A origem é afirmação; a repetição é condição da afirmação. Eu digo: “isso é, que isso seja”. Não é um “fato”, e não tem nada a ver com uma avaliação de qualquer espécie, é o recorte de uma singularidade em sua afirmação do ser: um toque de sentido. Não é outro ser, é o singular do ser pelo qual o ente é, ou do ser que é o ente em um sentido transitivo do verbo (sentido inaudito, inaudível — o próprio sentido do ser). O toque de sentido envolve sua própria singularidade, sua distinção — e a pluralidade do “cada vez” de todos os toques de sentido, os “meus” como todos os outros, dos quais cada um é “meu” por sua vez, de acordo com o giro singular de sua afirmação.
Há, portanto, desde já a repetição dos toques de sentido, que o sentido exige. Essa repetição absolutamente heterogênea, incomensurável, escava de um a outro uma estranheza irredutível. A outra origem é incomparável, inassimilável, porque é origem e toque de sentido, e não porque seria simplesmente “outra”. Ou melhor: a alteridade do outro é sua contiguidade de origem com a origem “própria”. Tu és absolutamente estrangeiro porque o mundo começa, por sua vez, em ti.
(NESP)