- tradução
- original
tradução
(…) a responsabilidade não é pensada como uma consequência decorrente de um sujeito “possuir” as suas acções, mas é antes abordada em termos de uma resposta a um acontecimento que é também um chamamento, tematizado em Ser e Tempo como o chamamento da consciência e, em escritos posteriores, como chamada ou encaminhamento (Anspruch) do ser. A responsabilidade não se baseia na sujeição (accountability), mas constitui o Dasein como o chamado (responsiveness). De cada vez, o Dasein é chamado a si próprio; esta é uma chamada a que tenho de responder. E aí reside a fonte oculta e o recurso da responsabilidade – ser responsável significa, antes de mais nada, responder, respondere. Em tal resposta, o Dasein vem a si mesmo. O Dasein “tem de ser” o ser que é. Ter de ser ele mesmo é a responsabilidade originária do Dasein, que pode ser ouvida no “Torna-te o que és!” evocado por Heidegger em Ser e Tempo (SZ, 145). E isto não deve ser entendido onticamente como “Realiza o teu potencial!” mas ontologicamente, como: O que tu és, só podes vir a ser, porque o ser do Dasein é “vir a ser”, porque “é o que se torna ou não se torna” (SZ, 145). O Dasein define-se pela possibilidade, que, como sabemos, “está acima da atualidade” (SZ, 38). Neste “vir a ser” reside o sentido ontológico da responsabilidade como apelo ao ser, apelo do ser. É, pois, uma responsabilidade que define o Dasein, na medida em que ele tem de ser o seu ser num “ter-de-ser” originário. O Dasein vem a si mesmo a partir do chamado.