Richir (1996:15-17) – Gestell simbólico

Isso nos leva a outra característica, não menos essencial, da instituição simbólica: se há sucessivas elaborações simbólicas, que podem ser cada vez mais refinadas (o que entendemos por “civilização”), de uma instituição simbólica, e que a levam à historicidade simbólica, que até mesmo, às vezes — isso acontece na História, embora raramente —, levam a rupturas simbólicas e ao surgimento de uma nova instituição simbólica (por exemplo: filosofia, ciência moderna, várias religiões ou democracia como uma nova forma de convivência), isso não significa, entretanto, que haja um progresso simbólico de uma instituição para outra. Ao contrário do que parece, não existe uma instituição simbólica “mais simples” ou “mais complexa”; toda instituição simbólica abrange cobre de sua totalidade aparentemente sem fora todo o visível, o pensável, o imaginável e o praticável (o que significa, correlativamente, que sua distribuição e significado mudam de uma instituição para outra); toda nova instituição simbólica é criada por meio da completa reformulação e reelaboração da antiga instituição, que é tão complexa quanto ela, e se há, em geral, progresso simbólico, é, dentro da mesma instituição simbólica, progresso na elaboração e reelaboração simbólica de seu significado, que a refina e modifica ao tornar mais complexos seus recursos para agir e pensar. Entretanto, isso também pode levar à “saturação”, ou seja, à degeneração em “complicação”. A complexidade, portanto, que anda de mãos dadas com todos os refinamentos da sutileza, não deve ser confundida com a complicação, que pode estar tão “morta” na etiqueta ultrapassada de uma Corte quanto nas distinções artificiais de uma escolástica. A esse respeito, uma instituição simbólica, seja ela qual for, sempre pode ser afetada pela degeneração simbólica, no que chamamos de Gestell simbólica, desviando o uso heideggeriano do termo para nossa benefício.

Na Gestell simbólica, a instituição se torna mecânica (o que não significa “mecânica”), patológica, na medida em que parece “pensar” e “agir” no lugar dos seres humanos, esvaziada de todo conteúdo vivo e, assim, entrega os seres humanos à barbárie devastadora da falta de sentido, destruidora do vínculo humano, do vínculo social e, portanto, da humanidade — algo que observamos hoje em praticamente todos os campos de atividade, pelo menos de forma acelerada desde a Primeira Guerra Mundial. Por outro lado, quando a instituição simbólica está “viva”, o progresso simbólico ocorre no conjunto de processos de significado que ocorrem no curso da elaboração simbólica, um conjunto que é social e, portanto, transformador, ativo e vivo, moldando a humanidade, “civilizando” no verdadeiro sentido do termo. Dessa forma, não se pode dizer que nossa era, uma época de fantásticas perdas simbólicas de significado, esteja “progredindo”: ao contrário, ela está evoluindo entre a devastação bárbara, a irrupção múltipla do absurdo e as complicações múltiplas, no sentido das complicações inextricáveis de uma doença que tornam os remédios piores do que os males que supostamente curam, levando assim, aparentemente, a uma situação de incurabilidade.