Einsamkeit, solidão, solitude, loneliness
Essa “solidão mais solitária” (einsamste Einsamkeit) subsiste antes de e para além de toda diferenciação (Unterscheidung) entre eu e tu, de toda diferenciação entre eu e tu de um lado e “nós” de outro, assim como de toda diferenciação entre indivíduo (Einzelnen) e sociedade (Gemeinschaft). Nessa solidão mais solitária não há nada similar a uma singularização (Vereinzelung) que possa ser tomado como um isolamento (Absonderung). Ela aponta sim muito mais para aquela singularização que precisamos conceber como a apropriação (Vereigentlichung) autêntica, na qual o homem se torna próprio em seu si mesmo (Selbst). O si mesmo e a propriedade (Eigentlichkeit) não são o “eu”, eles são aquele ser-aí no qual se funda a relação do eu com o tu, do eu com o nós e do nós com o vós. É só a partir dele que essas relações podem e precisam ser pela primeira vez controladas, se é que elas devem constituir uma força (Kraft). No ser-si-mesmo (Selbstsein) é colocado em decisão (Entscheidung) que peso (Gewicht) as coisas (Dinge) e o homem (Menschen) têm, com que balança (Waage) esse peso é medido e quem é aquele que faz a pesagem (Wäger). (GA6T1:275-276; GA6T1MAC:213)
Frequentemente os habitantes da cidade ficam admirados com o longo e monótono isolamento (Alleinsein) dos camponeses entre as montanhas. Mas não é isolamento, é solidão (Einsamkeit). Nas grandes cidades, o Homem pode com facilidade ser tão só como dificilmente estaria em qualquer outro lugar. Mas lá ele nunca é solitário (einsam). Pois, a solidão tem o poder (Macht) específico não de nos isolar (vereinzelt), mas o de projetar todo ser-aí (Dasein) na proximidade da ampla essência de todas as coisas (Nähe des Wesens aller Dinge). (GA13:11; HEIDEGGER, Martin. “Paisagem Criativa: por que permanecemos na província?”, pp. 276-7, 1933. “Ideias”. São Paulo: Campinas, n. 9 | nova série |, 2° semestre de 2014. Tradução de Maria Assumpção Rodrigues e revisão técnica de Gabrielle Lipkau.)
VIDE: (Einsamkeit->http://hyperlexikon.hyperlogos.info/modules/lexikon/search.php?option=1&term=Einsamkeit)
solidão
“O que aconteceria se um dia um demônio (Dämon) te seguisse furtivamente… em tua solidão mais solitária” (einsamste Einsamkeit); o pensamento (Gedanken) não surge nem a partir de um homem (Mensch) qualquer, nem se dirige a um homem qualquer em seu estado e em seus negócios mais arbitrários, cotidianos, ou seja, esquecidos de si. Ao contrário, ele advém – em sua “solidão mais solitária”. Onde e quando se dá tal solidão? Será que ela se dá quando o homem não faz outra coisa senão se retrair, quando não se coloca senão de lado e só se ocupa com o seu “eu”? Não, a solidão mais solitária se dá muito mais quando ele é totalmente ele mesmo; quando se encontra nas relações essenciais de sua existência histórica em meio ao ente na totalidade (Seienden im Ganzen).
Essa “solidão mais solitária” subsiste antes de e para além de toda diferenciação entre eu e tu (Unterscheidung des Ich vom Du), de toda diferenciação entre eu e tu de um lado e “nós” de outro, assim como de toda diferenciação entre indivíduo (Einzelnen) e sociedade (Gemeinschaft). Nessa solidão mais solitária não há nada similar a uma singularização (Vereinzelung) que possa ser tomado como um isolamento (Absonderung). Ela aponta sim muito mais para aquela singularização que precisamos conceber como a apropriação autêntica (Vereigentlichung), na qual o homem se torna próprio em seu si mesmo. O si mesmo (Selbst) e a propriedade (Eigentlichkeit) não são o “eu”, eles são aquele ser-aí (Da-sein) no qual se funda a relação do eu com o tu, do eu com o nós e do nós com o vós (Bezug des Ich zum Du und des Ich zum Wir und des Wir zum Ihr). É só a partir dele que essas relações podem e precisam ser pela primeira vez controladas, se é que elas devem constituir uma força (Kraft). No ser-si-mesmo (Selbst-sein) é colocado em decisão (Entscheidung) que peso (Gewicht) as coisas e o homem têm, com que balança (Waage) esse peso é medido e quem é aquele que faz a pesagem (Wäger). O que aconteceria se um demônio te seguisse em tua solidão mais solitária e te colocasse diante do eterno retorno do mesmo (ewige Wiederkunft des Gleichen): “A eterna ampulheta da existência sempre será novamente invertida e tu com ela, poeirinha da poeira (Stäubchen vom Staubeh)!” (GA6T1:243-244; tr. Casanova:GA6MAC:191-192)