projeto

Entwurf

Se, porém, a sua própria constituição de ser não tiver sido explicitada previamente de modo adequado, a reconstrução procederá sem qualquer PROJETO. STMSC: §21

decerto, “compreensibilidade” para o compreender enquanto PROJETO e este como temporalidade ekstática} e, assim, compreendido ontologicamente de modo originário tanto a manualidade quanto o ser simplesmente dado. STMSC: §21

Por que o compreender, em todas as dimensões essenciais do que nele se pode abrir, sempre conduz as possibilidades? Porque, em si mesmo, compreender possui a estrutura existencial que chamamos de PROJETO. O compreender projeta o ser da presença [Dasein] para o seu em virtude de e isso de maneira tão originária como para a significância, entendida como mundanidade de seu mundo. O caráter projetivo do compreender constitui o ser-no-mundo no tocante a abertura do seu pre [das Da], enquanto pre [das Da] de um poder-ser. O PROJETO é a constituição ontológico-existencial do espaço de articulação do poder-ser fático. E, na condição de lançada, a presença [Dasein] se lança no modo de ser do PROJETO. O projetar-se nada tem a ver com um possível relacionamento frente a um plano previamente concebido, segundo o qual a presença [Dasein] instalaria o seu ser. Ao contrário, como presença [Dasein], ela já sempre se projetou e só é em se projetando. Na medida em que é, a presença [Dasein] já se compreendeu e sempre se compreenderá a partir de possibilidades. O caráter projetivo do compreender diz, ademais, que a perspectiva em virtude da qual ele se projeta apreende as possibilidades mesmo que não o faça tematicamente. Essa apreensão retira do que é projetado justamente o seu caráter de possibilidade, arrastando-o para um teor dado e referido, ao passo que, no projetar, o PROJETO lança previamente para si mesmo a possibilidade como possibilidade e assim a deixa ser. Enquanto PROJETO, compreender é o modo de ser da presença [Dasein] em que a presença [Dasein] é as suas possibilidades enquanto possibilidades. STMSC: §31

Com base no modo de ser que se constitui através do existencial do PROJETO, a presença [Dasein] é sempre “mais” do que é fatualmente, mesmo que se quisesse ou pudesse registrá-la como um ser simplesmente dado em seu teor ontológico. No entanto, ela nunca é mais do que é faticamente, porque o poder-ser pertence essencialmente a sua facticidade. Também a presença [Dasein], enquanto possibilidade de ser, nunca é menos, o que significa dizer que aquilo que, em seu poder-ser, ela ainda não é, ela é existencialmente. Somente porque o ser do “pre” [das Da] recebe sua constituição do compreender e de seu caráter projetivo, somente porque ele é tanto o que será quanto o que não será é que ela pode, ao se compreender, dizer: “venha a ser o que tu és!” {CH: mas quem “tu” és? Aquele como o qual tu te projetas a ti mesmo – aquele como tu te tornas}. STMSC: §31

O PROJETO sempre diz respeito a toda a abertura de ser-no-mundo; como poder-ser, o próprio compreender possui possibilidades prelineadas pelo âmbito do que nele é passível de se abrir essencialmente. O compreender pode colocar-se primariamente na abertura de mundo, ou seja, a presença [Dasein] pode, numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, compreender-se a partir de seu mundo. Ou ainda, o compreender lança-se primariamente para o em virtude de, isto é, a presença [Dasein] existe como ela mesma {CH: mas não como sujeito, indivíduo ou pessoa}. Brotando de seu si mesmo em sentido próprio, o compreender é próprio ou impróprio. “Im”-próprio não significa que a presença [Dasein] rompa consigo mesma e “só” compreenda o mundo. Mundo pertence ao seu ser-si-mesmo como ser-no-mundo. Por isso, o compreender propriamente e o compreender impropriamente podem ser autênticos ou inautênticos. Enquanto um poder-ser, o compreender está inteiramente impregnado de possibilidade. O translado para uma dessas possibilidades fundamentais da compreensão não deixa de lado as demais. A transferência inerente ao compreender é uma modificação existencial do PROJETO como um todo porque o compreender sempre diz respeito a toda a abertura da presença [Dasein] como ser-no-mundo. No compreender de mundo, o ser-em também é sempre compreendido. Compreender de existência como tal é sempre compreender mundo. STMSC: §31

Em seu caráter existencial de PROJETO, compreender constitui o que chamamos de visão da presença [Dasein]. A visão que, junto com a abertura do pre [das Da], se dá existencialmente e, de modo igualmente originário, a presença [Dasein], nos modos básicos de seu ser já caracterizados, a saber, a circunvisão da ocupação, a consideração da preocupação, a visão de ser em virtude da qual a presença [Dasein] é sempre como ela é. Chamamos de transparência (Durchsichtigkeit) a visão que se refere primeira e totalmente à existência. Escolhemos esse termo para designar o “conhecimento de si mesmo”, bem entendendo-se que não se trata de um exame perceptivo e nem tampouco da inspeção de si mesmo como um ponto, mas de uma captação compreensiva de toda a abertura do ser-no-mundo através dos momentos essenciais de sua constituição. O ente que existe tem a visão de “si” somente à medida que ele se faz, de modo igualmente originário, transparente em seu ser junto ao mundo, em seu ser-com os outros, enquanto momentos constitutivos de sua existência. STMSC: §31

