A distinção autêntico-inautêntico parece mais enigmática do que na verdade é. De saída, é certo que não se trata de estabelecer uma distinção em uma “coisa” qualquer (belo-feio, verdadeiro-falso, bom-mau, grande-pequeno importante-insignificante), porque a analítica existencial opera antes dessas distinções. Assim sendo, sobra, como última distinção concebível, aquela entre o existente humano (Dasein) resoluto e o não resoluto; eu gostaria de dizer: entre o Dasein consciente e o inconsciente. Mas não devemos tomar a oposição consciente-inconsciente no sentido do Esclarecimento psicológico (a conotação resoluto e não resoluto aponta para essa direção). Consciente e inconsciente não são aqui oposições cognitivas, e nem mesmo oposições de informação, do saber ou da ciência, mas qualidades existenciais. Se fosse de outro modo, o pathos heideggeriano da “autenticidade” não seria possível.
(SLOTERDIJK, Peter. Crítica da Razão Cínica. Tr. Casanova, Soethe, Costa Rego, Mendonça Cardozo & Hiendlmayer. Rio de Janeiro: Estação Liberdade, 2012)