Niederhauser (2013) – morte e falecimento

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A distinção que Heidegger faz entre morte e falecimento pretende tornar claro que os pressupostos científicos ônticos sobre a morte no sentido comum não são a sua principal preocupação e não influenciam diretamente a sua investigação ontológica. Aquilo a que habitualmente chamamos morte é o que Heidegger chama falecimento em Ser e Tempo. No entanto, só podemos dar sentido à morte, à morte ôntica, por assim dizer, por causa da morte ontológica. Heidegger deseja revelar plenamente o fenômeno da morte para mostrar que só podemos relacionar-nos com a morte da forma como o fazemos porque já estamos sempre direcionados para ela e, mais precisamente, porque o nosso próprio ser é estruturado por ela. É a isto que ele chama ser-para-a-morte e esta estrutura é o próprio cuidado (Sorge). (SZ: 329/315) (…)

Assim, a morte ontológica tem de fato a ver com a finitude mortal. No entanto, a morte não é simplesmente o fim da “vida” de alguém. Para Heidegger, em Ser e Tempo, a morte não é externa a nós, não é um acontecimento no futuro que ocorre num momento ou noutro. Pelo contrário, a morte é inerente ao Dasein. A morte é assim que o Dasein é. (…) A morte não é nada para nós. (…) Assim que o Dasein é, o Dasein está numa relação inerente com a sua morte, que não é a cessação da “vida” do Dasein, mas o limite onde o Dasein começa. É por esta mesma relação com a morte que podemos dar sentido e somos tocados pela morte dos outros, em primeiro lugar. O Dasein é assim que a morte é também significa que a morte é assim que o Dasein é. [Em outras palavras, a experiência que Heidegger procura no contexto da morte é uma experiência no pensamento, uma experiência do ser, não uma experiência do domínio empírico.

original

Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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