Noema (Noème)/Noese (Noèse)/Hylé: Nas Idées directrices, Husserl distingue, por um lado, os componentes reais da consciência (a hylé e a noese), que pertencem à esfera de imanência real e são vivências, e, por outro, o noema, que pertence apenas à esfera de imanência pura da consciência.
A noese (do grego noûs, “espírito”)
É o que anima os data sensíveis, conferindo à hylé (puro material bruto) o estatuto de aparecer de um objeto. Essa animação permite à hylé acceder a uma dimensão ostensiva ou figurativa. Graças à noese, a hylé torna-se aspecto de algo: por exemplo, o vermelho como evento sensorial imanente transforma-se no vermelho como aspecto do objeto — o vermelho do arco-íris. Assim, só por ser animada por uma noese é que a hylé adquire o estatuto de aparecer em sentido pleno, isto é, como aparecer de algo.
A noese é, portanto, o momento da consciência propriamente dita. Um ser que tivesse apenas o momento hilético não seria, em sentido estrito, dotado de consciência. Embora a hylé seja um componente real da consciência e até condição do aparecer, a consciência só começa verdadeiramente com a consciência noética — ou, como dizem as Meditações Cartesianas, com a cogitatio, que tem como correlato um cogitatum. A caracterização do vivido psíquico como ato não contradiz, pois, o papel da hylé: embora a hylé não seja em si intencional, ela é sempre concebida como animada por intenções. O caso imaginado por Husserl de uma “quase-consciência” composta apenas de afecções hiléticas, sem nenhuma intenção animadora que as interprete objetivamente, corresponderia apenas a um corpo inerte, desprovido de qualquer vivência psíquica.
Em suma:
– Hylé: matéria bruta da experiência (sensações não intencionais).
– Noese: ato intencional que anima a hylé, conferindo-lhe sentido.
– Noema: o objeto tal como é visado — o correlato intencional da consciência.
Essa tríade estrutura a análise husserliana da intencionalidade, mostrando como a consciência transcende o imanente para se referir ao mundo.