Entrementes, a existência dessas impressões perceptivas redunda num grave problema. Ao levantar a questão de saber em que sentido o conhecimento do mundo poderia ser dito objetivo, Descartes respondeu que só há uma ideia clara e distinta do mundo material, a saber, a da extensão. Era o terreno em que se moviam as ciências naturais, e por isso a resposta de Descartes equivalia a privilegiar a experiência das ciências naturais. O mesmo se diga de Locke, para quem só as qualidades primárias das coisas seriam objetivas.
A fim de explicar a existência de impressões perceptivas, os psicólogos, por sua vez, deixaram-se levar pela admiração dos resultados científicos, tratando todos os conteúdos da consciência com o mesmo método que o físico empregava para a matéria, ou seja, a redução dela a seus últimos elementos. O psicólogo, pois, deveria proceder de igual maneira com os conteúdos mentais. Assim é que uma impressão-casa ou uma impressão-planta precisariam ser decompostas em elementos. Estes, pensava-se, haviam de encontrar-se na sensação elementar, causada por estímulos físicos com força mensurável, que exercem, unilateral e fisicamente, uma causalidade determinante sobre a sensibilidade. Pela ligação acumulativa das sensações causadas por inúmeros estímulos físicos elementares, — ligação explicada pelo mecanismo da associação — constrói-se afinal uma impressão-casa ou impressão-planta.
Outros julgaram que essa maneira de falar sobre as sensações ainda não era bastante “científica”. Pensaram em só poder falar “cientificamente” quando não se referissem mais à percepção, mas a condutos nervosos, processos cerebrais etc. Julgou-se, pois, que só era possível uma psicologia da sensação se o psicólogo esquecesse o que lhe interessava propriamente, a fim de dedicar-se mais à fisiologia.
{[LUIJPEN, Wilhelmus Antonius Maria. Introdução à fenomenologia existencial. Tr. Carlos Lopes de Mattos. São Paulo: EDUSP, 1973]}