Ser causa significa entre outras coisas: deixar seguir-se, iniciar; pertence ao contexto daquilo que ocorre; é um caráter dos processos, das ocorrências, dos acontecimentos. Tais caracteres mostram inteiramente aquilo que denominamos movimento em sentido mais amplo. Com vistas a essa multiplicidade de movimentos vem à tona o seguinte: movimento e movimento não é sempre o mesmo. O que vale, por exemplo, para o assim chamado movimento mecânico, o mero fluxo em meio ao leito de partículas de massa, e, além disso, o mero transcurso e o desenrolar de um processo, não vale pura e simplesmente para o movimento, por exemplo, no sentido do crescimento e do definhamento. De maneira correspondentemente, são diversos o ser causa, o deixar seguir-se, o iniciar e o findar. Uma vez mais diverso, por sua vez, em relação ao processo e ao crescimento é aquilo que denominamos o comportamento de animais, o comportar-se dos homens. Esses, por outro lado, podem ser vistos no interior de ocorrências – nos movimentos – do agir e do trânsito. Uma viagem, por exemplo, não é nenhum movimento contínuo mecânico com uma máquina (trem, navio, avião), ela também não é nenhum movimento mecânico adicionado com um comportamento dos homens, mas ela é um acontecimento próprio, sobre cujo caráter essencial sabemos tão pouco quanto sobre a essência dos outros tipos citados de movimento.
De tudo isso, nós sabemos pouco ou nada. No entanto, isso não acontece de maneira alguma, porque algo desse gênero nos seria inacessível, mas porque existimos de maneira por demais superficial, isto é, não radical, para perguntarmos sobre isso e pressentirmos essas questões como ardentes. É assim que as coisas se mostram na filosofia em relação à clarificação da essência do movimento: de maneira inteiramente precária. Desde Aristóteles, que foi o primeiro e até aqui o último a conceber o problema filosófico, a filosofia não deu nenhum passo à frente nesse problema. Ao contrário, ela deu um passo atrás, na medida em que não concebeu nem mesmo o problema em geral como problema. Mesmo Kant fracassa nesse ponto completamente. Isso é tanto mais estranho, uma vez que, para ele, o problema da causalidade era central. É fácil ver, que o problema da essência do movimento é o pressuposto para formularmos em geral o problema da causalidade, do ser causa, para não falarmos de sua solução.
E o problema do movimento por sua parte? O movimento, isto é, o ser movido ou repousar (como um modo próprio do movimento), revela-se como uma determinação fundamental daquilo, para que atribuímos em geral um ser: como uma determinação fundamental do ente. O modo da mobilidade ou da imobilidade possíveis altera-se juntamente com o tipo do ente respectivo. O problema do movimento está fundado na questão acerca da essência do ente enquanto tal. [GA31MAC:47-48]