos à temporalidade ek-stásica e horizontal, a concepção autêntica.

O termo “ek-stase”, que na linguagem comum parece particularmente adequado ao vocabulário de um adolescente demasiado entusiasta, tem para Heidegger um significado muito preciso. É cognato com o termo “existência”; ambos significam literalmente (51) “destacar-se”. O que é que ek-sist, destacar-se, significa? Aqui a conhecida e sugestiva afirmação de Sartre, “Existo meu corpo”, pode ser útil. Embora a frase não seja gramatical e seja invulgar, uma vez que Sartre está a usar um verbo intransitivo transitivamente, podemos ter uma noção intuitiva do que ele quer dizer. “Existo meu corpo” significa que vivo nesse corpo da forma mais concreta e íntima possível. Não posso, de forma alguma, escapar-lhe, embora possa, até certo ponto, transcendê-lo; por exemplo, quando as pessoas funcionam apesar da dor. Heidegger exprime este fato ao falar da existência que sou e tenho de ser. Não posso mudar de ideias e “começar de novo” como outro alguém. O termo “existência” torna-se, nos últimos escritos de Heidegger, ex-portação (Austrag) e estar-dentro-de (Inständigkeit). Ex-portação (portar-para-fora), uma palavra bastante invulgar, significa manter-se fiel a alguma coisa, suportá-la. Isto não tem de ter conotações negativas, mas tem conotações intensas. Os períodos de grande alegria também têm de ser “ex-portados”.

Original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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