Stambaugh (1986:IV) – consciência

Voltando à nossa pergunta: Que efeito a temporalização da consciência tem sobre o papel da razão? Já respondemos parcialmente a essa pergunta dizendo que Heidegger está preocupado com o processo da com-ciência (awareness), como ela surge. Ele abandonou o termo razão e nos deu uma “decomposição” diferente da consciência (consciousness), a saber, compreensão (Verständnis), sintonia (Befindlichkeit) e fala (Rede). Esses são os três “existenciais”, ou seja, maneiras pelas quais Da-sein é o seu “aí”, aí no sentido não espacial de abertura, como quando dizemos “ele está todo aí” ou “ele não está todo aí”. Dizer que Da-sein é o seu “aí” é dizer que Da-sein perdura o aí da abertura. Mas talvez essa afirmação seja apenas mais obscura do que a primeira.

O Da-sein é o seu “aí”. Esse é o significado do termo ekstase, também ek-sistência, estar fora de si mesmo e, ao mesmo tempo, estar dentro (per-dure, Inständigkeit) desse estar fora. Isso é o que a temporalidade “é”. A temporalidade é a posição fora de si original e primordial.

Assim, devemos mudar nossa pergunta sobre o efeito da temporalização da consciência no papel da razão para a pergunta: O que é temporalidade?

A questão da temporalidade e, em outro nível, toda a preocupação deste século e do último, com o tempo e o processo, não está simplesmente na fragrância de um dinamismo delicioso e de um processo criativo exaltante. Ela está tentando chegar à raiz da presença, ou melhor, da presentificação, não no sentido da extensão no espaço dos objetos (Vorhandenheit), mas no sentido de com-ciência.

A palavra inglesa awareness (com-ciência) é valiosa. Ela não tem nenhuma conotação de dualismo, a divisão sujeito-objeto, a divisão mente-corpo. Surpreendentemente, sua raiz etimológica é a mesma do alemão wahr, verdadeiro, o que, por puro acidente ou talvez não, a liga à preocupação de Heidegger com a verdade. Ela tem outras ramificações em inglês, por exemplo, no termo relacionado wary. Wariness é um certo estado de espírito ou humor que sabe, que está “vigilante” a tudo ao seu redor.

(STAMBAUGH, Joan. The Real is not the rational. Albany: State university of New York Press, 1986)

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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