No entanto, em meados da década de 1930, Nietzsche estava muito mais próximo do centro das atenções de Heidegger do que Husserl (por mais que Heidegger estivesse familiarizado ou não com as mudanças nos textos de Husserl durante esse período). No mesmo semestre em que Heidegger apresentou “A Origem da Obra de Arte” (GA5) em sua forma definitiva, ele também estava apresentando o curso de palestras sobre Nietzsche intitulado “A Vontade de Poder como Arte” (GA6). Não se pode deixar de ouvir, portanto, no discurso de Heidegger sobre a terra, fortes ecos do que foi dito por Zaratustra: que o super-homem deve ser o sentido da terra. Mesmo que, como sugere Haar, a eficácia da virada de Nietzsche para a terra seja limitada por esse emaranhamento em uma mera inversão do platonismo que Heidegger traçou em todos os textos, exceto nos últimos, ainda assim ressoa no discurso de Heidegger algo desse imperativo nietzschiano: “Peço-lhes, meus irmãos, que permaneçam fiéis (treu) à terra e não acreditem naqueles que lhes falam de esperanças de outro mundo (überirdischen)”1. Apenas para perguntar se cada uma das canções em Assim Falou Zaratustra não poderia ser chamada de canção da terra.
[HAAR, Michel. The song of the earth : Heidegger and the grounds of the history of being. Tr. Reginald Lilly. Bloomington: Indiana University Press, 1993 (Foreword John Sallis)]