Menschsein
Caso se dê e se queira dar aqui um passo de todos o mais imediato em direção a uma clareza que se estende para além da mera terminologia tosca, então crescem tarefas essenciais de clarificação, que não são indiferentes, por fim, para a assunção e a realização do SER DO HOMEM e do povo, mas que são pela primeira vez decisivas. Todavia, a questão acerca do “ser” do homem, colocada dessa maneira, permanece por enquanto de lado. O que acontece com o si mesmo no ser si mesmo que é exigido? [tr. Casanova; GA65: 19]
Na questão “quem somos nós” reside e se encontra a questão de saber se nós somos. As duas questões são indissociáveis, e essa indissociabilidade é apenas uma vez mais a indicação da essência velada do SER DO HOMEM, e, em verdade, da essência histórica. [tr. Casanova; GA65: 19]
Aqui abre-se o olhar para nexos de um tipo completamente diverso, configurados de maneira diversa da que eles são conhecidos pelo mero cálculo e orientação do SER DO HOMEM presente à vista, como se o que estivesse em questão fosse promover nele sempre a cada vez apenas uma transformação, tal como ela é empreendida pelo paneleiro com o pedaço de barro. [tr. Casanova; GA65: 19]
O pensamento inicial, porém, encontra o mais duro obstáculo na autocompreensão inexpressa, que o homem hoje tem de si. Abstraindo-nos completamente das interpretações particulares e dos estabelecimentos particulares de finalidades, o homem se considera hoje como um exemplar “presente à vista” do gênero “ser humano”. Isto se deixa transpor para o ser histórico como um acontecimento no interior de uma copertinência gerada. Onde essa interpretação do SER DO HOMEM (e, com isso, também de um ser do povo) impera, falta todo e qualquer ponto de apoio e toda e qualquer pretensão a uma chegada do deus. Não tem lugar aí nem mesmo a pretensão da experiência da fuga dos deuses. Precisamente essa experiência pressupõe que o ser humano histórico se saiba exposto em meio ao ente, que é abandonado pela verdade de seu ser. [tr. Casanova; GA65: 24]
O olhar que se volta para nós é realizado a partir do salto prévio no ser-aí. Para a primeira meditação, contudo, foi preciso tentar destacar ao menos uma vez junto aos modos de SER DO HOMEM a diversidade do modo de ser do ser-aí em contraposição a todo “vivenciar” e a toda “consciência”. Todavia, é natural a sedução para restringir toda a meditação em Ser e tempo Parte I à esfera de uma antropologia apenas diversamente direcionada. [tr. Casanova; GA65: 30]
O outro início é o salto que transforma o seer em meio à sua verdade mais originária. O pensar ocidental na questão diretriz estabelece, de acordo com o seu início, o primado do ente ante o ser; o “a priori” é apenas o velamento do caráter ulterior do seer, velamento que precisa vigorar, na medida em que, no acesso imediatamente primeiro, acolhedor e reunidor ao ente, é aberto o seer. Assim, não pode causar espanto, mas precisa ser concebido expressamente como consequência o modo como, então, o ente mesmo se torna normativo para a entidade em uma determinada interpretação. Apesar de, sim, com base no primado da physis e do physei ón, porém, precisamente o thesei ón e o poioumenon se tornam aquilo que fornece agora para a interpretação apreendedora o elemento compreensível, determinando a compreensibilidade da própria entidade (como hyle – morphe). Por isto, encontra-se no pano de fundo e logo se impondo em Platão de maneira particular no primeiro plano a techne como caráter fundamental do conhecimento, isto é, da ligação fundamental com o ente enquanto tal. Tudo isso não aponta para o fato de que, porém, mesmo a physis precisa ser interpretada a partir da correspondência com o poioumenon da poiesis, de que a physis não é suficientemente capaz de exigir a sua verdade para além da parousia e aletheia mesmas, levando-a ao seu desdobramento? Isso, porém, é aquilo que o outro início quer realizar e precisa realizar: o salto para o interior da verdade do seer, de tal forma que esse seer mesmo funda o SER DO HOMEM e, em verdade, nem mesmo imediatamente, mas o SER DO HOMEM só como uma consequência do e como o estar-referido ao ser-aí. [tr. Casanova; GA65: 91]
