(Ricoeur1996)
A “síntese passiva” é um conceito que Husserl introduz para explicar o fato de que a atividade de constituição pela consciência possui uma passividade que já é permeada por alguma forma de atividade. Nesse sentido, a síntese realizada por um Ego tem, ela mesma, uma gênese. Husserl fala, portanto, de “síntese passiva” e “gênese passiva”, em oposição a uma “síntese ativa” e “gênese ativa”.
O problema da síntese passiva está intimamente ligado ao que Husserl chama de fenomenologia “genética”, em oposição a uma fenomenologia “estática”, e introduz a história como um tema fenomenológico. Essa preocupação tem estado no centro de um longo debate entre comentadores, já que uma dimensão histórica pode colocar em risco o caráter transcendental da fenomenologia. O debate se reduziu a duas opções: ou uma fenomenologia no sentido estrito, ou sua reformulação em termos de hermenêutica. Heidegger seguiu o segundo caminho, seguido por uma série de filósofos. A história, a cultura, em suma, os outros, o que Heidegger em Ser e Tempo chama de “Impessoal” (das Man), está na origem da passividade do Ego. O mundo no qual o Dasein foi lançado foi articulado pelo “Impessoal”. É precisamente do “Impessoal” que o Dasein terá que se recuperar, ou melhor, reconquistar o que será sua “autenticidade”, no sentido do que será propriamente seu (Eigentlichkeit).