A abertura do pre [das Da] da presença [Dasein] no compreender é ela mesma um modo do poder-ser da presença [Dasein]. A abertura do ser em geral {CH: como ela está aí e o que significa ser?} consiste na projeção do ser da presença [Dasein] para o em virtude de e para a significância (mundo). No projetar de possibilidades já se antecipou uma compreensão de ser. Ser é compreendido {CH: não significa, porém, que o ser “seja” por graça do PROJETO} no PROJETO e não concebido ontologicamente. O ente que possui o modo de ser do PROJETO essencial de ser-no-mundo tem a compreensão de ser como um constitutivo de seu ser. O que anteriormente foi suposto de forma dogmática recebe agora sua demonstração a partir da constituição de ser em que a presença [Dasein] como um compreender é o seu pre [das Da]. Dentro dos limites dessa investigação, só se poderá alcançar um esclarecimento satisfatório do sentido existencial dessa compreensão de ser com base na interpretação temporânea de ser. STMSC: §31

Enquanto existenciais, a disposição e o compreender caracterizam a abertura originária de ser-no-mundo. No modo de ser do humor, a presença [Dasein] “vê” possibilidades a partir das quais ela é. Na abertura projetiva dessas possibilidades, ela já está sempre afinada pelo humor. O PROJETO do poder-ser mais próprio está entregue ao fato de ser lançado no pre [das Da] da presença [Dasein]. Mas não será que, com a explicação da constituição existencial do ser do pre [das Da], no sentido do PROJETO projetado, o ser da presença [Dasein] se torna ainda mais enigmático? Com efeito. Devemos primeiro deixar despontar todo o enigma desse ser, quer para fracassar com autenticidade na tentativa de “resolvê-lo”, quer para recolocar de modo novo a questão do ser-no-mundo que se lançou em projetos. STMSC: §31

Ou será que a estrutura prévia do compreender e a estrutura-como da interpretação estabelecem um nexo ontológico-existencial com o fenômeno do PROJETO? STMSC: §32

Sentido é a perspectiva na qual se estrutura o PROJETO pela posição prévia, visão prévia e concepção prévia. STMSC: §32

A ambiguidade não diz respeito apenas ao dispor e ao tratar com o que pode estar acessível num uso e numa fruição, mas já se consolidou no compreender como um poder-ser, no modo do PROJETO e da doação preliminar de possibilidades da presença [Dasein]. STMSC: §37

O modo em que a precipitação se movimenta para e, na falta de solidez do ser impróprio, no impessoal, arranca constantemente o compreender do PROJETO de possibilidades próprias, lançando-o numa pretensão tranquilizada de possuir ou alcançar tudo. STMSC: §38

Isso, no entanto, nunca significa que “ser” seja apenas “subjetivo” e sim ser (como ser dos entes) como diferença “na” presença [Dasein] enquanto ela é um projetar-se (do PROJETO)} dos entes a cujo ser pertence a uma compreensão de ser. STMSC: §39

O próprio em virtude de não é apreendido, e o PROJETO de poder-ser ela mesma fica entregue ao talante do impessoal. STMSC: §41

Para a possibilidade ontológica do querer são constitutivos: a abertura prévia do em-virtude-de que (o anteceder-a-si-mesma), a abertura do que se pode ocupar (o mundo como algo em que já se é) e o PROJETO de compreender da presença [Dasein] num poder-ser para a possibilidade de um ente “que se quis”. STMSC: §41

A perfectio do homem, o ser para aquilo que, em sua liberdade, pode ser para suas possibilidades mais próprias (para o PROJETO), é um “desempenho” da “cura”. STMSC: §42

O “duplo sentido” de “cura” significa uma constituição fundamental em sua dupla estrutura essencial de PROJETO lançado. STMSC: §42

O PROJETO pertence à constituição de ser da presença [Dasein]: do ser que se abre para o seu poder-ser. STMSC: §44

Enquanto PROJETO para as possibilidades de ser, o compreender aí já se inseriu. STMSC: §44

A condição ontológico-existencial para se determinar o ser-no-mundo através de “verdade” e “não-verdade” reside na constituição de ser da presença [Dasein] {CH: da presença [Dasein] e por isso da in-sistência}, por nós caracterizada como o PROJETO lançado. STMSC: §44

O PROJETO de um sentido do ser em geral pode cumprir-se {CH: vigência (advento e acontecimento)} no horizonte do tempo. STMSC: §45

As investigações referidas a essas questões articulam-se da seguinte maneira: a possibilidade de se experimentar a morte dos outros e de se apreender toda a presença [Dasein] (§47); o pendente, o fim e a totalidade (§48); a delimitação da análise existencial da morte frente a outras interpretações possíveis do fenômeno (§49); prelineamento da estrutura ontológico-existencial da morte (§50); o ser-para-a-morte e a cotidianidade da presença [Dasein] (§51); o ser-para-o-fim cotidiano e o pleno conceito existencial da morte (§52); o PROJETO existencial de um ser-para-a-morte em sentido próprio (§53). STMSC: §46