O ser para a morte precisa ser concebido como determinação do ser-aí e apenas assim. Aqui se realiza a mensuração mais extrema da temporalidade e, com isso, a referência do espaço da verdade do seer, a indicação do tempo-espaço. Portanto, não para negar o “seer”, mas sim para instituir o fundamento de sua afirmabilidade plena e essencial. Como é mesquinho e barato, porém, extrair a palavra “ser para a morte”, dispor sobre ela uma “visão de mundo” tosca e, então, colocá-la em Ser e tempo. Aparentemente, esse cálculo irrompe de modo particularmente bom, uma vez que se está falando nesse “livro” de resto do “nada”. Assim, obtemos a conclusão seca: ser para a morte, isto é, ser para o nada e esse ser para o nada como a essência do ser-aí! E isso não deve ser nenhum niilismo. Mas o que importa não é dissolver o SER DO HOMEM na morte e declará-lo a mera nulidade, mas, ao contrário: inserir a morte na ligação com o ser-aí, a fim de dominar o ser-aí em sua amplitude abissal e, assim, mensurar completamente o fundamento da possibilidade da verdade do seer. [tr. Casanova; GA65: 162]
1) A tarefa em Ser e tempo: a questão do ser como a questão acerca do “sentido de seer”; cf observação prévia em Ser e tempo. Ontologia fundamental como transitória. Ela fundamenta e supera toda ontologia, mas precisa partir necessariamente do conhecido e corrente, e, por isso, se encontra sempre no lusco-fusco. 2) Questão do ser e a questão acerca do homem. Ontologia fundamental e antropologia. 3) O SER DO HOMEM como ser-aí (cf observações correntes a Ser e tempo). 4) A questão do ser como superação da questão diretriz. Desdobramento da questão diretriz; cf sua estrutura. O que significa des-dobramento? Reabsorção no fundamento a ser reaberto. [tr. Casanova; GA65: 185]
Nunca se chega a determinar e a inquirir o SER DO HOMEM assim interpretado e, com efeito, em seu papel de fio condutor para a verdade do ente a partir dessa verdade mesma, e, assim, a visualizar a possibilidade de que, por fim, o ser humano assuma em geral em face do ser uma tarefa, que, para além dele, o transponha de maneira revirada naquele elemento questionável, o ser-aí. [tr. Casanova; GA65: 193]
O ser-aí, concebido como SER DO HOMEM, já se encontra na conceptualidade prévia. A questão relativa à sua verdade continua sendo como o homem, se tornando mais essente, se recoloca no ser-aí, fundando-o, assim, a fim de se expor, com isso, à verdade do seer. Mas esse colocar-se e sua constância se fundam no acontecimento da apropriação. Por isto, é preciso perguntar: Em que história o homem precisa se encontrar, para que ele se torne pertinente ao acontecimento da apropriação? Ele não precisa ser empurrado de antemão para o interior do aí, cujo acontecimento se torna manifesto para ele como jogado? O caráter de jogado só é experimentado a partir da verdade do seer. Na primeira indicação prévia (Ser e tempo), ele ainda permanece passível de uma interpretação falsa no sentido de uma ocorrência casual do homem sob o outro ente. Em direção a que poder, terra e corpo são desdobrados a partir daqui. O SER DO HOMEM e a “vida”. Onde estaria o impulso para pensar em direção ao ser-aí senão na essência do próprio seer. [tr. Casanova; GA65: 194]
