Raffoul (2010:286-287) – impossível como possível

(Raffoul2010)

O impossível torna-se a possibilidade do possível. Aqui podemos vislumbrar o pensamento renovado do possível e do impossível no pensamento de Derrida: o impossível como possível e o possível como impossível, a possibilidade do impossível. O impossível já não seria o oposto do possível, nem o limite onde o possível termina, mas, ao contrário, aquilo que “assombra o possível” (DE, 98), aquilo que verdadeiramente “torna possível” ou possibilita o possível. Derrida afirma que o impossível é possível, não no sentido de que se tornaria possível, mas em um sentido mais radical, no qual o impossível, enquanto impossível, é possível. Paralelamente, trata-se de “converter o possível no [287] impossível” e de reconhecer que, se o impossível é possível (como impossível), o possível é, de certa forma, impossível, ou seja, emerge de uma aporia. Esse pensamento transformará radicalmente nossa compreensão do possível e do impossível. É por isso que, em Voyous, Derrida insiste que “trata-se de um outro pensamento do possível (do poder, do ‘eu posso’ soberano e dominador, da própria identidade) e de um im-possível que não seria apenas negativo” (V, 197)1. No contexto de uma discussão sobre o evento, Derrida sugere que o possível e o impossível, longe de serem noções opostas, são, em certo sentido, o mesmo, pertencendo a um mesmo domínio. Ele escreve:

Direi, tentarei mostrar mais adiante em que sentido a impossibilidade, uma certa impossibilidade de dizer o evento ou uma certa possibilidade impossível de dizer o evento, nos obriga a pensar de outro modo… o que ‘possível’ significa na história da filosofia. Em outras palavras, tentarei explicar por que e como entendo a palavra ‘possível’ na afirmação em que esse ‘possível’ não é simplesmente ‘diferente de’ ou o ‘contrário do impossível’, por que aqui ‘possível’ e ‘impossível’ dizem o mesmo. (DE, 86)

  1. As referências “DE” e “V” correspondem a obras de Derrida, como De l’événement (ou outras abreviações contextuais) e Voyous (2003), respectivamente.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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