Numa primeira aproximação e na maior parte das vezes, a presença [Dasein] se atém faticamente a um ser-para-a-morte impróprio. Como se haverá de caracterizar “objetivamente” a possibilidade ontológica de um ser-para-a-morte em sentido próprio? Sobretudo porque a presença [Dasein] finalmente jamais se comporta com propriedade em relação ao seu fim e porque, de acordo com seu sentido, o ser próprio com relação ao fim deve sempre permanecer velado para os outros. O PROJETO da possibilidade existencial de um poder-ser existenciário digno de questão não seria, pois, um empreendimento fantástico? O que se faz necessário para que tal PROJETO ultrapasse uma construção meramente arbitrária e fictícia? Será que a própria presença [Dasein] propicia alguma indicação para esse PROJETO? Podem extrair-se da própria presença [Dasein] fundamentos para a sua legitimidade fenomenal? Será que a tarefa ontológica agora proposta pode retirar da análise feita da presença [Dasein] um esboço prévio, de modo a garantir pistas seguras para este seu propósito? STMSC: §53

A presença [Dasein] constitui-se pela abertura, isto é, por uma compreensão determinada por disposições. Ser-para-a-morte em sentido próprio não pode escapar da possibilidade mais própria e irremissível e, nessa fuga, encobri-la e alterar o seu sentido em favor da compreensão do impessoal. O PROJETO existencial de um ser-para-a-morte em sentido próprio deve, portanto, elaborar os momentos desse ser que o constituem como compreensão da morte, no sentido de um ser para a possibilidade caracterizada, que nem foge e nem encobre. STMSC: §53

Ser-para-a-morte é antecipar o poder-ser de um ente cujo modo de ser é, em si mesmo, o antecipar. Ao desvelar numa antecipação esse poder-ser, a presença [Dasein] abre-se para si mesma, no tocante à sua possibilidade mais extrema. Projetar-se para seu poder-ser mais próprio significa, contudo: poder compreender-se no ser de um ente assim desvelado: existir. A antecipação comprova-se como possibilidade de compreender seu poder-ser mais próprio e mais extremo, ou seja, enquanto possibilidade de existir em sentido próprio. A sua constituição ontológica deve fazer-se visível com a elaboração da estrutura concreta do antecipar da morte. Como se cumpre a delimitação fenomenal dessa estrutura? Manifestamente no modo em que determinarmos os caracteres de sua abertura antecipadora a fim de se poder compreender puramente a possibilidade mais própria, irremissível, insuperável, certa e, como tal, indeterminada. Deve-se ainda atentar a que, primariamente, compreender não diz agarrar um sentido, mas compreender-se em suas possibilidades de ser, desveladas no PROJETO. STMSC: §53

Todas as remissões para o conteúdo integral da possibilidade mais extrema da presença [Dasein], que pertencem ao ser-para-a-morte, congregam-se para desvelar, desdobrar e consolidar o antecipar por ela constituída enquanto o que possibilita essa possibilidade. Ao se delimitar no PROJETO existencial o antecipar, tornou-se visível a possibilidade ontológica de um ser-para-a-morte em sentido próprio e existenciário. Com isso, surge também a possibilidade de a presença [Dasein] poder-ser toda em sentido próprio, mas somente como uma possibilidade ontológica. O PROJETO existencial do antecipar deteve-se, na verdade, nas estruturas da presença [Dasein] anteriormente conquistadas, permitindo que a própria presença [Dasein] se lançasse para essa possibilidade, sem imposição e pressão de um determinado “conteúdo” como ideal de existência. Apesar disso, esse ser-para-a-morte existencialmente “possível” permaneceu, do ponto de vista existenciário, uma suposição fantástica. A possibilidade ontológica de a presença [Dasein] poder-ser toda em sentido próprio nada significa, porém, enquanto não se demonstrar, a partir da própria presença [Dasein], o poder-ser ôntico que lhe corresponde. Será que, de fato, a presença [Dasein] sempre se lança num ser-para-a-morte? Será que ela exige um poder-ser em sentido próprio, determinado pelo antecipar, somente com base em seu ser mais próprio? STMSC: §53

O ser da presença [Dasein] é a cura. Ela compreende em si facticidade (estar-lançado), existência (PROJETO) e decadência. Sendo, a presença [Dasein] é lançada, mas não foi levada por si mesma para o seu pre [das Da]. Ela é em se determinando como poder-ser que pertence a si mesma, mas não no sentido de ter dado a si mesma o que tem de próprio. Existindo, ela nunca retorna aquém de seu estar-lançado, de tal modo que sempre só pudesse desenvolver esse “que é e (comporta) um ter de ser” propriamente a partir de seu ser si mesma e conduzi-lo ao seu pre [das Da]. O estar-lançado não se encontra aquém dela como um acontecimento que de fato ocorreu e que se teria desprendido da presença [Dasein] e com ela acontecido. Mas enquanto é, e como cura, a presença [Dasein] é constantemente o seu “que é”. Existindo, a presença [Dasein] é o fundamento de seu poder-ser porque só pode existir como o ente que está entregue à responsabilidade de ser o ente que ela é. Embora não tendo ela mesma colocado o fundamento, a presença [Dasein] repousa em sua gravidade que, no humor, se revela como peso. STMSC: §58

