Em sua analítica do lugar, Aristóteles já havia realizado uma abordagem magnificamente explícita da problemática de uma topologia “existencial”, mesmo se, para ele, o ser de “alguma coisa em alguma coisa” não pudesse propriamente apresentar interesse do ponto de vista existencial. No quarto livro da Física, encontra-se a seguinte exposição sobre os oito sentidos de “em”: “A seguir, é preciso investigar em quantos sentidos uma coisa é dita existir em outra (allo en allo). (1) De uma primeira maneira, será como se diz que o dedo está ‘na mão’ e, em geral, a parte ‘no todo’. (2) De uma outra, como o todo está ‘em suas partes’, pois para além de suas partes o todo não existe. (3) De outra maneira, ainda, como ‘homem’ está (conceitualmente) em ‘ser vivo’ e, em geral, a espécie no gênero. (4) De uma outra, como a determinação genérica (genos) está ‘na determinação específica’ (eidos) e, em geral, a parcela da determinação específica em sua explicação conceituai (logos). (5) Ou, ainda, como a saúde está ‘em’ (uma determinada relação com) coisas quentes e coisas frias e, em geral, a forma na matéria. (6) Além disso, os destinos dos Helenos estão ‘no’ (nas mãos do) Grande Rei e, em geral, no primeiro motor. (7) Ainda, (o sentido das ações está) ‘em um bem’ e, em geral, ‘em um fim’, mas isto é um ‘porque’. (8) Mas o sentido principal dentre todos é ‘em um vaso’ (en aggeio) e, em geral, ‘em um lugar’ (en topo). Poder-se-ia agora colocar a difícil questão de se alguma coisa, enquanto ela mesma, pode estar em si mesma, ou se nada pode, mas tudo deve estar ou em lugar nenhum ou em uma outra coisa” (Física, IV, 3). (Ed. bras.: Campinas, IFCH/Unicamp, 1999.)
(SLOTERDIJK, Peter. Esferas I. Bolhas. Tr. José Oscar de Almeida Marques. Rio de Janeiro: Estação Liberdade, 2016)