A palavra essencial de Heidegger é, por completo, mítica, e tem ainda menos a ver com lógica ou dialética do que o próprio pensamento platônico. H. G. Gadamer testemunha o espanto que tomou conta da plateia na palestra de 1936 sobre A Origem da Obra de Arte, quando ouviu a estética ser falada em termos de uma “batalha” entre a Terra e o Céu e a união de Deuses e Homens: “Metáforas? Conceitos? Expressões de pensamento racional ou anúncio de uma nova mitologia pagã?”. Nesse sentido, é certo dizer que Heidegger pensa de forma mais inicial que Platão, apoiando-se no Geviert, ao passo que o filósofo grego, ainda vivendo em um “mundo”, e ainda não em uma “história”, não sentiu a necessidade de elaborar um sistema para o qual a pêntada seria a chave. O recurso de Heidegger à Quadripartição é, de fato, um testemunho da angústia específica da “Noite do Mundo”, que em 1935, na Introdução à Metafísica, ele chamou de “a decadência espiritual da Terra”. As cinco características que definem tal destino já sugerem a figura do Geviert:
1) O escurecimento do mundo: “Céu”;
2) A fuga dos deuses: “Divino”;
3) A destruição da terra: “Terra”;
4) O gregarismo do homem
: “Mortais”;
5) A preponderância dos medíocres