Sendo-fundamento, ou seja, existindo como lançada, a presença [Dasein] permanece constantemente aquém de suas possibilidades. Ela nunca pode existir antes e diante de seu fundamento mas sempre e somente a partir dele e enquanto ele. Ser-fundamento diz, portanto, nunca poder apoderar-se do ser mais próprio em seu fundamento. Esse não pertence ao sentido existencial do estar-lançado. Sendo-fundamento, a própria presença [Dasein] é um nada de si mesma. Nada não significa, em absoluto, não ser simplesmente dado, não subsistir, mas o não constitutivo desse ser da presença [Dasein], de seu estar-lançado. O caráter desse não determina-se, existencialmente, da seguinte maneira: sendo si-mesma, a presença [Dasein] é o ente que está-lançado enquanto si mesmo. Não por si mesma, mas em si mesma solta desde seu fundamento para ser enquanto esse fundamento. A presença [Dasein] não é o fundamento de seu ser porque este fundamento resultaria do próprio PROJETO. Mas enquanto ser si-mesmo, ela é o ser do fundamento. Esse é sempre e apenas fundamento de um ente cujo ser tem de assumir ser-fundamento. STMSC: §58

Existindo, a presença [Dasein] é seu fundamento, ou seja, é de tal modo que ela se compreende a partir de possibilidades e, assim se compreendendo, é o ente lançado. Isso implica, no entanto, que: podendo-ser, ela está sempre numa ou noutra possibilidade, ela constantemente não é uma ou outra e, no PROJETO existenciário, recusa uma ou outra. Enquanto lançado, o PROJETO não se determina apenas pelo nada de ser-fundamento. Enquanto PROJETO, ele é em si mesmo essencialmente um nada. Todavia, essa determinação não significa, de modo algum, a qualidade ôntica do que não tem “sucesso” ou “valor”, mas um constitutivo existencial da estrutura ontológica do projetar-se. O nada mencionado pertence à presença [Dasein] enquanto o ser-livre para suas possibilidades existenciárias. A liberdade, porém, apenas se dá na escolha de uma possibilidade, ou seja, implica suportar não ter escolhido e não poder escolher outras. STMSC: §58

Assim como na estrutura do PROJETO, o nada está essencialmente inserido na estrutura do estar-lançado. E este é o fundamento da possibilidade do nada da presença [Dasein] imprópria na decadência que, como tal, ela de fato já sempre se dá. Em sua essência, a cura está totalmente impregnada do nada. A cura – o ser da presença [Dasein] – enquanto PROJETO lançado diz, por conseguinte: o ser-fundamento (nulo) de um nada. E isso significa: desde que se justifique a forma de determinação existencial da dívida como ser-fundamento de um nada, a presença [Dasein] como tal é e está em dívida. STMSC: §58

O apelo é apelo da cura. O ser e estar em dívida constitui o ser que chamamos de cura. Na estranheza, a presença [Dasein] se encontra originariamente reunida consigo mesma. A estranheza coloca esse ente diante de seu nada inconfundível, o qual pertence à possibilidade de seu poder-ser mais próprio. Na medida em que, para a presença [Dasein] enquanto cura, o que está em jogo é o seu ser, a partir da estranheza, ela faz apelo a si mesma, enquanto faticamente decadente no impessoal, para assumir o seu poder-ser. A interpelação é uma reclamação apeladora: a-pelar a possibilidade de, em existindo, assumir, em si mesmo, o ente-lançado que é; re-clamar para o estar-lançado de modo a se compreender como fundamento do nada a ser assumido na existência. A reclamação apeladora da consciência oferece para a presença [Dasein] a compreensão de que ela, na possibilidade de seu ser, é o fundamento nulo de seu PROJETO nulo, devendo recuperar-se para si mesma da perdição no impessoal, ou seja, de que ela é e está em dívida. STMSC: §58

O querer-ter-consciência é, sobretudo, a pressuposição existenciária mais originária da possibilidade do ser e estar faticamente em dívida. Compreendendo o apelo, a presença [Dasein] deixa que o si-mesmo mais próprio aja dentro dela a partir da possibilidade de ser escolhida. Apenas assim ela pode ser responsável. Faticamente, porém, toda ação é necessariamente “desprovida de consciência” não só porque ela de fato não evita a culpabilização moral mas porque, fundada no nada de seu PROJETO nulo, sempre já está em dívida com os outros. Assim, o querer-ter-consciência significa assumir a falta essencial de consciência, unicamente aonde subsiste a possibilidade existenciária de ser “bom”. STMSC: §58

O decisivo é justamente o PROJETO e a determinação que abrem as possibilidades faticamente dadas a cada vez. STMSC: §60

Todavia, mesmo assim, o ser-para-a-morte próprio enquanto poder-ser todo de modo próprio, existencialmente deduzido, permanece um PROJETO puramente existencial, que ainda necessita de um testemunho da presença [Dasein]. STMSC: §60

O PROJETO ontológico do poder-ser todo em sentido próprio não levou a uma dimensão da presença [Dasein] muito distante do fenômeno da decisão? STMSC: §61

Será que a tentativa de forçar a união entre decisão e antecipação não leva a uma construção insuportável, de todo não fenomenológica, que nem é capaz de reivindicar o caráter de um PROJETO ontológico com base fenomenal? STMSC: §61

