Sallis (1993:xi-xii) – Terra em Husserl

Em um manuscrito muito notável, escrito de fato apenas alguns anos antes da palestra de Heidegger, Husserl se refere à Terra de uma forma que lembra (xii) (sem intenção, sem dúvida) a determinação de Hegel dela como o indivíduo universal: “Para todos, a Terra é a mesma Terra”.1 Essa mesmidade é tão radicalmente pensada por Husserl que ele chega a dizer sobre a Terra, contra Galileu, pelo menos como uma questão: ela não se move. A terra é a base, uma arca: “A terra é a arca que torna possível, em primeiro lugar, o sentido de todo movimento e todo repouso como modo de movimento. Mas seu repouso não é um modo de movimento.”2 A terra — tão basicamente a mesma que se deve dizer que ela não se move. A terra — em repouso em um modo de repouso tão diferente, tão outro, que escapa à força da oposição conceitual entre repouso e movimento.

[HAAR, Michel. The song of the earth : Heidegger and the grounds of the history of being. Tr. Reginald Lilly. Bloomington: Indiana University Press, 1993 (Foreword John Sallis)]
  1. Edmund Husserl, “Foundational Investigations of the Phenomenological Origin of the Spatiality of Nature,” trans. Fred Kersten, in Husserl: Shorter Works, ed. Peter McCormick and Frederick Elliston (Notre Dame: University of Notre Dame Press, 1981), p. 226. The manuscript has been dated May 1934.[]
  2. Ibid., p. 230.[]