Schürmann – Heidegger, Eckhart e Neoplatonismo

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(…) há também em Heidegger uma clara tendência henológica. Aquilo a que ele chamou “autenticidade” pode, de fato, enquadrar-se na velha tradição da interioridade. A palavra Eigentlichkeit, escreve ele, tem de ser tomada à letra, como referindo-se ao que é “meu próprio”, eigen. Significa que deixamos de nos perder ao fazer o que os outros fazem, que deixamos de fugir de nós próprios para a distração e a dispersão e que assumimos a nossa existência como nossa. Podemos ver aqui uma reminiscência tardia da observação de Plotino de que ele se tornou “autocentrado”. A diferença é, no entanto, que Plotino reverte para o interior a partir da multiplicidade física e emocional, ao passo que o autenticamente existente, de acordo com Heidegger, reverte a partir das nossas muitas formas de encobrir a morte. Aceitar a mortalidade de alguém é tornar-se eigen, tornar-se próprio ao tornar-se o que já é, nomeadamente “em direção à morte”. O eu que recuperamos na autenticidade não é o eu individual (“ôntico”) que tem a sua história, feita de nascimento, infância, adolescência, etc.; é antes um potencial, uma possibilidade, e como tal, mais uma vez, nada. Meister Eckhart terá ensinado algo semelhante quando exortou os seus ouvintes a “livrarem-se de toda a Eigenschaft”, que significa “propriedade” no sentido de uma qualidade, mas também no de apego ao ego. A Eigenschaft é essencialmente diversa, dispersa, enquanto o verdadeiro eu é um vazio, oposto a toda a diversão e diversidade. A autenticidade heideggeriana tem, pois, inegavelmente, uma conotação neoplatônica.

original

[Reiner Schürmann, “Neoplatonic Henology as an Overcoming of Metaphysics”, Research in Phenomenology Volume XIII]

Excertos de ,

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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