Até aqui, ele só podia valer como PROJETO ontológico. STMSC: §62

O caminho já percorrido da analítica da presença [Dasein] transforma-se em demonstração concreta da tese, de início apenas mencionada: do ponto de vista ontológico, o ente que nós mesmos somos é o mais distante. Isto se deve à própria cura. O ser decadente junto às ocupações imediatas do “mundo” guia a interpretação cotidiana da presença [Dasein] e encobre, onticamente, o ser próprio da presença [Dasein], a recusando {CH: equívoco! como se fosse possível derivar a ontologia de uma legítima ôntica. O que poderia ser uma legítima ôntica senão o que provém legitimamente de um PROJETO pré-ontológico – caso tudo deva ficar nesta distinção?}, assim, uma base adequada à ontologia orientada para esse ente. Por isso, mesmo que a ontologia siga, inicialmente, a corrente da interpretação cotidiana da presença [Dasein], o dado fenomenal originário desse ente é sempre evidente. A liberação do ser originário da presença [Dasein] deve ser, sobretudo, arrancada dela própria em contracorrente à tendência de interpretação ôntico-ontológica da decadência. STMSC: §63

O modo de ser da presença [Dasein] exige, portanto, de uma interpretação ontológica, isto é, daquela que se pôs como meta a originariedade da demonstração fenomenal, que essa interpretação conquiste o ser desse ente contra sua tendência própria de encobrimento. É por isso que, para as pretensões de auto-suficiência e evidência tranquila inerentes à interpretação cotidiana, a análise existencial guarda sempre um caráter de violência. Esse caráter distingue, de maneira especial, a ontologia da presença [Dasein], embora seja próprio de toda interpretação, visto que o compreender que nela se constrói tem a estrutura de PROJETO. Mas para tanto não se dá sempre uma orientação e regras próprias? De onde os projetos ontológicos devem retirar a evidência da adequação fenomenal a seus “achados”? A interpretação ontológica projeta o ente preliminarmente dado em seu próprio ser, de modo a chegar ao conceito de sua estrutura. Onde o caminho encontra as indicações para direcionar o PROJETO de maneira a alcançar o ser? E se, em seu modo de ser, até o ente temático velar o seu próprio ser para a analítica existencial? A resposta a essas questões deve limitar-se, inicialmente, ao esclarecimento, por elas exigido, da analítica da presença [Dasein]. STMSC: §63

Mas ainda assim de onde se deve retirar o que constitui “propriamente” a existência da presença [Dasein]? Sem uma compreensão existenciária, toda análise da existencialidade permanece sem solidez. Será que a interpretação da propriedade e totalidade da presença [Dasein] não tem por base uma concepção ôntica da existência que, não obstante possível, não precisa, obrigatoriamente, impor-se a toda e qualquer concepção de existência? A interpretação existencial nunca pretenderá exercer poder sobre as possibilidades e obrigações existenciárias. Mas não deverá ela justificar a si mesma no que tange às possibilidades existenciárias com as quais ela oferece um solo ôntico para a interpretação ontológica? Se, de modo essencial, o ser da presença [Dasein] é poder-ser e ser-livre para as suas possibilidades mais próprias, e se ele só existe na liberdade e não-liberdade para estas possibilidades, poderá então a interpretação ontológica basear-se em outras possibilidades senão as ônticas (modos de poder-ser) e projetá-las sobre a sua possibilidade ontológica? E se, na maior parte das vezes, a presença [Dasein] se interpreta a partir da perdição no “mundo” das ocupações? Nesse caso, a determinação das possibilidades ôntico-existenciárias, conquistada em contracorrente à perdição, e a análise existencial que nelas se funda não constituiriam o modo de abertura adequado a esse ente? A violência do PROJETO não se tornaria, assim, cada vez, uma liberação do teor fenomenal não distorcido da presença [Dasein]? STMSC: §63

Mesmo não sendo arbitrário, será que o PROJETO ôntico-ontológico da presença [Dasein] para um poder-ser todo em sentido próprio já se legitima com a interpretação existencial desse fenômeno? De onde ela retira o fio condutor a não ser da “pressuposição” da ideia de existência? A partir de onde os passos da análise da cotidianidade imprópria retiram suas regras a não ser da suposição de um conceito de existência? E quando dizemos: a presença [Dasein] “decai” e, por isso, a propriedade do poder-ser deve ser arrancada contra essa tendência de ser – de que ponto de vista se está falando? Tudo isso não se esclarece de algum modo, mesmo que obscuramente, à luz da “pressuposição” de uma ideia da existência? De onde ela retira seu direito? Teria sido destituído de orientação o seu primeiro PROJETO indicador? De modo nenhum. STMSC: §63

