Rorty (2009) – Wittgenstein, Heidegger, Dewey

(Rorty2009)

Wittgenstein, Heidegger e Dewey concordam que a noção de conhecimento como representação acurada, possibilitada por processos mentais especiais e compreendida por meio de uma teoria geral da representação, precisa ser abandonada. Para os três, as noções de “fundamentos do conhecimento” e da filosofia como algo que gira em torno da tentativa cartesiana de responder ao cético epistemológico são deixadas de lado. Além disso, eles descartam a noção de “mente”, comum a Descartes, Locke e Kant—como um assunto especial de estudo, localizado em um espaço interior, contendo elementos ou processos que tornam o conhecimento possível. Isso não quer dizer que eles tenham “teorias do conhecimento” ou “filosofias da mente” alternativas. Eles deixam de lado a epistemologia e a metafísica como disciplinas possíveis. Digo “deixam de lado” em vez de “argumentam contra” porque a atitude deles em relação à problemática tradicional é semelhante à atitude dos filósofos do século XVII em relação à problemática escolástica. Eles não se dedicam a descobrir proposições falsas ou argumentos ruins nas obras de seus predecessores (embora ocasionalmente também façam isso). Em vez disso, eles vislumbram a possibilidade de uma forma de vida intelectual na qual o vocabulário da reflexão filosófica herdado do século XVII pareceria tão sem sentido quanto o vocabulário filosófico do século XIII parecia ao Iluminismo. Afirmar a possibilidade de uma cultura pós-kantiana, na qual não há uma disciplina abrangente que legitime ou fundamente as outras, não é necessariamente argumentar contra qualquer doutrina kantiana específica, assim como vislumbrar a possibilidade de uma cultura na qual a religião não existisse ou não tivesse conexão com a ciência ou a política não era necessariamente argumentar contra a afirmação de Tomás de Aquino de que a existência de Deus pode ser provada pela razão natural. Wittgenstein, Heidegger e Dewey nos trouxeram para um período de filosofia “revolucionária” (no sentido da ciência “revolucionária” de Kuhn), introduzindo novos mapas do terreno (ou seja, de todo o panorama das atividades humanas) que simplesmente não incluem aquelas características que antes pareciam dominar.

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

Twenty Twenty-Five

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