(Rorty2009)
São as imagens mais que as proposições, as metáforas mais que as afirmações que determinam a maior parte de nossas convicções filosóficas. A imagem que mantém cativa a filosofia tradicional é a da mente como um grande espelho, contendo variadas representações — algumas exatas, outras não — e capaz de ser estudado por meio de métodos puros, não-empíricos. Sem a noção da mente como espelho, a noção de conhecimento como exatidão de representação não se teria sugerido. Sem esta última noção, a estratégia comum a Descartes e Kant — obter representações mais exatas ao inspecionar, reparar e polir o espelho, por assim dizer — não teria feito sentido. Sem essa estratégia em mente, afirmações recentes de que a filosofia poderia consistir em “análise conceituai”, ou “análise fenomenológica”, ou “explicação de significados”, ou exame da “lógica de nossa linguagem” ou da “estrutura da atividade constitutiva da consciência” não teriam feito sentido. Foi de afirmações como essas que Wittgenstein zombou em Philosophical Investigations e foi seguindo a condução de Wittgenstein que a filosofia analítica progrediu para a postura “pós-positivista” que ocupa presentemente. Mas o talento de Wittgenstein para desconstruir imagens cativadoras precisa ser suplementado pela percepção histórica — percepção da fonte de toda essa imagética especular — e que me parece ser a maior contribuição de Heidegger. O modo de Heidegger recontar a história da filosofia permite que vejamos os princípios da imagética cartesiana nos gregos e as metamorfoses dessa imagética durante os últimos três séculos. Assim ele permite que nos “distanciemos” da tradição. No entanto nem Heidegger nem Wittgenstein nos deixam ver o fenômeno histórico da imagética especular, a história da dominação da mente ocidental por metáforas oculares, dentro de uma perspectiva social. Ambos estão mais ocupados com o indivíduo raramente favorecido do que com a sociedade — com as oportunidades de manter-se à parte da auto-frustração banal dos últimos tempos de uma tradição decadente. Dewey, por outro lado, embora não tivesse nem a acuidade dialética de Wittgenstein, nem a erudição histórica de Heidegger, escreveu suas polêmicas contra a imagética especular tradicional a partir de uma visão de um novo tipo de sociedade. Em sua sociedade ideal, a cultura não mais é dominada pelo ideal de cognição objetiva, mas pelo de aperfeiçoamento estético. Naquela cultura, como ele disse, as artes e as ciências seriam “as flores espontâneas da vida”. Eu gostaria de esperar que estejamos agora na posição de ver as acusações de “relativismo” e “irracionalismo” outrora desferidas contra Dewey meramente como reflexos defensivos impensados da tradição filosófica que ele atacou. Tais acusações não têm peso quando se levam a sério as críticas à imagética especular que ele, Wittgenstein e Heidegger tecem.