Sem dúvida, já na análise da estrutura do compreender mostrou-se que a deficiência constatada na expressão inadequada de “círculo” pertence à essência e à especificidade do próprio compreender. No entanto, a investigação deve retomar agora, explicitamente, o “argumento do círculo”, no tocante ao esclarecimento da situação hermenêutica da problemática ontológico-fundamental. A “objeção do círculo”, levantada contra a interpretação existencial, quer dizer: a ideia de existência e a ideia de ser são “pressupostas” e “segundo elas” interpreta-se a presença [Dasein] para então se conquistar a ideia de ser. Mas o que significa “pressupor”? Será que com a ideia de existência se estabelece, de início, uma sentença a partir da qual se deduz, mediante regras formais de consequência, outras sentenças sobre o ser da presença [Dasein]? Ou será que esse pré-supor possui o caráter de um PROJETO que compreende? Nesse caso, a interpretação formada no compreender daria a palavra ao que se deve interpretar para que ele mesmo decida como este ente fornece a constituição de ser, em virtude da qual se abriu no PROJETO de maneira formalmente indicativa? Será que no que concerne a seu ser, algum ente pode vir à palavra de outra maneira? Na comprovação de alguma coisa, a analítica existencial jamais pode “evitar” um “círculo” porque ela não faz, de modo algum, comprovações segundo as regras da “lógica de consequência”. Para pretensamente satisfazer o máximo rigor de uma investigação científica e evitar o “círculo”, a compreensibilidade coloca de lado nada menos do que a estrutura fundamental da cura. Originariamente constituída pela cura, a presença [Dasein] já sempre antecede-a-si-mesma. Sendo, ela sempre já se projetou para determinadas possibilidades de sua existência, projetando também, de forma pré-ontológica nesses projetos existenciários, a existência e o ser. Pode-se então recusar esse projetar-se essencial da presença [Dasein] à pesquisa que, sendo, como toda pesquisa, um modo de ser da abertura da presença [Dasein], quer elaborar e conceituar a compreensão de ser constitutiva da existência? STMSC: §63

A própria “objeção do círculo”, contudo, provém de um modo de ser da presença [Dasein]. A compreensibilidade do empenho impessoal nas ocupações permanece, necessariamente, estranha a toda espécie de PROJETO, sobretudo de um PROJETO ontológico, porque ela, “em princípio”, se fecha para ele. Quer “teórica”, quer “praticamente”, a compreensibilidade só se ocupa dos entes passíveis de serem supervisionados pela circunvisão. O distintivo da compreensibilidade reside em pretender fazer somente a experiência “fatual” de A um ente para poder esquivar-se a uma compreensão do ser. Ela desconhece que mesmo para se fazer a experiência “fatual” de um ente é preciso já se ter compreendido o ser, não obstante sem conceituá-lo. A compreensibilidade não compreende o compreender. E por isso ela também precisa, necessariamente, dar como “violento” a tanto o que está além de seu âmbito de compreensão como o próprio estar além. STMSC: §63

Do ponto de vista ontológico, o que se busca com o sentido da cura? O que significa sentido? A investigação deparou-se com esse fenômeno no contexto da análise do compreender e da interpretação. De acordo com a análise, sentido é o contexto no qual se mantém a possibilidade de compreender alguma coisa, sem que ele mesmo seja explicitado ou, tematicamente, visualizado. Sentido significa a perspectiva do PROJETO primordial a partir do qual alguma coisa pode ser concebida em sua possibilidade como aquilo que ela é. O projetar abre possibilidades, isto é, o que possibilita. STMSC: §65

Liberar a perspectiva de um PROJETO diz abrir o que possibilita o projetado. Do ponto de vista do método, essa liberação exige que se persiga o PROJETO, à base da interpretação, embora, na maior parte das vezes, implícito, de tal maneira que o projetado no PROJETO possa se apreender e abrir no tocante à sua perspectiva. Expor o sentido da cura significa, portanto: perseguir o PROJETO orientador e fundamental da interpretação existencial originária da presença [Dasein] para que se torne visível a perspectiva do projetado. O projetado é o ser da presença [Dasein] e este enquanto o aberto no poder-ser todo em sentido próprio, que o constitui. A perspectiva deste PROJETO, do ser que assim se abriu e constituiu, é o que possibilita esta constituição de ser como cura. A questão do sentido da cura é, pois, a seguinte: o que possibilita a totalidade articulada do todo estrutural da cura na unidade desdobrada de suas articulações. STMSC: §65

Rigorosamente, sentido significa a perspectiva do PROJETO primordial de um compreender ser. Com o ser deste ente que ele mesmo é, o ser-no-mundo compreende o ser dos entes intramundanos, de maneira igualmente originária, embora não temática e até indiferenciada, em seus modos primários de existência e realidade. Toda experiência ôntica de um ente, tanto a avaliação do que está à mão a numa circunvisão como o conhecimento científico de algo simplesmente dado, está sempre fundada em projetos mais ou menos transparentes do ser do respectivo ente. Mas estes projetos guardam em si uma perspectiva da qual se alimenta, por assim dizer, a compreensão de ser. STMSC: §65

Dizer que o ente “tem sentido” significa que ele se tornou acessível em seu ser, que só então, projetado em sua perspectiva, ele “propriamente” “tem sentido”. O ente só “tem” sentido porque, previamente em seu ser, ele se faz compreensível no PROJETO ontológico, isto é, a partir da perspectiva de ser. É o PROJETO primordial de compreender ser que “dá” sentido. A questão do sentido do ser de um ente tematiza a perspectiva do compreender ser, à base de todo ser dos entes. STMSC: §65

