Schürmann (1982:78-79) – conceito husserliano de consciência aponta para a Vorhandenheit

tradução

O conceito husserliano de consciência aponta, por sua vez, para a Vorhandenheit. Os conteúdos eidéticos geram evidência através (78) e para a vida da consciência. Uma vida objetivante, porque ela própria é um contexto de fundação objetivamente subsistente. Não consistirá a redução eidética, e mais ainda o recuo transcendental husserliano, em desenterrar, uma vez mais, a velha oposição entre episteme e doxa, entre ciência e crença? Para Husserl, este recuo em direção à origem transcendental do conhecimento constitui ele próprio o conhecimento, enquanto a atitude que é posta entre parênteses é uma simples crença, a crença de que o mundo das coisas é tal como o experimentamos todos os dias. O teatro das essências, o sujeito, subsiste, como já subsiste para Descartes e como subsiste o teatro das ideias em Platão. A pertença de Husserl à filosofia ocidental encontra-se neste modo de temporalidade, a subsistência, que deve-se buscá-la. O faz ver, com efeito, a epoche universal? Como é concebida a origem retroativa dos conteúdos da experiência natural, a origem a partir da qual surgem as espécies e os tipos de que esses conteúdos são casos? O que é “visto” é, antes de mais, o sujeito da crença natural no próprio mundo. Eis em que Husserl se mantém fiel a Descartes e a Kant: ao final da redução, os objetos do mundo, bem como o próprio sujeito, são mostrados como pertencendo ao universo sólido do sujeito transcendental. A constituição da essência como um objeto particular, elaborado a partir de experiências reais ou imaginárias, estabelece a subjetividade transcendental como o terreno das experiências intencionais. Do ponto de vista do tempo, esta subjetividade não poderia funcionar, “viver”, sem essa permanência, já essencial ao antigo hypokeimenon. O passo atrás aqui é a constituição de um campo epistemológico no qual se obtém um conhecimento rigoroso da vida da subjetividade transcendental. Na vida do cogito, como não reconhecer o antigo “animal razoável”? Quem pode deixar de ver que ele pertence à metafísica ocidental? Também em Husserl, “o modo de ser do zoon é entendido no sentido de ser-subsistente e originário. O logos é (apenas) um atributo superior, cujo modo de ser permanece tão obscuro como o do ser assim composto”. [SZ 48/ET 69f]

original

[SCHÜRMANN, Reiner. Le Principe d’anarchie. Heidegger et la question de l’agir. Paris: Seuil, 1982]

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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