Rorty (1999:16) – Heidegger e Derrida como filósofos pós-nietzschianos

Heidegger e Derrida são frequentemente referidos como filósofos «pós-modemos». Utilizei por vezes o termo «pós-moderno» no seu sentido mais estrito definido por Lyotard como «desconfiança das metanarrativas». Mas agora preferiría não o ter feito. O termo tem sido tão utilizado que causa mais problemas que o necessário. Desisti da tentativa de encontrar algo em comum entre os edifícios de Michael Graves, os romances de Pynchon e Rushdie, os poemas de Ashberry, as várias formas de música popular, e as obras de Heidegger e Derrida. Tornei-me mais hesitante em relação a tentativas de periodização da cultura —descrever cada parte de uma cultura como se de repente virassem numa mesma nova direção aproximadamente ao mesmo tempo. As narrativas dramáticas podem bem ser, como Maclntyre sugeriu, essenciais para a escrita da história intelectual. Mas parece-me mais seguro e mais prático periodizar e dramatizar cada disciplina ou gênero separadamente, em vez de tentar vê-los como varridos conjuntamente por mudanças importantes.

Em particular, parece melhor pensar em Heidegger e Derrida simplesmente como filósofos pós-nietzschianos — atribuir-lhes um lugar numa sequência coloquial que parte de Descartes, passa por Kant e Hegel até Nietzsche e para lá dele, em vez de encará-los como iniciando ou manifestando uma ruptura radical. Embora eu admire sem quaisquer reservas a originalidade e poder dos dois pensadores, nenhum deles pode evitar ser encaixado em certos contextos pelos seus leitores. O máximo que uma figura original pode esperar fazer é recontextualizar as suas ou os seus predecessores. Ele ou ela não pode aspirar à realização de uma obra que seja incontextualizável, tal como um comentador como eu não pode aspirar a encontrar o contexto «certo» no qual encaixar essas obras.

[RORTY, Richard. Ensaios sobre Heidegger e Outros. Lisboa: Instituto Piaget, sem data]