No PROJETO existencial originário da existência, o projetado desvelou-se como decisão antecipadora {CH: equívoco: aqui se confundem PROJETO existenciário e transposição existencial para o PROJETO}. O que possibilita que a presença [Dasein] seja toda em sentido próprio na unidade de toda a sua estrutura de articulação? Apreendida formal e existencialmente, sem que se nomeie agora constantemente o conteúdo pleno de sua estrutura, a decisão antecipadora é o ser para o poder-ser mais próprio e privilegiado. Isto só é possível caso a presença [Dasein] possa de todo a modo vir-a-si em sua possibilidade mais própria e, deixando-se vir-a-si, suporte a possibilidade enquanto possibilidade, ou seja, exista. Este deixar-se-vir-a-si que, na possibilidade privilegiada a sustém, é o fenômeno originário do porvir. Se, ao ser da presença [Dasein], pertence o ser-para-a-morte, próprio ou impróprio, este então só é possível como porvindouro, no sentido agora indicado e que ainda deve ser determinado de forma mais precisa. “Porvir” não significa aqui um agora que, ainda-não tendo se tornado “real”, algum dia o será. Porvir significa o advento em que a presença [Dasein] vem a si em seu poder-ser mais próprio. O antecipar torna a presença [Dasein] propriamente porvindoura, de tal maneira que o próprio antecipar só é possível quando a presença [Dasein], enquanto um sendo, sempre já vem a si, ou seja, em seu ser, é e está por vir. STMSC: §65

Estas questões devem ser respondidas afirmativamente. E mesmo assim elas não significam nenhuma objeção à finitude da temporalidade originária. Isto porque já não dizem respeito a ela. A questão não é o que ainda pode acontecer “num tempo que prossegue” e nem que espécie de deixar-vir-a-si ocorre “a partir deste tempo”. A questão é como se determina originariamente o deixar-vir-a-si ele mesmo como tal. Finitude não diz primariamente término. Finitude é um caráter da própria temporalização. O porvir originário e próprio é o para-si, um para-si que existe como a possibilidade insuperável do nada. O caráter ekstático do porvir originário reside justamente em incluir o poder-ser, isto é, em estar ele mesmo incluído e, como tal, possibilitar a compreensão existenciária e decidida do nada. O vir-a-si originário e próprio é o sentido do existir no nada mais próprio. Com a tese da finitude originária da temporalidade não se contesta que “o tempo prossegue”, mas esta tese deve simplesmente manter o caráter fenomenal da temporalidade originária que se mostra no que é projetado pelo PROJETO existencial e originário da própria presença [Dasein]. STMSC: §65

O porvir está à base do compreender-se no PROJETO de uma possibilidade existenciária enquanto um vir-a-si, a partir da possibilidade em que a presença [Dasein] cada vez existe. STMSC: §68

Enquanto existir, compreender é primariamente porvindouro, no poder-ser de qualquer PROJETO. STMSC: §68

No que concerne àquilo com que se lida, a análise do modo de lidar recebe a indicação de que o ser existente junto a entes de ocupação não se orienta por um instrumento isolado à mão, mas sim pelo todo instrumental. Também a reflexão sobre o caráter ontológico privilegiado do instrumento à mão, isto é, a conjuntura, obrigou a esta apreensão daquilo com que se lida, inerente a todo modo de lidar. O termo conjuntura é compreendido ontologicamente. Quando se diz: seu conjunto se deixa e se faz junto com alguma coisa, o que se pretende não é constatar onticamente uma conjuntura de fatos mas acenar para o modo de ser do que está à mão. O caráter remissivo da conjuntura, do “com… junto…”, indica que, do ponto de vista ontológico, um instrumento isolado é impossível. Sem dúvida, pode acontecer que um único instrumento esteja à mão e “falte” o outro. Mas o que isso anuncia é a pertinência deste manual a um outro. O modo de lidar da ocupação só pode deixar que um manual venha ao encontro numa circunvisão, caso já se compreenda a conjuntura, isto é, que sempre algo está junto com algo. O ser junto a… da ocupação, que descobre numa circunvisão, é um deixar e fazer em conjunto, ou seja, um PROJETO que compreende a conjuntura. Se o deixar e fazer em conjunto constitui a estrutura existencial da ocupação e esta, enquanto ser junto a…, pertence à constituição essencial da cura que, por sua vez, se funda na temporalidade, então se deve buscar a condição de possibilidade do deixar e fazer em conjunto num modo de temporalização da temporalidade. STMSC: §69

O enraizamento da atualidade no porvir e no vigor de ter sido é a condição existencial e temporal de possibilidade para que aquilo que se projetou no compreender da compreensão, guiada por uma circunvisão, possa ser colocado mais perto numa atualização. E isto de tal forma que a atualidade se adéque ao que vem ao encontro no horizonte do reter que aguarda, ou seja, se deva interpretar segundo o esquema da estrutura-como. Com isso, responde-se à questão anteriormente colocada se a estrutura-como estabelece um nexo ontológico-existencial com o fenômeno do PROJETO. Da mesma maneira que o compreender e o interpretar em geral, o “como” funda-se na unidade ekstática e horizontal da temporalidade. Com a análise fundamental do ser, e esta no contexto da interpretação do “é”, que, como cópula, “exprime” o dizer de algo como algo, devemos tematizar mais uma vez o fenômeno do como e delimitar, existencialmente, o conceito de “esquema”. STMSC: §69

