Já deve estar ficando claro que Heidegger concebe o modo de ser humano como essencialmente condicionado. O dualismo, o empirismo e o idealismo pressupõem, de várias maneiras, que o sujeito humano pode, de alguma forma, transcender o reino material sobre o qual fixa seu olhar e, portanto, que os seres humanos são apenas contingentemente possuidores de um mundo; mas, para Heidegger, não faz sentido a ideia de um ser humano existir à parte ou fora de um mundo. No entanto, isso não significa que os seres humanos estejam de alguma forma aprisionados no mundo, submetidos à força aos limites essencialmente estranhos da corporificação e da interação prática com a natureza; pois esses limites não são essencialmente estranhos. Se nenhuma existência reconhecidamente humana é concebível na ausência de um mundo, então o fato de a existência humana ser mundana não pode ser uma limitação ou restrição sobre ela; assim como alguém só pode ser aprisionado se houver um mundo fora de sua prisão do qual ele está excluído, então um conjunto de limites só pode ser pensado como limitações se existir um modo possível de existência ao qual (61) esses limites não se aplicam. Como esse não é o caso aqui, a mundanidade inerente da existência humana deve ser pensada como um aspecto da condição humana. É uma condição da vida humana, não uma restrição a ela.
(MULHALL, Stephen. Routledge Philosophy GuideBook to Heidegger and Being and Time. London: Routledge, 1996)