Maldiney (Aîtres:16-18) – a origem do ato está na decisão

destaque

Para reconhecer a nova dimensão temporal que a decisão abre no sistema verbal, é preciso consultar não a expressão, mas a língua no discurso que ela pronuncia. Assim como dizer “eu quero que ele vá embora” não é querer, dizer “eu decido ir embora” não decide da partida. Não é mais do que uma declaração de intenção, próxima de uma declaração performativa, que fecha a deliberação sem abrir o ato. O eu que realmente decide atravessa uma fratura temporal que ele próprio fez. Esta fratura é o agora. Momento estritamente humano, o agora separa o passado e o futuro, que mantém tal como são, imobilizados nos seus parêntesis. Permanecendo no negativo do presente-limite, simples lugar de passagem entre futuro e passado, rompe a continuidade do fluxo do tempo, e deste limite faz uma fissura. O conteúdo é irrelevante: quer o eu delibere, esteja aborrecido ou angustiado, todo ciclo de motivos ou de provações é indefinidamente reversível. Na deliberação, a idealidade dos motivos, no tédio, o vazio indeterminado, na angústia, a vertigem, todos concordam nisto: que não há nada. O seu agora é, de fato, o de um estabelecer. Mas neste estabelecer não há onde ser.

original

  1. V. von Weizsäcker, ibid., p. 186.[↩]
  2. W. Bröcker et J. Lohmann, Comment définir la phrase ? in : Lexis 1, 1948, p. 35.[↩]
  3. Ibid., p. 35.[↩]
  4. Emile Benveniste, Problèmes de linguistique générale, Paris, 1966, p. 154.[↩]
Excertos de

Heidegger – Fenomenologia e Hermenêutica

Responsáveis: João e Murilo Cardoso de Castro

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