O exemplo clássico do desenvolvimento histórico de uma ciência, e também da gênese ontológica, é o aparecimento da física-matemática. O decisivo para a sua elaboração não reside no alto apreço pela observação dos “fatos” nem na “aplicação” da matemática para se determinar os processos naturais. O decisivo reside no PROJETO matemático da natureza ela mesma. Este PROJETO descobre, antecipadamente, um ser simplesmente dado que é constante (matéria), e abre o horizonte para uma perspectiva orientadora, relativa a seus momentos constitutivos e passíveis de determinação quantitativa (movimento, força, lugar e tempo). Somente “à luz” de uma natureza assim projetada é que se pode encontrar um “fato” e se empreender um experimento delimitado e regulado pelo PROJETO. A fundamentação” das “ciências fatuais” só foi, portanto, possível porque o pesquisador compreendeu que, em princípio, não existem “meros fatos”. Primariamente, o decisivo no PROJETO matemático da natureza não é, pois, o matemático como tal, mas o abrir de um a priori. Assim, o caráter exemplar da ciência matemática da natureza também não reside em sua exatidão específica e na obrigatoriedade para “todos”, mas em que, nela, o ente temático é descoberto da única maneira em que pode ser descoberto, a saber, no PROJETO prévio de sua constituição de ser. Com a elaboração dos conceitos e fundamentos da compreensão de ser orientadora, determina-se a condução dos métodos, a estrutura da conceitualização, a possibilidade inerente de verdade e certeza, o modo de fundamentação e comprovação, o modo de obrigatoriedade e comunicação. O todo destes momentos constitui o pleno conceito existencial da ciência. STMSC: §69

O PROJETO científico dos entes que, já de algum modo, vêm ao encontro possibilita a compreensão explícita de seu modo de ser e isto de tal maneira que assim se tornam manifestos os possíveis caminhos para a pura descoberta dos entes intramundanos. Chamamos de tematização o todo desse PROJETO ao qual pertencem a articulação da compreensão de ser, a delimitação dela derivada do setor de objetos e o prelineamento da conceitualização adequada ao ente. A tematização visa liberar os entes que vêm ao encontro dentro do mundo de modo que possam ser “projetados para” uma pura descoberta, isto é, que possam tornar-se objetos. A tematização objetiva. Não é ela que “põe” pela primeira vez o ente. Ela o libera de tal maneira que ele possa ser questionado e determinado “objetivamente”. O ser objetivante junto ao que é simplesmente dado dentro do mundo tem o caráter de uma atualização privilegiada. Ela difere da atualidade da circunvisão, sobretudo, por a descoberta da respectiva ciência só aguardar a descoberta do que é simplesmente dado. Essa atualização da descoberta funda-se, existenciariamente, numa decisão da presença [Dasein] na qual ela se projeta para o poder-ser na “verdade”. Este PROJETO é possível já que o ser e estar na verdade constitui uma determinação existencial da presença [Dasein]. Não caberia aqui prosseguir com a investigação da origem da ciência a partir da existência em sentido próprio. Trata-se apenas de compreender que e como a tematização dos entes intramundanos pressupõe a constituição fundamental da presença [Dasein], isto é, o ser-no-mundo. STMSC: §69

Para que a tematização do ser simplesmente dado, ou seja, do PROJETO científico da natureza, seja possível, a presença [Dasein] deve transcender o ente tematizado. A transcendência não consiste na objetivação, mas esta pressupõe aquela. Caso, porém, a tematização do ser simplesmente dado dentro do mundo seja uma transformação da ocupação descobridora, guiada por uma circunvisão, então o ser “prático” junto ao que está à mão deve ter como base uma transcendência da presença [Dasein]. STMSC: §69

Poderá a presença [Dasein] ser compreendida ainda mais originariamente do que no PROJETO de sua existência própria? STMSC: §72

Se a própria historicidade deve esclarecer-se a partir da temporalidade e, originariamente, a partir da temporalidade própria, então na essência desta tarefa está só poder ser desenvolvida através de uma construção {CH: PROJETO} fenomenológica. STMSC: §72

O PROJETO existencial da historicidade da presença [Dasein] só chega a desvelar o que já está velado na temporalização da temporalidade. STMSC: §72

A presente investigação também exclui o PROJETO existencial das possibilidades fatuais de existência. STMSC: §74

Surgindo de um PROJETO decidido, a retomada não se deixa persuadir pelo “passado” a fim de deixá-lo apenas retornar como o que alguma vez foi real. STMSC: §74

Pode-se, não obstante, ousar um PROJETO da gênese ontológica da ciência historiográfica, partindo-se da historicidade da presença [Dasein]. STMSC: §75

Este PROJETO serve de preparação para o esclarecimento da tarefa de uma destruição da história da filosofia, a ser posteriormente realizada. STMSC: §75

Com esse PROJETO, delimita-se a região de um ente, as suas vias de acesso adquirem “direção” metodológica e a estrutura de conceitualização da interpretação ganha um prelineamento. STMSC: §76

É como lançada que ela se desvela no PROJETO. STMSC: §79

Enquanto cura, ou seja, existindo na unidade do PROJETO já lançado na decadência, ela é o ente que se abriu como pre [das Da]. STMSC: §79

O “até então” divide-se numa série dos “desde então até então”, previamente “abraçados” no PROJETO do “então” primordial que aguarda. STMSC: §79

Desta forma, é um modo originário de temporalização da própria temporalidade ekstática que deve tornar possível o PROJETO ekstático do ser em geral. STMSC: §83