medir

[…] De acordo com as palavras de Hölderlin, o homem mede a dimensão [Dimension] em se medindo com o celestial. O homem não realiza essa medição de maneira ocasional, mas é somente nesse medir-se [Durchmessen] que o homem é homem. E, na verdade, mesmo podendo obstruir, encurtar ou deformar esse medir-se [Durchmessung], o homem nunca pode a ele furtar-se. Como homem, o homem sempre já se mediu com algo e nesse algo com o celestial. Até Lúcifer surge do céu. Por isso, os versos 28 e 29 dizem: “o homem mede-se… com o divino”. O divino é “a medida” [Maaß] com a qual o homem confere medida ao seu habitar [Wohnen], à sua morada e demora [Aufenthalt] sobre a terra [Erde], sob o céu [Himmel]. Somente porque o homem faz, desse modo, o levantamento da medida de seu habitar é que ele consegue ser na medida de sua essência. O habitar do homem repousa no fato de a dimensão, a que pertencem tanto o céu como a terra, levantar a medida levantando os olhos.

Esse levantar a medida [Vermessung] não levanta somente a medida da terra, ge. Não consiste em mera geo-metria. Tampouco faz para si um levantamento da medida do céu, ouranos. O levantamento de medida não é nenhuma ciência. O levantamento de medida [Vermessen] mede o entre [Zwischen], que leva céu e terra um em direção ao outro. Esse levantamento de medida possui seu próprio metron e, assim, sua própria métrica [Metrik].

O levantamento de medida, inerente à essência humana, segundo a dimensão que corresponde à sua medida, traz o habitar [173] para o seu aspecto fundamental [Grundriß]. O levantamento de medida próprio à dimensão é o elemento em que o habitar humano tem seu sustento, é onde adquire sustentação e duração. O levantamento de medida constitui o poético do habitar. Ditar poeticamente é medir. Mas o que significa medir? Se a poesia deve ser pensada como um medir, ela não pode ser relacionada a uma representação irrefletida do que seja medir, do que seja uma medida.

É possível que a poesia [Dichten] seja uma medida extraordinária. E ainda mais. Talvez a frase: Ditar poeticamente é medir, deva se pronunciar com um outro acento: Ditar poeticamente é medir. Na poesia, acontece com propriedade o que todo medir é no fundo de sua essência. Por isso, cabe prestar atenção ao ato fundamental realizado pelo medir. Medir consiste, sobretudo, em se conquistar a medida com a qual se há de medir. Na poesia, acontece com propriedade a tomada de uma medida. No sentido rigoroso da palavra, poesia é uma tomada de medida, somente pela qual o homem recebe a medida para a vastidão de sua essência. O homem se essencializa como o mortal [Der Mensch west als der Sterbliche]. Assim se chama porque pode morrer. Poder morrer [Sterbenkönnen] significa: ser capaz da morte como morte. Somente o homem morre – e, na verdade, continuamente, enquanto se demora sobre esta terra, enquanto habita. Seu habitar se sustenta, porém, no poético. Hölderlin vislumbra a essência do “poético” na tomada de medida através da qual se cumpre plenamente o levantamento da medida da essência humana. [GA7CFS:172-173]