al. Denken
fr. pensée
in. thinking
es. pensamiento
Para que o pensamento esteja em nosso poder, devemos aprendê-lo. O que é aprender? É fazer que o que fazemos e não fazemos seja o eco da revelação cada vez do essencial. Aprendemos o pensamento prestando atenção ao que exige de ser guardado no pensamento.
Nossa língua nomeia por exemplo o que pertence à essência do amigo: o amável. Da mesma maneira, nomearemos agora o que em si exige de ser guardado no pensamento: o pensável (das Bedenkliche). Todo pensável dá a pensar. Mas não faz jamais este dom enquanto o que dá a pensar já é dele mesmo o que exige de ser guardado no pensamento. Nomearemos agora e em seguida o que exige continuamente (porque desde sua origem e antes de toda outra coisa) de ser guardado no pensamento: «o que dá mais a pensar». O que é «o que dá mais a pensar»? Como se mostra em nosso tempo que dá a pensar?
O que dá mais a pensar é que não pensamos ainda; sempre «ainda não», embora o estado do mundo se torne constantemente o que dá deveras a pensar. Esta evolução do mundo parece no entanto exigir, ao invés, que o homem aja, e isto sem demora, em lugar de falar nas conferências e nos congresso, em lugar de se mover na simples representação do que deveria ser e da maneira que seria preciso fazê-lo. Há portanto falta de agir e de maneira alguma de pensamento. [GA8]
O pensamento con-suma a referência do Ser à Essência do homem. Não a produz nem a efetua. O pensamento apenas a restitui ao Ser, como algo que lhe foi entregue pelo próprio Ser. Essa restituição consiste em que, no pensamento, o Ser se torna linguagem. [CartaH 24]
O pensamento não se transforma em ação por dele emanar um efeito ou por vir a ser aplicado. O pensamento age enquanto pensa. Seu agir é de certo o que há de mais simples e elevado, por afetar a re-ferência do Ser ao homem. Toda produção se funda no Ser e se dirige ao ente. O pensamento ao contrário se deixa requisitar pelo Ser a fim de proferir-lhe a Verdade. O pensamento con-suma esse deixar-se. Pensar é “l´engagement par l´Être pour l´Être”. Não sei, se, linguisticamente, é possível dizerem-se ambas as coisas (par et pour) numa só expressão, a saber: “penser c´est l´engagement de l´Être”. A forma do genitivo, “de l´…”, deve exprimir que o genitivo é, ao mesmo tempo, “genitivus subjetivos” e “objetivos”. Não obstante sejam “sujeito” e “objeto” títulos insuficientes da metafísica, que, desde cedo, na forma da “lógica” e “gramática” ocidentais, se apoderou da interpretação da linguagem. O que se esconde nesse processo, só hoje podemos suspeitar. Libertar a linguagem da gramática, para um contexto Essencial mais [25] originário, está reservado ao pensar e poetizar (Dichten). O pensamento não é apenas «l’engagement dans l´action» para e pelo ente no sentido do real da situação presente. O pensamento é “l´engagement” pela e para a Verdade do Ser, cuja História (Geschichte) nunca passou e sim sempre está por vir. A História do Ser carrega e determina toda “condition et situation humaine”.
Para aprendermos a experimentar em sua pureza – e isto significa também levar à plenitude – essa Essência do pensar, devemos libertar-nos da interpretação técnica do pensamento. Seus primórdios remontam até Platão e Aristóteles. Para eles o pensamento é, em si mesmo, uma techne, o processo de calcular a serviço do fazer e operar. Nesse processo já se toma o cálculo em função e com vistas à praxis e à poiesis. Por isso, quando considerado em si, o pensamento não é prático. A caracterização do pensamento como theoria, e a determinação do conhecimento como atitude “teórica” já se processam dentro da interpretação “técnica” do pensar. É um esfôrço reativo, visando preservar, também para o pensamento, autonomia face ao fazer e agir. Desde então, a “filosofia” sente, constantemente, a necessidade de justificar sua existência diante das “ciências”. E crê fazê-lo, da forma mais segura, elevando-se à condição de ciência. Ora, esse esfôrço é o abandono da Essência do pensamento. A filosofia é perseguida pelo medo de perder em prestígio e importância, caso não seja ciência. O que se considera uma deficiência, idêntica à inciência (Unwissenschaftlichkeit). Na interpretação técnica do pensamento, se abandona o Ser como o elemento do pensar. A partir da Sofística e de Platão, a “lógica” é a sanção dessa interpretação. Julga-se o pensar com uma medida que lhe é inadequada. Um tal julgamento equivale ao processo que procura avaliar a natureza e as possibilidades do peixe pela capacidade de viver no seco. De há muito, demasiado muito, o pensamento vive no seco. Será que se pode chamar “irracionalismo” o esfôrço de repor o pensamento em seu elemento? [CartaH 25]
Também os nomes, “Lógica”, “Ética”, “Física”, só surgiram quando o pensamento originário chegou ao fim. Em seus grandes tempos, os gregos pensaram sem esses títulos. Nem mesmo de “filosofia” chamaram o pensamento. Este chega sempre ao fim, quando se afasta de seu elemento. O elemento é àquilo a partir do qual o pensamento pode ser pensamento. O elemento é o propriamente poderoso: o poder. Ele se apega ao pensamento e assim o conduz à sua Essência. Dito sem rodeios, o pensamento é o pensamento do Ser. O genitivo exprime duas coisas. O pensamento é do Ser, enquanto, provocado pelo Ser em sua propriedade (ereignen), pertence ao Ser. O pensamento é ainda pensamento do Ser, enquanto, pertencendo (gehoert) ao Ser, ausculta (hoeren) o Ser. Enquanto, auscultando, pertence ao Ser, o pensamento é de acordo com a pro-veniência de sua Essência. O pensamento é, isso significa: o Ser se apegou, num destino Histórico (geschicklich), à sua Essência. [CartaH 28]
