Schürmann (1982:47 nota) – Lichtung

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Há que distinguir quatro significados da palavra Lichtung, clarão ou clareira, em Heidegger. Esta palavra alemã é, de fato, uma tradução emprestada do francês. As quatro estão ligadas à compreensão da verdade como aletheia, como descoberta. “Clareira” significa, em primeiro lugar, a abertura constituída pelo ser-no-mundo, no sentido em que o ser que somos é o “aí” em que os entes podem se mostrar. Uma primeira mudança de sentido ocorre quando o locus da verdade deixa de ser pensado primeiramente em referência ao Dasein: agora o λόγος “cede” a clareira na qual surge a presença; a diferença entre esta e o presente é o desencobrimento ou aletheia. Pensada como um acontecimento, a clareira é então propriedade da natureza, physis, e não do homem. O terceiro significado relaciona-se com a história do ser. Aqui Heidegger fala da “história da limpeza do ser” ou da “limpeza epocal do ser”. O quarto significado, finalmente, é anti-histórico: “a clareira é a abertura para tudo o que está presente ou ausente”. Esta abertura é pensada como a condição atemporal da história: ela “concede o ser e o pensamento”. Neste último sentido, Lichtung perdeu toda a sua nuance como metáfora da luz e significa antes um descortinar.

original

[SCHÜRMANN, Reiner. Le Principe d’anarchie. Heidegger et la question de l’agir. Paris: Seuil, 1982]

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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