Quem é o homem? Aquele que é usado pelo seer para a suportação da essenciação da verdade do seer. Usado assim, contudo, o homem só “é” homem, na medida em que ele está fundado no ser-aí, isto é, na medida em que ele mesmo se torna de maneira criativa o fundador do ser-aí. O seer, porém, é concebido aqui ao mesmo tempo como acontecimento apropriador. As duas coisas se com-pertencem: a refundação no ser-aí e a verdade do seer como acontecimento apropriador. Nós não concebemos nada da direção aqui aberta do questionamento, se colocarmos inopinadamente à base de nossa concepção representações quaisquer do homem e do “ente enquanto tal”, ao invés de colocarmos ao mesmo tempo o “homem” e o seer (não o SER DO HOMEM simplesmente) em questão e de nos mantermos nessa questão. [tr. Casanova; GA65: 195]
O ser-ausente também pode ser visado ainda em outro sentido não menos essencial. Se o ser-aí é experimentado justamente como o fundamento criador do SER DO HOMEM e se, com isso, ele chega a saber que o ser-aí é apenas instante e história, então o ser humano habitual precisa ser determinado a partir daí como ser-ausente. Ele está “ausente” da constância do aí e completamente apenas junto ao ente como o presente à vista (esquecimento do ser). O homem é o ausente. [tr. Casanova; GA65: 201]
Além disso, porém, precisa ser fundado justamente o SER DO HOMEM como aquilo que preserva e desdobra por assim dizer o ser-aí, pre-parando e combatendo os criadores. [tr. Casanova; GA65: 201]
O projeto não de “explicar”, mas sim de transfigurar em seu fundamento e abismo, tresloucando o SER DO HOMEM nessa direção, ou seja, no ser-aí e mostrando para ele o outro início de sua história. [tr. Casanova; GA65: 203]
Mesmo essa meditação não pode senão indicar que algo necessário ainda não foi concebido e captado. Esse elemento necessário, o ser-aí, só é alcançado por meio de um tresloucamento do SER DO HOMEM na totalidade, isto é, a partir da meditação sobre a indigência do ser enquanto tal e de sua verdade. [tr. Casanova; GA65: 214]
O fato, porém, de essa diferenciação poder ser denominada como a estrutura de campo da metafísica ocidental e o fato de ela precisar ser denominada sob essa forma indeterminada têm sua razão de ser na história inicial do próprio seer. Na physis encontra-se implicado o fato de que, para a representação maximamente universal (pensar), o ser é o que mais se presenta de maneira mais constante e, enquanto um tal ente que se presenta, o fato de que ele é o vazio da atualidade mesma. Na medida em que o pensamento se embrenhou no domínio da “lógica”, esse elemento atual de tudo o que se presenta (do presente à vista) se transforma no que há de mais universal, e, apesar da rejeição de Aristóteles, que afirma que ele não seria um genos, no “que há de mais genérico”. Se levarmos em consideração essa proveniência histórica da diferença ontológica a partir da própria história do ser, então o saber dessa proveniência já impõe uma distância prévia em relação ao pertencimento à verdade do ser, a experiência de que nós, sustentados pela “diferença ontológica” em todo SER DO HOMEM enquanto ligação com o ente, permanecemos expostos ao poder do seer por meio daí de maneira mais essencial do que em toda e qualquer ligação ainda “próxima da vida” com qualquer coisa “real e efetiva”. E isso, o ter sido inteiramente afinado do homem pelo próprio seer, precisa ser levado à experiência por meio da denominação da “diferença ontológica”; a saber, caso a questão do ser mesma tenha de ser desperta enquanto questão. Por outro lado, porém, com vistas à superação da metafísica (a conexão de jogo histórica do primeiro e do outro início), é preciso que tenha ficado clara a “diferença ontológica” em seu pertencimento ao ser-aí; visto a partir daí, ela nos volta para uma, sim, para a “estrutura fundamental” do próprio ser-aí. [tr. Casanova; GA65: 266]