Marquet (2017) – Wesen

destaque

No caso de Wesen, não se trata de procurar nesta palavra uma outra palavra, mas de procurar no seu significado habitual (“essência”) um outro significado que é, aliás, o seu significado original. Como diz a conferência de 1951 Was heisst Denken?, “a palavra wesen, usada como verbo, é o alto alemão wesan… Wesan está relacionado com a raiz do antigo sânscrito væsati, ou seja, habitar, passar estadia (weilt)”. Das Wesen des Menschen é, portanto, no sentido literal, habitação, a habitação do homem — e aqui encontramos uma outra raiz do vocabulário do ser, a raiz indo-europeia bhû, que é “a mesma palavra que o nosso bin (sou) nas expressões ich bin, du bist (eu sou, tu és)”, mas que se encontra também na “antiga palavra bauen, cujo significado é primeiro habitar, depois cultivar, construir. O humanismo de Heidegger define-se, assim, não como um humanismo do “homem” pensado como sujeito, mas como um humanismo da Wesen, da morada do homem, da sua ἧθος, para usar o termo grego — e é por isso que a questão do humanismo conduzirá muito naturalmente à questão da ética, através de uma lógica da linguagem (ou logos) em que Jean Beaufret não tinha certamente pensado ao formular as suas duas interrogações. Esta permanência, este Wesen do homem, é também aquilo a que Heidegger chama, num termo hegeliano, o seu Elemento [GA9:UH, p. 9]. Um humanismo que o negligenciasse seria tão aberrante “como uma tentativa de apreciar a essência e a capacidade do peixe para agir de acordo com a sua disposição para viver auf dem Trockenen des Landes, em terra firme, no solo árido” (Ibid, p. 7), este solo árido que talvez tenha sido a nossa casa incômoda durante séculos.

original

[MARQUET, Jean-François. Chapitres. Paris: Les Belles Lettres, 2017]

  1. Was heisst Denken ?, Tübingen, Niemeyer, 1971, p. 143. Même étymologie dans l’Einführung in die Metaphysik de 1935 (trad. G. Kahn, Paris, Gallimard, 1967, p. 81).[↩]
  2. Cf. la conférence Bâtir habiter penser in Essais et conférences, trad. A. Préau, Paris, Gallimard, 1958, p. 173. L’équivalence bauen / wohnen est du reste suggérée dans la Lettre elle-même (GA9:UH, p. 50).[↩]
  3. L’expression est vraisemblablement empruntée à Nietzsche, Also sprach Zarathoustra, III, 13, Der Genesende : « ewig baut sich das gleiche Haus des Seins ».[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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