§73 Distinguimos Historialidade e Historicidade. O primeiro conceito exprime a dimensão Existencial do Dasein, ele funda-se na sua temporalidade. O segundo designa a sua dimensão existencial e tem lugar no tempo. E esta nuance que o presente capítulo irá desenvolver. Mas, a fim de perceber melhor o sentido ontológico, demoremo-nos primeiramente sobre o sentido vulgar da história. Heidegger apresenta quatro utilizações diferentes desta última:
1) a primeira define o facto histórico como o que é passado, e pode ser passado a) no sentido em que não está mais subsistente ou b) no sentido em que está subsistente, como um castelo histórico, mas que permanece sem efeito sobre o presente, porque os acontecimentos que aí se desenrolaram não se desenrolam mais;
2) a segunda entende a história no sentido em que não é mais o passado que a define, mas o que acontece e marca, porque determina presentemente um futuro: «a história, aqui, significa um encadeamento de acontecimentos e de efeitos, que se estende através do passado, do presente e do futuro. (173) O passado perdeu, assim, toda a primazia particular»;
3) em terceiro lugar, a história serve para designar tudo o que acontece ao homem e não à natureza que, também ela, se move no tempo; vicissitudes, destinos pessoais, associações de pessoas, culturas…;
4) finalmente, é considerado histórico o que é tradicional, ou seja, o que é transmitido de fonte segura ou sem que se saiba donde provém, mas que é recebido como certo.
Reunidas, estas quatro definições permitem produzir a seguinte definição: «A história é a aventura (Geschehen) específica do Dasein existente, que tem lugar no tempo, de modo que esta aventura que se passou e que, ao mesmo tempo, se transmitiu e que continua a prosseguir no ser-um-com-o-outro, toma, no sentido forte da palavra, o nome de história.» Esta definição permite ver o que liga os diversos sentidos da palavra, a saber, o homem, enquanto sujeito dos acontecimentos. Esta consideração é importante. Porque a historicidade surge ligada à existência humana. Não há história fora do Dasein! A historicidade funda-se, assim, no ser do Dasein, ou seja, na sua temporalidade. Resta-nos saber, agora, como é que a história do Dasein se funda na sua historialidade: «Em que medida, e com hase em que condições ontológicas, a historialidade pertence a título de constituição essencial à subjectividade do sujeito historiai?.»