tempo

Zeit significa “tempo”. O adjetivo zeitlich, “pertencente ao tempo, temporal”, também possui o sentido de “transitório”. Heidegger também utiliza Zeitlichkeit, “temporalidade”. “Oportuno” e “oportunidade” possuem o sentido de “(estar) a tempo, em (bom) tempo, no momento certo”, um sentido que não está presente em zeitlich(keit), seja um seu uso ordinário, seja no uso que Heidegger faz do termo. Ainda assim, “temporal, temporalidade” são traduções adequadas, já que 1. seu sentido não diverge mais da zeitlich(keit) no sentido de Heidegger do que diverge a zeitlich(keit) no sentido usual; 2. ele utiliza outras palavras com mais direito a serem traduzidas por “temporal(idade)”: o neutro zeithaft, “pertencente ao tempo” (SZ, 327) c sobretudo a palavra de origem latina temporal e Temporalität, em contraste com zeitlich(keit). Somente DASEIN é zeitlich no sentido de Heidegger; outros entes, tradicionalmente considerados como zeitlich, são innerzeitig, “intratemporais”. Innerzeitigkeit, “intratemporalidade”, está para a Zeitlichkeit assim como “intramundanidade” está para o “ser-no-MUNDO”. A Temporal(ität), por sua vez, refere-se ao ser, não a Dasein nem a qualquer outro ente (SZ, 19).

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Tempo e espaço não são co-ordenados. O tempo é anterior ao espaço. A oportunidade de Dasein torna possível a sua espacialidade (st, 367ss; GA3, 200). Como temporalidade o tempo é responsável pela individualidade de Dasein: “O tempo é sempre o tempo no qual ‘é tempo de fazer algo’, no qual ‘ainda há tempo’, ‘não há mais tempo’. Enquanto não nos dermos conta de que o tempo é apenas temporal, que ele satisfaz a sua essência quando individualiza cada homem para si mesmo, a temporalidade como a essência do tempo nos permanecerá velada” (GA31, 129). Dasein compreende o ser em virtude da sua temporalidade e em função do tempo. Ademais, a análise de Dasein e da sua temporalidade são prelúdio para uma compreensão filosófica do ser em função do tempo, planejada para ocupar a terceira seção da Parte I de SZ, que ficou faltando (SZ, 17): “O ser é, tanto na compreensão comum do ser quanto no explícito problema filosófico do ser, compreendido sob a luz do tempo”. Se nos perguntarem o que é uma mesa, diremos que é um utensílio. Se nos perguntarem o que é um triângulo, diremos que é uma forma. Se nos perguntarem o que é o ser, descobriremos que não há um conceito mais geral disponível. Tradicionalmente, os filósofos compreenderam o ser em função do pensamento e do LOGOS (GA65, 183). Isto levou à concepção do ser como vigência, já que, p.ex., o que eu penso é atual para mim (GA65, 200). Não apenas o pensamento, mas outros contrastes com o ser — tornar-se, aparência, ter de — levam de volta à ideia do ser como vigência constante (GA40, 154). Mas esta ideia só pode ser compreendida sob a luz do tempo (GA40, 157ls; GA31, 109). Precisamos explorar o tempo para compreender não apenas o modo como Dasein abre um mundo de entes, inclusive a si mesmo, mas também o que os filósofos disseram, ou deixaram de dizer, sobre o ser.

No período de SZ, “a alma, o espírito, o sujeito do homem são o sítio do tempo” (GA31, 121). Posteriormente, à medida que o homem retira-se do centro do pensamento de Heidegger, o tempo torna-se mais importante do que a temporalidade. O tempo é unificado com o espaço em TEMPO-ESPAÇO.