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O Dasein é um ser ético em sentido primal posto que não é um ser dado, “presente”, mas uma tarefa de ser. Como Heidegger nos recorda no seu curso de conferências de 1929-1930, “esquecemo-nos de que o Dasein não é algo que se possa transportar, por assim dizer, mas algo que o homem tem de assumir de propósito”. Como Heidegger escreveu em Ser e Tempo, “A ‘essência’ (225) do Dasein reside na sua existência” (Das “Wesen” des Daseins liegt in seiner Existenz), uma “sem-essencialidade” que leva à sua definição como potencialidade-para-ser, como um ser-livre em que seu próprio ser está em causa para si próprio. Heidegger explica assim que “o Dasein humano, que tem um mundo, é um ser para o qual a sua própria existência é uma questão, de tal modo que ele se escolhe a si próprio ou renuncia a essa escolha. A existência… é uma questão da nossa liberdade.” O Dasein não tem as suas possibilidades à maneira de predicados; não é um subsistente ao qual se anexa um certo número de propriedades. O Dasein não tem predicados porque em cada caso é a sua potencialidade-para-ser. Precisamente porque a essência do Dasein reside na sua existência, porque tem sempre de ser o seu ser, porque, em suma, o Dasein é um modo de ser, um “como” e não um “o quê”, pode modificar-se ou modalizar-se em modos autênticos e inautênticos. A autenticidade (ser próprio) e a inautenticidade (não ser próprio) estão inscritas na existencialidade entendida como possibilidade. Esta possibilidade é a possibilidade de se escolher a si próprio no seu ser ou de fugir de si próprio “O Dasein compreende-se sempre a si próprio em termos da sua existência — em termos de uma possibilidade de si próprio: ser ele próprio ou não ser ele próprio… Só o Dasein particular decide a sua existência, quer o faça por se apoderar ou por negligenciar” (SZ, 12). Para o Dasein, ser significa ter de ser. Tendo de ser o ser que “é”, o Dasein pode comportar-se em relação a ele de uma forma ou de outra. Mais precisamente, pode comportar-se em relação a ele autenticamente (o que significa, como seu próprio) ou inautenticamente:
Em cada caso, o Dasein é a sua possibilidade, e ele “tem” essa possibilidade, mas não apenas como uma propriedade, como algo presente à mão teria. Para além disso, porque o Dasein é, em cada caso, essencialmente a sua própria possibilidade, pode, no seu próprio Ser, “escolher-se” a si próprio e ganhar-se a si próprio; pode também perder-se a si próprio e nunca ganhar-se a si próprio; ou apenas “parecer” fazê-lo. (SZ, 42)
Em última análise, na modalidade autêntica de existir, não nos deslocamos para um plano distinto da existência fáctica. A autenticidade não tem outro conteúdo senão o do existir quotidiano; é apenas uma forma modificada do mesmo: “A autenticidade é apenas uma modificação, mas não uma obliteração total da inautenticidade” (GA24, 243/171). O Dasein autêntico permanece, assim, facticidade através de tudo. A sua eticidade é, portanto, também fáctica, uma característica da própria existência.