questão fundamental da metafísica

Grundfrage der Metaphysik

Se, entretanto, está fora de dúvida que o pensamento que procura pensar a verdade do ser (Wahrheit des Seins) trazendo consigo é verdade, o peso do antigo costume da representação do ente (Vorstellens des Seienden) enquanto tal se perde até a si mesmo, nesta representação (Vorstellen), então nada mais se torna tão necessário, seja para a primeira reflexão, seja para a preparação da passagem do pensamento que representa para aquele que realmente pensa, quanto à pergunta: Que é metafísica?

O desenvolvimento desta questão pela preleção que segue desemboca, por sua vez, numa pergunta. Ela se chama a questão fundamental da metafísica e diz: Por que é afinal ente e não muito antes Nada? (Warum ist überhaupt Seiendes und nicht vielmehr Nichts?) Discutiu-se, entretanto, muito sobre a angústia (Angst) e o nada (Nichts) que foram abordados na prelação. Mas ninguém teve a ideia de meditar por que a preleção que procura pensar, partindo do pensamento (Denken) da verdade do ser, no nada, e (86) a partir deste, na essência da metafísica (Wesen der Metaphysik), considera a questão formulada como a questão fundamental da metafísica. Será que isto não poria na cabeça de algum ouvinte atento uma suspeita mais grave que todo o zelo contra a angústia e o nada? Pela questão final vemo-nos colocados diante da suspeita de que uma reflexão que procura pensar o ser, seguindo o caminho do nada, retorne no fim novamente a uma questão sobre o ente. Na medida em que esta questão, ainda no estilo tradicional de questionar da metafísica, pergunta causalmente conduzida pelo “porque”, o pensamento do ser é totalmente negado em favor do conhecimento representados do ente a partir do ente. Para acúmulo de tudo, a questão final é, sem dúvida, aquela que o metafísico Leibniz formulou em seu Príncipes de la Nature e de la Grace: “Pourquoi il y a plutôt quelque chose que rien?” (Edição Gerhardt, tomo VI, 602, número 7).

Não fica, assim, a preleção aquém de seus propósitos? Isto poderia acontecer visto a dificuldade da passagem da metafísica para o outro pensamento. Não formula a exposição em seu final, com Leibniz, a questão metafísica da causa suprema de tudo o que é? Por que, então, o que seria conveniente, não é citado o nome de Leibniz?

Ou será que a pergunta é formulada em sentido inteiramente diferente? Se ela não interroga pelo ente (Seiende) e não esclarece a última causa ôntica deste, então deve a pergunta partir daquilo que não é o ente. Tal coisa a pergunta nomeia e o escreve com letra maiúscula: O Nada que a preleção meditou como seu único tema. É preciso meditar o final desta preleção a partir do ponto de vista que lhe é próprio e que em tudo a orienta. Então aquilo que é citado como a questão fundamental da metafísica deveria ser formulado na perspectiva da ontologia fundamental , como a questão que brota do fundamento da metafísica e como a questão que por este fundamento interroga.

Como devemos nós, então, compreender a questão que encerra a preleção, se estamos de acordo que esta, no seu final, retorna a seu objetivo próprio?

O teor da questão é o seguinte: Por que afinal ente e não antes Nada? Suposto que não pensamos a verdade do ser mais no âmbito da metafísica e metafisicamente como de costume, mas a partir da essência e da verdade da metafísica, então o sentido da questão que encerra a preleção pode ser o seguinte: Donde vem, que, em toda parte, o ente tem a hegemonia e reivindica para si todo o “é”, enquanto fica esquecido aquilo que não é um ente, o nada aqui pensado como o próprio ser. Donde vem que propriamente nada é com o ser e que o nada propriamente não é (west)? Não vem daqui a aparência inabalável para a metafísica de que o “ser” é evidente e que, em consequência disso, o nada se torna menos problemático que o ente? Tal é realmente a situação em torno do ser e do nada. Se as coisas fossem diferentes para a metafísica, então Leibniz não poderia dizer, na passagem referida, esclarecendo: “Car le rien est plus simple et plus facile que quelque chose”. (87)

O que permanece mais enigmático, o fato de que o ente é ou o fato de que o ser é? Ou não chegamos também, nem mesmo com esta reflexão, até a proximidade do enigma que aconteceu com o ser do ente?

Seja qual for um dia a resposta, o tempo, entretanto, se terá tornado mais maduro para pensar a combatida preleção Que é Metafísica?, uma vez a partir de seu final, a partir de seu final, não a partir de um final qualquer imaginado. (MHeidegger O RETORNO AO FUNDAMENTO DA METAFÍSICA)