Quando o pensamento, saindo de seu elemento, chega ao fim, compensa essa perda, valorizando-se como techne, isto é, instrumento de formação, para se tornar, com isso, atividade acadêmica e, posteriormente, atividade cultural. [CartaH 30]
Todavia, também isso é importante, não se alcança a causa do pensamento pelo fato de se pôr em curso uma “arenga” (Gerede) sobre a “Verdade do Ser” e sobre a “História do Ser”. Tudo depende unicamente de a própria Verdade do Ser se fazer linguagem e de o pensamento conseguir chegar a essa linguagem. Talvez a linguagem exija muito menos pronunciamentos precipitados do que, muito mais, o devido silêncio. Mas qual de nós, homens de hoje, poderia pretender que seus esforços para pensar já estariam familiarizados e em casa, (heimisch) no caminho do silêncio? Quando muito, nosso pensamento poderia talvez indicar (hinweisen auf) a Verdade do Ser, como o que deve ser pensado (das Zu-denkende). Mais do que de outra maneira, a Verdade do Ser ficaria, assim, subtraída à simples adivinhação e ao simples opinar, e entregue à tarefa (Hand-werk) so que se faz rara, da escrita. As causas promissoras, ainda que não se destinem à eternidade, chegam a tempo mesmo com o máximo de atraso. [CartaH]
Todavia, com essa indicação, o pensamento, que aponta à Verdade do Ser como sendo o que deve ser pensado, não deseja, de forma alguma, decidir-se pelo teísmo. Pois ele não pode ser nem teísta nem ateísta. Não, porém, em razão de uma atitude de indiferentismo, e sim por respeitar os limites impostos ao pensamento, como pensamento, e impostos pelo que se lhe dá como sendo o que deve ser pensado, a saber, pela Verdade do Ser. Na medida em que o pensamento se contenta com sua tarefa, ele dá, no instante do destino atual do mundo, ao homem a dimensão originária de sua estadia (Auf enthalt) Histórica. Dizendo, dessa forma, a Verdade do Ser, o pensamento se entregou e confiou ao que é mais Essencial do que todos os valores e qualquer ente. O pensamento não supera a metafísica, enquanto, alçando-se mais alto, a transcende e, em algum lugar, (irgendwohin) a suprime, a conserva e a eleva (aufhebt). O pensamento supera a metafísica, enquanto, re-gressando, desce à proximidade do próximo. Descer, principalmente, quando o homem se perdeu nas alturas (sich vertiegen hat) da subjetividade, é mais difícil e perigoso do que alçar-se. A descida leva à pobreza da ec-sistência do homo humanas. Na ec-sistência abandona-se o âmbito do homo animalis da metafísica. 0 império e predomínio desse âmbito é o fundamento mediato e profundo (weitzurückreichend) da obliteração e da arbitrariedade do que se designa como biologismo, mas também do que se conhece pelo título pragmatismo. Pensar a Verdade do Ser significa igualmente: pensar a humanitas do homo humanas. Trata-se de pôr a humanitas a serviço da Verdade do Ser, mas sem o humanismo em sentido metafísico. [CartaH]
O pensamento somente pode permanecer junto de seu objeto se, no permanecer-junto, o mesmo objeto cada vez se torna para ele mais objetivo e mais controvertido. Desta maneira, o objeto exige do pensamento que sustente o objeto em sua situação, que lhe esteja à altura por uma correspondência, enquanto o conduz para a sua de-cisão. O pensamento que permanece junto a seu objeto deve, se este objeto é o ser, engajar-se na de-cisão do ser. De acordo com isto, estamos obrigados a melhor clarificar, no diálogo com Hegel, e, de antemão, para este diálogo, a mesmidade do mesmo objeto. Pelo que foi dito, exige isto que seja trazida à luz, com a diversidade do objeto do pensamento, ao mesmo tempo, a diversidade do elemento historial no diálogo com a história da filosofia. [MHeidegger – A CONSTITUIÇÃO ONTO-TEO-LÓGICA DA METAFÍSICA]
Assim, tudo depende de que, em seu tempo oportuno, o pensamento se torne mais pensamento. A isto chega o pensamento se, em vez de preparar um grau maior de esforço, se dirige para outra origem. Então, o pensamento suscitado pelo ente [Seiende] enquanto tal que por isso representa e esclarece o ente, será substituído por um pensamento instaurado pelo próprio ser [Sein] e por isso dócil à voz do ser.
Perdem-se no vazio considerações sobre o modo como se poderia levar a agir sobre a vida cotidiana e pública de modo efetivo e útil, o pensamento ainda e apenas metafísico. Pois, quanto mais o pensamento é pensamento, quanto mais se realiza a partir da relação do ser consigo, tanto mais puramente encontra-se, por si mesmo, engajado no único agir que lhe é apropriado: na ação de pensar aquilo que lhe foi destinado e que por isso já foi pensado. [MHeidegger O RETORNO AO FUNDAMENTO DA METAFÍSICA]
O pensamento descobre sua determinação própria quando se recolhe na escuta do consentimento [Hören der Zusage] que nos diz o que, para o pensamento, se dá a pensar. [GA12]